O poder da educação: uma garota maior que o governo

Em 2004 houve uma das maiores catástrofes naturais da história moderna: O Tsunami do Oceano Índico, causado por um terremoto de 9.3, onde ocorreram cerca de 230 mil mortes nos 14 países afetados, desalojou aproximadamente 1,5 milhão de pessoas e causou bilhões de dólares em danos e prejuízos para as nações afetadas.

Nesta mesma área onde ocorrera esse tsunami, ocorrências semelhantes repetiram-se em 1797, 1833, 1843 e 1861. Em 1833, o tsunami de Krakatoa provocou a morte de quase 40 mil pessoas.

Um terremoto seguido de tsunami no Chile em 1960 causou a morte de 6 mil pessoas. Instalou-se, então, um conjunto de sensores de grande alcance no Oceano Pacífico a fim de prever e alertar as populações costeiras sobre tais sismos e ameaças, mas nada parecido foi construiu no Oceano Índico. Os governos da região, claro, se opuseram à proposta.

A indonésia, o país mais afetado pelo tsunami devido a proximidade do epicentro do terremoto, pouco podia fazer para tentar minimizar a catástrofe. Porém, outros países distantes, como o Sri Lanka onde houve 35 mil mortos, na Índia com aproximadamente 15 mil, 8 mil na Tailândia e mais mil em lugares mais distantes, podiam ter salvo essas aproximadamente 60 mil pessoas se tivessem um sistema de alerta e análise das placas tectônicas no Oceano Índico.

A partir do início do terremoto as ondas demoraram até duas horas para chegar às ilhas turísticas de Phuket, na Tailândia, e ainda mais para chegarem no Sri Lanka. Sendo que não seria necessário mais do que 10 minutos para esvaziar uma praia.
Os japoneses, os mais atingidos por tsunamis que qualquer outro povo do Pacífico, tem um sistema de alerta de três minutos e se consideram capazes de evacuar áreas costeiras em dez minutos. Ainda assim houve 239 mortos quando a enorme onda atingiu Hokkaido, em 1993. Mas esse número relativamente pequeno pode demonstrar como esses sistemas de alerta podem ser eficazes.

Anos antes da tragédia, um meteorologista tailandês afirmou que o complexo de resorts em Phuket poderia ser excepcionalmente vulnerável caso outro tsunami atingisse o litoral. Ele sugeriu a instalação de sensores e alarmes nos hotéis e recomendou ainda que se construíssem prédios mais afastados da praia. (Os custos para a instalação dos sensores não seriam maiores que US$30 milhões, custo muito pequeno comparado aos bilhões em prejuízos causados pela catástrofe e as vidas que poderiam ter sido salvas.)*

Por levantar tal problema, o meteorologista foi transferido para outro departamento sobre o pretexto do governo de que a simples menção a tsunamis poderiam afastar os turistas. Esses detalhes são muito bem descritos no livro Tsunami: The World’s Most Terrifying Natural Disaster, de Geoff Tibballs.

Tilly Smith, uma britânica de, na época, apenas 10 anos, teve uma atitude melhor.
Tilly estava de férias com a família em Ami Khao Beach, no norte de Phuket, na Tailândia, quando percebeu sinais estranhos no mar.

Eu não sabia o que era um tsunami, mas ver sua filha tão assustada leva-a a pensar que algo sério deveria estar acontecendo”

Penny Smith – Mãe de Tilly

Algumas semanas antes, na escola, em Oxshott na Inglaterra, seu professor de geografia mostrara vídeos de um tsunami de 1980, explicou o fenômeno, as causas e como reconhecer um. A mãe descreve o que aconteceu logo em seguida:

Tilly disse que tinha estudado aquilo na escola. Falou sobre placas tectônicas e sobre terremotos submarinos, à medida que ficava cada vez mais histérica. No fim ela gritava pra que todos saíssemos da praia.”

Tilly Smith discursando nas Nações Unidas, na campanha para destacar a importância da educação. (Novembro de 2005)

Tilly, com apenas 10 anos de idade, salvou mais de 100 pessoas; sua manhã, naquela praia, foi tentar convencer a maior quantidade de turistas a fugirem o mais rápido possível, enquanto a negligência e descaso de governos não pouparam ninguém. Poderia ter sido salvo mais de 60 mil pessoas caso tais governos tivessem sido mais prudentes e diligentes.

Esse é só mais um exemplo sobre a necessidade de policiamento das prioridades de governos, sua gestão e, demonstrar principalmente, a importância da educação e do conhecimento diante o poder que indivíduos têm de fazer a diferença, melhor que governos inteiros.

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
Yogh - Especialistas em WordPress