Por que a Bovespa está caindo com o governo Temer?

Economia em Pílula – uma dose rápida de economia no seu dia | por Arthur

A cada notícia ruim para o governo Dilma o Ibovespa subia. No imaginário, parecia haver uma correlação inversa entre o futuro do governo e o desempenho do mercado financeiro do país. A ascensão de Temer à presidência começou a ser fortemente precificada. Desde aquele mês de março, quando havia otimismo exacerbado, um fator estava ajudando nossos mercados: o mercado externo.

A turbulência de início de ano no mercado internacional, com a elevação do temor de uma desaceleração mais forte da China e a paralisia do processo de normalização da política monetária americana (elevação de juros) elevava os riscos dos mercados estrangeiros e deixava o Brasil uma ilha mais atraente de se atracar. É bem verdade que a decadência evidente do governo que estava instalado ajudava no “otimismo’.

Tão logo as medidas de volatilidade começaram a assustar (como o índice VIX, chamado “índice do medo”), alguns países e blocos se viram obrigados a adotar políticas expansionistas (com o aumento dos chamados Quantitative Easing), aumentando a liquidez mundial (e com pouca eficácia no combate da deflação). Concomitantemente, a indústria americana continuava apresentando resultados ruins o que segurava a caneta de Janet Yellen e seus companheiros do FOMC (espécie de COPOM do Federal Reserve) quanto à elevação das Fed Fuds Targets.

Pois bem, a neblina dos mercados financeiros começou a diminuir e viu-se que o desempenho econômico dos países não era tão ruim assim, sobretudo nos setores mais ligados ao consumo – dada a robusta recuperação do mercado de trabalho nas economias mais importantes.

Voltando ao mercado doméstico, nos momentos pré-aprovação da análise do impeachment no senado, o Ibovespa subia. Tão logo Michel Temer foi empossado como presidente interino, o Ibovespa começou a mostrar desempenho diferente. A partir de seu primeiro dia de mantado (12/05), o índice começou a cair e o dólar subir.

Mas ele não escolheu um “Dream Team”? O risco fiscal não diminuiu? Ninguém acredita nele? O que houve?

O fato é simples: nesse meio tempo os indicadores antecedentes americanos melhoraram muito, a confiança do consumidor subiu e os resultados do varejo e da inflação surpreenderam positivamente. Isto fortaleceu o cenário de recuperação vigorosa da economia americana e, portanto, maior pressão inflacionária. Desta forma, fortalece também o cenário de aumento da taxa de juros americana num futuro mais breve.

Os títulos americanos são os mais seguros e quando a taxa de juros lá é aumentada, fluxos de capitais do mundo todo vão procurá-los, causando uma onda de depreciação de moedas em toda a economia global, inclusive no Brasil.

[caption id="attachment_6823" align="aligncenter" width="661"]cambio Fonte: Bloomberg[/caption]

Fora os impactos inflacionários da desvalorização cambial, isto resulta também numa piora financeira das empresas listadas em Bolsa, muitas delas (como a Petrobras) detêm empréstimos externos e assistem uma piora de seu caixa quando assistem sua dívida crescer dada a variação cambial. Isto impacta nas ações de grandes empresas e no Ibovespa.

[caption id="attachment_6824" align="aligncenter" width="661"]ibov Fonte: Bloomberg[/caption]

Desta forma, a piora do mercado financeiro brasileiro após Temer assumir o governo não está relacionada a sua formação de ministérios ou polêmicas. Está muito mais ligada a melhora do cenário internacional, sobretudo americano, que está “repatriando” recursos aventureiros (os ventures capital de Shakespeare) que estavam no Brasil.

Arthur

Editor Terraço Econômico

Arthur Lula Mota

Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP/ESALQ) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal de São Paulo. Já trabalhou no mercado financeiro, auxiliando mesa de operações de fundos institucionais e departamento econômico com análises macroeconômicas.

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