Swap cambial [‘suapi]: expressão oriunda de fenômeno conhecido como estrangeirismo (uso de palavra ou expressão estrangeira que tenha ou não equivalentes), logo ao lado de hedge funds e private equities, e não tão ao lado assim de fast food e delivery. Sua presença em noticiários de cunho econômico pode desencadear sintomas que evoluem de confusão à frustração ou até mesmo profunda irritação. Afinal, o que são esses tais swaps, e como eles podem influenciar minha vida?
Na teoria, swaps cambiais enquadram-se dentro da categoria de derivativos – instrumentos financeiros estabelecidos mediante contratos cujos preços são determinados e variam em função do preço de outro ativo. Em resumo, podemos dizer que um derivativo é um contrato cujo valor deriva de outro ativo, chamado de ativo-objeto (no caso do swap cambial, o dólar). Os derivativos permitem reduzir os riscos embutidos na volatilidade do preço do ativo em questão (no caso, a taxa de câmbio). Ficou mais confuso ainda? Não se preocupe, abaixo explicamos como isso ocorre.
Agora, voltemos à prática e à realidade atual brasileira. Um cenário político-econômico de crescente incerteza aumentou riscos associados ao Brasil e ao Real, afugentando investidores e levando a moeda norte-americana a registrar o maior valor nominal em mais de 12 anos (R$ 3,57). A dinâmica é simples: ao sair do país, investidores trocam seus Reais por dólares, diminuindo a quantidade de moeda estrangeira em circulação; ao mesmo tempo, a maior demanda por dólares eleva seu valor em moeda nacional, no caso, o Real.
Diante desse quadro, o Banco Central decidiu agir para conter a fuga de capitais e uma acentuada e rápida desvalorização do Real. É aí que entram os ilustres swaps cambiais.
Ao estabelecer tais contratos, o BC compromete-se a pagar ao investidor o diferencial de valor observado na moeda estrangeira em relação ao Real, seja esse de valorização ou desvalorização, somado a uma taxa de juros efetiva. Em troca, o investidor paga ao BC o valor da taxa Selic corrente. Desta forma, os swaps funcionam como um seguro para quem quer se proteger de uma forte alta do dólar, desincentivando a procura pela moeda e, assim, impedindo que ela suba mais.
Mas e aquela história de que os contratos de swap cambial ofertados pelo BC funcionam como uma venda de dólares no futuro? Essa explicação é usada, pois na prática é isso que ocorre em caso de queda na taxa de câmbio. Uma vez que o BC se compromete a restituir o investidor com o valor equivalente à desvalorização do Real em determinado período, ao atingir o vencimento do contrato, os dólares usados em tal transação serão análogos a uma operação de venda da moeda estrangeira. No futuro, pagos pelo BC para o investidor.
Agora, resta entender como tais operações complexas no mercado financeiro afetam a sua vida, assim como a minha e a de todos nós. Primeiro, às más notícias. Quanto maior a oferta de contratos de swap, maior parte de nossa reserva cambial estará potencialmente comprometida. Isso acontece, pois, ao atingirem seu vencimento, contratos de swap podem ter seu diferencial pago em dólares ou reais, dependendo da opção do investidor. Caso optem por receber em dólares, o montante usado no pagamento de tais papeis será oriundo do volume estocado pelo país não somente para superar períodos de adversidade (como esse), mas também para aumentar sua autonomia monetária em um sistema de livre fluxo de capitais e flutuação suja.
Ademais, por representarem um passivo no âmbito das contas nacionais, contratos de swap cambial acrescem ao volume da dívida bruta do país, além de seus juros contribuírem para o aumento da taxa média atrelada ao pagamento desta. Sim, aquela mesma dívida que hoje equivale a 63% do PIB e cujo pagamento deu o que falar junto à tal meta do superávit primário.
Porém, ao mesmo tempo, tais títulos ofertados pelo BC costumam ser eficazes em conter movimentos de curto prazo e, principalmente, especulativos no mercado de câmbio, evitando um período de instabilidade financeira. Além disso, a redução de riscos atrelada aos contratos de swap facilita a vida de agentes econômicos mais sensíveis à volatilidade cambial, como importadores de bens de capital (cuja atividade final depende da compra de bens pagos em dólares) ou mesmo exportadores (que, no caso oposto, temem a valorização excessiva do Real). Nesse cenário, os swaps reduzem a volatilidade cambial, criando um horizonte mais estável para agentes produzirem e investirem.
Por fim vale destacar que, apesar de colocarem as reservas cambiais (um importante ativo) em risco no longo prazo, os swaps permitem que o Banco Central as proteja pelo menos no curto prazo, uma vez que, até que os títulos atinjam seu vencimento, toda a operação ocorre em reais.
Se isso tudo ainda não te convenceu de que swaps cambiais podem afetar a sua vida, pense mais uma vez. Pense em sua viagem para Miami, Disney ou NY, ou mesmo em seu sonhado semestre fora para aprender melhor inglês (ou no dinheiro guardado para o mestrado do seu filho em Columbia), no celular novo ou até mesmo no preço do pãozinho que tem o trigo importado. Pois é. Aposto que você mudou de ideia.
Victor Candido (coautor deste artigo)
Notas
[2]http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/faq%206-gest%C3%A3o%20da%20divida%20mobili%C3%A1ria%20e%20opera%C3%A7%C3%B5es%20de%20mercado%20aberto.pdf