Aquela palavra. Ah, aquela maldita palavra… Termo mais surrado que meio-campista jogando contra o Felipe Melo: NEOLIBERALISMO. Defini-lo é um tanto quanto difícil e saber quem o usa com a devida propriedade? Praticamente impossível. Pois bem, crianças. Vou fazer o papel do professor de economia e explicar o que é esse tal de neoliberalismo!
Neoliberalismo: nunca vi, nem comi. Só ouço falar!
Em princípio, neoliberalismo pode significar a preferência pelos mercados em relação ao governo, a preferência pelos incentivos econômicos em relação às normas socioculturais ou a preferência pelos empreendimentos individuais em relação à ação coletiva. O rótulo “neoliberal” é aplicado a uma ampla gama de figuras e fenômenos da história: Pinochet? Neoliberal. Thatcher? Neoliberal. Reagan? Neoliberal. Partido Democrata sob o governo Clinton? Neoliberal. New Labour na Grã-Bretanha? Neoliberal. Abertura econômica chinesa? Neoliberal. Reforma do Estado de bem-estar sueco? Também é neoliberal. Isso sem falar no FHC, neoliberalismo puro. Bolsonaro? Idem.
Percebe-se que a palavra é usada como um guarda-chuva. Sob ela está tudo que tem alguma conexão com liberalização, privatização ou políticas de austeridade. O neoliberalismo é o dito culpado pela crescente desigualdade econômica, pela perda dos valores políticos e pela insurreição do populismo mundo afora.
Quem são os neoliberais?
Parece que vivemos na era do neoliberalismo, correto? Mas… quem são os neoliberais? Se nem o próprio “neoliberal-mor”, Fernando Henrique Cardoso, admite ser um deles, tampouco saber o que é isso, quem são eles? Bem, se você voltar aos EUA da década de 80 vai encontrar alguns indivíduos que se autointitulam neoliberais. Charles Peters, Bill Bradley, Gary Hart ou Paul Tsongas. Reconhece algum desses nomes? Muito menos eu. James Fallows? Michael Kinsley? Lester Thurow? Nunca nem vi, meu amigo. Só que, olha aqui o pulo do gato, esses neoliberais eram liberals, sim, caras do partido Democrata. A diferença é: eles não eram favoráveis aos sindicatos ou ao governo “gastão”, muitos menos contrários aos mercados e ao setor militar.
Na década seguinte o neoliberalismo estourou. Mas acabou associado com coisas que pouco tinham a ver com seu uso passado. O termo passou a simbolizar a desregulamentação financeira — que resultou na crise de 2008 — e a globalização econômica — consequência das novas práticas comerciais e financeiras pós-90. Sendo assim, financeirização e globalização se tornaram a bola da vez do neoliberalismo atual.
Ok, f*da-se. Eu admito: o neoliberalismo existe!
Embora seja um conceito volátil, cuja defesa não é feita de forma explícita, o neoliberalismo, segundo Dani Rodrik, não pode ser descartado como algo irrelevante ou irreal. Alguém é capaz de negar que o mundo passou por uma importante guinada em direção aos mercados após a década de 80? Seja dentre os políticos do Partido Democrata americano ou socialistas e social-democratas europeus, os “credos neoliberais” foram difundidos. Desregulamentação, liberalização financeira, o afã pelo esforço do indivíduo, o que seja.
O problema dos opositores do dito neoliberalismo é: os opositores do neoliberalismo acabam, muitas vezes, criticando-o de forma atabalhoada. Via de regra, não sabem ou não entendem de assuntos econômicos. Talvez isso se dê em razão do significado vago da palavra? Uma boa hipótese. Não tem nada de errado com os mercados, com a iniciativa privada ou com os incentivos econômicos — desde que sejam empregados adequadamente.
As maiores conquistas econômicas dos nossos tempos foram diretamente influenciadas por essas coisas rotuladas como neoliberalismo. Durante muito tempo a visão de mundo da humanidade foi governada pela mitologia. Hoje aparenta ser governada pela ideologia. Quando nos deixamos cegar pelos “-ismos” nossas escolhas acabam limitadas às receitas de bolo. Com certeza isso não é o suficiente para viver no século XXI. As dicotomias do século passado, por exemplo, não passam disso: simples de fazer e fáceis de repetir, às vezes, exaustivamente. E você? Já foi xingado de neoliberal hoje?