Como estamos hoje
O ano de 2017 vai se exaurindo e com isso a sombra de 2018 começa a ocupar todos os debates, estudos, pesquisas, mesas de bar e etc. A economia brasileira emite sinais mais robustos de que a maior recessão já registrada ficou para trás, vista pelo retrovisor, com melhora nas principais variáveis macroeconômicas acompanhadas: i) Inflação em baixo patamar e comportada; ii) queda da taxa de juro; iii) crescimento da atividade econômica, iv) queda da taxa de desemprego; v) contas externas ajustadas; e vi) retomada do crédito.
É bem verdade que não está uma maravilha, mas os primeiros passos (sempre eles) já foram dados. Além disso, é preciso colocar uma grande ressalva sobre a situação fiscal brasileira, ainda é uma bomba relógio, das grandes.
Os sinais emitidos por Brasília nos levaram a crer que o ano, em termos de políticas econômicas relevantes, acabou. Seria uma grande surpresa o Planalto retomar a batalha da Reforma da Previdência, ainda que dissecada, nestes últimos dois meses do ano.
A agenda proposta pela equipe econômica, ainda que por enquanto apenas no papel, é muito positiva. Há o objetivo central de promover o ajuste fiscal, mas também estão sendo estudadas reformas que impactam a produtividade, como melhora do ambiente de negócios, abertura econômica e outras reformas estruturais.
O que os economistas esperam para o próximo ano
No geral, a expectativa para o próximo ano é de que veremos a continuidade da atual tendência das variáveis macroeconômicas.
A inflação tem sido a grande surpresa positiva do ano. Depois de atingir níveis acima do civilizado em 2015 e 2016, a boa política monetária desempenhada pelo Banco Central atual, que retomou a confiança e amarrou as expectativas dos agentes (recomendo ler meu artigo “Banco Central e a inconsistência dinâmica”), conseguiu apresentar patamares historicamente baixos.
O IPCA deve encerrar 2017 muito próximo da banda inferior da meta de inflação vigente, sendo necessário destacar a dinâmica favorável da inflação de alimentos, que não era esperada nessa intensidade por ninguém. Para 2018 não devemos ter tal benefício, mas a firmeza do Banco Central, bem como a elevada capacidade ociosa da economia são fatores que nos permitirão crescer sem gerar uma aceleração inflacionária aguda. O Boletim Focus costuma ser um bom termômetro para a variável, e a mediana do mercado está atualmente em 4,06% para 2018, além de muito bem ancorada para os próximos anos. Esta certamente é uma das maiores vitórias da equipe econômica do governo Temer.
[caption id="attachment_10754" align="aligncenter" width="648"]Bom, surfando no baixo patamar da inflação, o Banco Central viu uma janela de oportunidade para a redução de juro. Juntamente a isso, um cenário externo mais favorável, com baixo nível de juro nas economias desenvolvidas (que não devem retomar aos patamares verificados antes da adoção das recentes políticas monetárias não convencionais a partir da crise de 2008 – ver Quantitative Easing), estabelece os fundamentos para uma redução da taxa de juro brasileira para níveis historicamente baixos.
As estimativas mais confiáveis da taxa de juro neutra da economia, além de pesquisas feitas pelo Banco Central, sugerem que a taxa brasileira de equilíbrio está próxima de 5,0%. Portanto, o juro real ex-ante atual que está próximo de 3,0% é um juro que estimula a atividade econômica – ou seja, estamos numa política monetária claramente expansionista. Não devemos ver a autoridade monetária indo muito além desse nível, dado a expectativa de crescimento econômico. Somente após a adoção das principais reformas que atacaram a crise fiscal, bem como outras similares a aprovação da TLP (Taxa de Longo Prazo), é que conseguiremos abaixar ainda mais o juro natural brasileiro e assim também derrubar ainda a taxa Selic de forma sustentável, fazendo com que nos aproximemos do mundo civilizado.
[caption id="attachment_10755" align="aligncenter" width="648"]Quem acompanha conjuntura econômica sabe que algumas projeções ilustradas no Boletim Focus do Banco Central ficam meio “atrasadas” em relação aos principais modelos do mercado. O caso do PIB é emblemático, sempre defasado em relação às projeções mais afinadas dos melhores departamentos econômicos do país. Todavia, me parece que a situação agora é exatamente o oposto: O boletim Focus ilustra números mais palpáveis do que tais casas.
Pipocam aqui e acolá projeções para o PIB brasileiro acima de 3,0%, alguns próximos de 3,8%. Tal resultado exigiria uma retomada da atividade num ritmo muito maior do que a verificada até então, similares apenas a períodos de muita bonança e estabilidade, ignorando qualquer estresse que as eleições de 2018 podem causar nos agentes. Está tudo meio nebuloso por enquanto no cenário político.
O intervalo entre 2,4-2,8% parece mais razoável, ficando muito bem dentro dos bons modelos que utilizam hipóteses críveis para a confiança dos agentes, cenário externo, juro e o nível de incerteza. Na última leitura, do dia 23/10, o Focus mostrava uma projeção mediana do mercado em 2,50%, o que deve sofrer alterações mais fortes somente no início de dezembro quando teremos a divulgação oficial do PIB do 3º trimestre.
O fato maior é que a mais longa e intensa recessão passou, e a retomada lenta, gradual e turbulenta está em curso. Para os próximos anos, ocupada toda a ociosidade, o cenário não é animador. O potencial de crescimento está muito baixo, o que exige uma agenda de reformas muito mais intensa e duradoura do que a de ajuste fiscal que vivemos atualmente.
[caption id="attachment_10756" align="aligncenter" width="648"]Nessa salada das variáveis macroeconômicas, aquela que por vezes mais importa para a população não pode ficar de fora: a taxa de desemprego. Após o governo afastado conseguir elevar a taxa de desemprego de seu menor nível histórico para o seu maior em apenas dois anos, fica clara que sua tendência é baixista.
Utilizando as defasagens apropriadas, e o cenário descrito acima, a taxa deve seguir essa trajetória até algo próximo de 11,8% a 12% no fim de 2018. O nível ainda é muito alto, o que reflete o nível de incerteza vigente na economia até a conclusão das eleições. Somente após estas é que os empresários terão maior firmeza para fazer seus investimentos e contratações, sendo importante ressaltar o fato de que a recomposição do mercado de trabalho será mais lenta do que foi a sua destruição (ver “Mesmo com fim da recessão, desemprego continuará subindo”).
O nível ainda elevado do desemprego será um dos entraves para um crescimento mais vigoroso, muito embora outras variáveis condicionantes do consumo estejam em trajetória mais positiva.
[caption id="attachment_10757" align="aligncenter" width="648"]Por fim, na questão fiscal, os dados da Instituição Fiscal Independente (de sigla IFI, instituição ligada ao Senado Federal) apresentam os números mais confiáveis para o próximo ano. Com projeções de atividade muito próximas àquelas apresentadas pelo Boletim Focus, o IFI projeta um déficit primário ainda significativo para o 2018 em seu cenário base, o que levaria a Dívida Bruta para o nível de 79,3% do PIB.
Para os próximos anos, cabe destacar que o IFI projeta que a Dívida cresça até 93,5% do PIB em 2025, voltando para 86,6% em 2030 – patamar superior ao nível de hoje. Quando se olha esses números fica claro que apesar do Teto de Gastos ter sido uma ótima medida, a Reforma da Previdência faz-se mais urgente do que nunca.
[caption id="attachment_10758" align="aligncenter" width="648"]Esse é o desenho para a economia brasileira no próximo ano. Certamente as maiores surpresas ficarão na política, onde a criatividade do brasileiro é ilimitada. É importante ficarmos de olhos abertos nas principais propostas dos candidatos, pois os humores do mercado vão se alterar muito refletindo as mesmas.
Uma boa campanha, com propostas saudáveis de política econômica irão ajudar na dinâmica de 2018 e dos próximos anos, mas é bem provável que as principais agendas serão ocultadas dos debates (vale a pena conferir “Como ganhar uma eleição presidencial em apenas 10 passos”). Seguimos monitorando.
Arthur Lula Mota
Editor do Terraço Econômico