Por que o nome de Marina Silva não é consenso?

“No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade.” – Albert Einstein

Marina Silva acompanha família de Eduardo Campos no velório do ex-governador. Fonte: Estadão

A semana passada foi bem agitada no mercado financeiro. Gostaria de me ater apenas aos dados econômicos que foram divulgados, as vendas no varejo e o dado de atividade do BC (IBC-Br), que vieram bem fracos e podem ser a confirmação de que já estamos vivendo em recessão. Mas o momento é propício para me aventurar em outro tema e escrever sobre política, eleições, a trágica morte do presidenciável pelo PSB, Eduardo Campos, e a possibilidade (ou não) de Marina Silva o substituir na candidatura.

Em 13 de agosto, mesmo dia em que seu avó, Miguel Arraes, morreu há 9 anos, Eduardo Campos segue o mesmo destino devido à queda da aeronave que estava a bordo. Eduardo estava no auge de sua carreira: era o presidente nacional de seu partido PSB e acabara de deixar o cargo de governador de Pernambuco, muito bem avaliado (76%) [1], para concorrer à presidência da república. Além disso, teve outros cargos importantes, como ministro da Ciência e da Tecnologia no governo de Lula e deputado federal com o maior número de votos em Pernambuco.

Eduardo Campos comemora eleição em Pernambuco em 2006. Fonte: G1

Seu falecimento traz não só consequências políticas, como eleitorais que podem mudar o rumo da corrida presidencial. Pela legislação, a coligação de partidos liderada pelo PSB tem dez dias para indicar um novo candidato. Dessa forma, o partido terá de decidir, neste curto período, por uma entre quatro possibilidades: (1) anunciar Marina Silva como substituta; (2) anunciar outro nome à candidatura; (3 a) desistir de concorrer e apoiar PT ou PSDB; (3 b) desistir de concorrer e não apoiar ninguém. Analisemos cada possibilidade e seu custo político para entender e tentar prever os próximos passos das eleições:

1 – Anunciar Marina Silva como substituta

A escolha natural seria anunciar Marina Silva como substituta de Campos. No entanto, há divergências dentro do partido sobre essa decisão. O maior questionamento é sobre as intenções de Marina Silva e o futuro do partido, já que com a morte de Eduardo Campos, principal membro do PSB, o partido está “acéfalo”. Alguns dirigentes acreditam que a indicação de Marina seria destruir o legado do PSB, pois após as eleições, há grandes chances de Marina Silva registrar sua Rede Sustentabilidade e deixar o PSB.

Além disso, Marina Silva coleciona desafetos. Ela foi contra à aliança com o PSDB em vários Estados, sendo o principal em São Paulo, onde o secretário nacional de Finanças e presidente do diretório de São Paulo, Márcio França teve de atropelar sua resistência para se tornar candidato a vice-governador na chapa do tucano Geraldo Alckmin.

Marcio França e Geraldo Alckmin. Fonte: Brasil247

2 – Anunciar outro nome à candidatura

Devido a essa insegurança dos lideres do PSB, outra possibilidade seria indicar outros nomes da chapa. Renato Casagrande, governador de Espírito Santo, Ricardo Coutinho, governador da Paraíba, Camilo Capiberibe, governador do Amapá, e Wilson Martins, governador de Piauí poderiam ser nomes relativamente fortes. Além deles, os senadores Antônio Valadares (SE) e Rodrigo Rollemberg (DF) e os deputados Beto Albuquerque (RS), Júlio Delgado (MG) e Luiza Erundina (SP) podem estar na lista. Por fim, dois nomes devem também ser incluídos: Márcio França, que atualmente é candidato a vice-governador de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.

Entretanto, o baixo conhecimento desses nomes pela população e o pouquíssimo tempo restante até as eleições diminuem a probabilidade dessa opção ser escolhida. Um nome que até tem um prestígio maior, Márcio Lacerda, poderia concorrer, porém é “cria” de Aécio Neves no Estado de Minas Gerais e suas intenções de romper essa aliança são nulas. Outro nome é o de Márcio França, mas como dito antes, será vice de Geraldo Alckmin e as chances de mudar de ideia são ínfimas.

Marcio Lacerda, “cria” de Aécio Neves. Fonte: Uol

3 – Desistir de concorrer

(a) e apoiar PT ou PSDB

Sem a liderança de Campos, o PSB tornou-se um aglomerado de interesses dispersos. Roberto Amaral, o novo presidente do PSB, tem relações próximas ao PT. Ele foi ministro de Lula e adoraria se recompor com o PT e apoiar a reeleição de Dilma Rousseff. A estratégia sob uma visão política não seria tão ruim no primeiro momento, pois dizimaria as chances de Aécio ir para segundo turno e o partido conquistaria alguns cargos importantes oferecidos por Dilma. Entretanto, o fato do PSB ter lançado um candidato para concorrer à presidente da república deixa claro as intenções do partido de ser protagonista no cenário político e não de coadjuvante na coligação com o PT. Também não podemos esquecer que devido à queda da popularidade da Dilma, o PT teve de reater sua aliança com o PMDB em troca de apoio nas eleições e prometeu vários cargos, deixando à disposição do PSB poucos cargos.

Já a aliança com o PSDB é bem menos provável, já que a certeza de uma vitória tucana, mesmo com o apoio do PSB, seria bem suada.

(b) e não apoiar ninguém

Também poderíamos cogitar esse cenário, porém seria um suicídio político. O partido que almejava ser protagonista no âmbito da política nacional voltaria a estaca zero. Caso o partido optasse por esse caminho ou o de apoiar algum partido, Eduardo Campos estaria muito desapontado e sua morte seria em vão. As chances disso acontecer são baixíssimas e o mote “Não vamos desistir do Brasil” deixado por Eduardo Campos reforça minha opinião.

Eleições com Marina Silva

Marina Silva nas eleições de 2010. Fonte: Gazeta do Povo

Considerando todas as possibilidades, o mais provável e a resposta natural será anunciar Marina Silva como candidata a presidência da República. Segundo a Folha de SP, o PSB já teria um acordo com Marina Silva [2] e ela deve ser oficializada na quarta-feira, dia 20/08 . Em troca da nomeação, ela respeitará acordos regionais que era contra antes, como o caso de Márcio França e incorporará o discurso desenvolvimentista, dando continuidade ao discurso adotado anteriormente por Eduardo Campos. O apoio dos familiares de Campos ajudou a acelerar as negociações [3]. Com ela, a sucessão presidencial mudará sua configuração.

No próximo texto, com mais informações e a proximidade da oficialização de Marina, discorrerei sobre as consequências da possível entrada da nova candidata nas eleições de 2014.

Victor Wong

  [1] http://noticias.uol.com.br/infograficos/2013/12/13/pesquisa-cni-ibope.htm [2] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/180953-psb-sela-acordo-para-lancar-marina-no-lugar-de-campos.shtml [3] http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1500382-irmao-de-eduardo-campos-lanca-marina-a-presidencia.shtml
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