O termo pedalada fiscal é ruim. Ele faz alusão a um drible do futebol. Parece uma malandragem boba. Não é. Trata-se de um crime grave. Que mata.
Falar de economia e direito pode ser chato. Mas ás vezes a gente precisa para entender o que está acontecendo.
Quando o governo “pedala” ele pede empréstimo para um banco controlado por ele, e que portanto, não pode dizer não. É igual quando eu pego um pedaço do ovo de páscoa das minhas filhas.
Pedalando o governo gasta mais do que tem. Se ele faz isso em um ano eleitoral, além de tudo, ainda está enganando a população. Tem uma lei que chama isso de crime.
Quando a dívida do governo fica muito alta o país entra em um processo que os economistas chamam de dominância fiscal. É uma palavra difícil para explicar “que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Se o governo aumenta os juros para conter a inflação, a dívida dele (que também é atrelada a taxa de juros) fica impagável, ai só resta ao governo imprimir moeda para pagar sua dívida, o que causa mais inflação. É o horror. O país está na beira desse abismo.
Junto com a inflação, essa situação impede o governo de investir. Os investidores privados também preferem não arriscar, com isso o país não cresce. O que significa desemprego.
Isso não afeta apenas a classe média, que não pode mais comprar cremes na Victoria Secrets em Miami. Significa um empobrecimento geral, tristemente concentrado naqueles que já são mais pobres.
E pobreza, para quem não sabe, mata. A Unicef estima que a cada 4 SEGUNDOS uma criança morre no mundo devido a pobreza.
Percebe que crime não é só quando alguém dá um tiro em outra ou enche a cueca de dólares (não que ambos também não tenham acontecido durante os últimos 13 anos)?
Então, parafraseando a Janaina Paschoal golpe não é pedir o impeachment por causa das pedaladas. Isso é legítimo. Golpe é pedalar. A vítima é a sociedade, não o governo.
Renata K. Velloso Médica, formada em administração pública, vive e trabalha na Califórnia.