Qual poderia ser o preço da gasolina se não houvesse congelamento?

A Petrobrás anunciou no dia 14/10/2016 que haverá uma redução nos preços de seus combustíveis [1]. Porém, onde será que eles estariam caso não tivesse ocorrido política de congelamento [2]? Vamos aos dados!

Gasolina é um derivado de petróleo. Então, naturalmente, oscilações de seu preço devem derivar de oscilações no preço da matéria prima, pelo menos em parte. Esse é o histórico mensal dos últimos 15 anos para o preço do barril de petróleo (brent), em reais:

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Fonte: Index Mundi (valores multiplicados pelas cotações mensais do dólar obtidas no site do Banco Central do Brasil). Elaboração própria.

Neste mesmo período, eis os preços da gasolina nos EUA e no Brasil. A diferença entre os preços praticados nos dos países se dá, dentre outros motivos, pelo acompanhamento dos preços do petróleo por lá e uma espécie de congelamento de preços por aqui. Entram nesta conta também outros fatores como os custos logísticos, de estrutura e refino, mas ainda assim a diferença notada é sensível. Vejamos os dados (já colocados ambos em R$/L):

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Fonte: ANP (gasolina comum brasileira) e Index Mundi (gasolina comum do Texas, convertida de US$/Galão para R$/Litro). Elaboração própria.

Veja que, enquanto a gasolina dos EUA variou por todo o período, a brasileira ficou estacionada nas proximidades de R$2,50/litro por cerca de quatro anos e, após isso, apenas tomou o caminho da subida.

A conclusão de que a gasolina dos EUA se correlaciona com o preço do petróleo não é óbvia. Por isso devemos ver mais dados – ei-los: nos últimos 15 anos, a correlação é alta entre o preço de um e de outro:

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Fonte: Index Mundi.

Respondendo à pergunta título, então: onde estaria o preço da gasolina brasileira caso tivéssemos seguido os preços do petróleo? Segundo esta previsão, nas proximidades de R$2,72! Cálculo utilizado para se chegar aos preços hipotéticos: a partir do início do congelamento de preços brasileiros (segundo trimestre de 2006) foi utilizado como fator de correção mensal dos preços da gasolina 70% da variação dos preços do Brent em R$ para o período (de modo análogo ao que ocorre com a gasolina dos EUA):

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Fonte: ANP (gasolina comum brasileira) e Index Mundi (variações mensais nos preços do brent). Elaboração própria.

Fica no ar o questionamento: valeu a pena segurar o preço por meio de subsídios (que além de terem contribuído para tornar a Petrobras a empresa não-financeira mais endividada do mundo ainda prejudicaram fortemente a cadeia do etanol [3]) e deixar de acompanhar os preços internacionais do petróleo?

Observemos os dois lados da questão:

 – Pelo lado positivo: tivemos a gasolina – e, consequentemente, o álcool – em valor abaixo do que poderia ter sido caso seguíssemos os preços internacionais em boa parte do período, o que pode ser considerado interessante pelo lado do consumidor;

 – Pelo lado negativo: o setor de álcool ficou financeiramente inviável, a Petrobras tem hoje a maior dívida corporativa do mundo (dados também os subsídios para segurar este preço), a inflação sofreu enorme pressão para readequação dos preços e, para completar, hoje temos uma gasolina aproximadamente R$0,85 mais cara por litro do que poderíamos ter, segundo esta simulação (e isso se dá, dentre outras questões, pela necessidade de a Petrobras gerar caixa diante da enorme dívida que acumulou para segurar os preços [4]).

Independente da opinião sobre ter valido a pena ou não seguir por este caminho, a nova política de preços anunciada envolve a ocorrência de reuniões mensais para discussão dos preços – e adequação aos padrões internacionais. A parte boa é que voltaremos ao realismo destes preços (ao menos teoricamente), mas a parte ruim é que partiremos para qualquer aumento ou queda de um preço médio de R$3,60, enquanto poderíamos estar há pelo menos dois anos nos beneficiando de uma queda contínua no valor do combustível. Inquestionável é o fato de que seguir a receita do congelamento de preços pode até representar algo interessante no curto prazo, mas mostra seus efeitos – geralmente danosos – ao longo do tempo.

Caio Augusto – Editor Terraço Econômico

Notas:

[1] http://www.infomoney.com.br/petrobras/noticia/5640209/petrobras-anuncia-reducao-preco-gasolina-diesel-nas-refinarias

[2] São diversas as reportagens, mas algumas delas estão nos seguintes links: https://mansueto.wordpress.com/2014/03/03/a-politica-equivocada-do-reajuste-dos-precos-dos-combustiveis/

http://extra.globo.com/noticias/economia/ometto-critica-politica-de-precos-de-combustiveis-12513403.html

http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/gasolina-preco-congelado-cria-distorcoes-na-economia-374409.html

http://carros.uol.com.br/colunas/alta-roda/2012/08/28/petrobras-errou-ao-congelar-preco-da-gasolina-e-producao-do-etanol.htm

[3] http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/03/1425955-subsidio-a-gasolina-prejudica-etanol-e-petrobras-diz-especialista.shtml

[4] http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,necessidade-de-fazer-caixa-impede-petrobras-de-importar-deflacao,1753158

Fontes dos gráficos

Histórico do Brent e da Gasolina nos EUA, ambos em dólares (e gráfico comparado de variações) http://www.indexmundi.com/pt/pre%E7os-de-mercado/?mercadoria=petr%C3%B3leo-bruto-brent&meses=180&mercadoria=gasolina

Histórico gasolina comum brasileira: ANP http://www.anp.gov.br/?pg=70969&m=pre%E7o%20

Cotação do dólar: Banco Central do Brasil http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/n/txcambio

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.
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