Quando a Micro Determina a Macro?

Benito Salomão

Foi enviado ao congresso a proposta orçamentária elaborada pelo ministério do planejamento que prevê para 2016 um cenário ainda desanimador, embora o anúncio de um déficit primário de R$30 bilhões esteja em consonância com a missão de devolver à gestão macroeconômica do país a transparência, destruída nos 8 anos de excentricidade heterodoxa, é inegável que esta é uma notícia que se coloca carregada de pessimismo, em outras palavras estamos muito longe de viver um fim horroroso, mas muito próximos de viver um horror sem fim.

Por mais crítico que se possa ser, é inegável que o governo esteja fazendo o certo no que tange a tentativa de se restabelecer o Estado de Confiança no seu melhor sentido Keynesiano, entretanto a mera honestidade quanto as dificuldades do momento não serão suficientes para tornar crível a percepção quanto a um futuro melhor que o presente, será necessário ir além.

O ministro Joaquim Levy tem feito um bom trabalho, limitado evidentemente pelas circunstâncias de gerar esforço fiscal em meio a uma recessão trienal, e tolhido de fazê-lo da melhor forma (pelo lado do corte de gastos públicos e ajuste patrimonial em detrimento do aumento de impostos e alíquotas) devido a um desentendimento político que evidencia anos de mágoas de campanhas eleitorais pautadas em golpes baixos, calúnias, e discursos maniqueístas de “nós contra eles” ou “bons contra maus”.

Neste cenário, estivesse o ajuste fiscal dando certo, e o governo sendo capaz de fazer a mísera economia prometida de 1,2% do PIB, o ambiente de normalidade ou civilidade estaria sendo restaurado na sociedade brasileira? Penso que não, a crise setorial que atinge dezenas de setores importantes da economia brasileira nos evidencia que o crescimento puxado pelos investimentos demorará anos, ou até, décadas para voltar a ser uma locomotiva.

É preciso olhar para a microeconomia, um ambiente macroeconômico ajustado não é suficiente quando interferências alocativas que estipulam vantagens para fulano e não para ciclano criam dois efeitos perversos que cerceiam a capacidade de investimentos. O primeiro, saturação de consumo, a teoria microeconômica nos ensina que, consumidores respondem a incentivos, e se em algum momento da história estes incentivos são oferecidos, serão antecipados porções de consumo futuro para o presente, comprometendo desta forma uma trajetória suave para o consumo nestes setores. O segundo efeito, atinge aos produtores, onde uma vez sinalizado que há um sobreaquecimento de demanda, estes alavancam sua capacidade produtiva e criam uma capacidade ociosa.

Quando o ciclo reverte temos dois efeitos, queda nas vendas devido à saturação do consumo e excesso de capacidade, isto nada mais é do que a microeconomia influenciando a macro, neste sentido, seria possível despertar nos empresários uma confiança quanto a um futuro mais prospero? A genialidade de Keynes quanto à influência das expectativas na determinação dos investimentos determinantes do emprego e da renda através da sua formulação da Eficiência Marginal do Capital acabou ofuscada na ignorância dos economistas do governo quanto à importância da microeconomia e da liberdade alocativa desenhada pela Lei de Say e consolidada pela Lei do Equilíbrio Geral Walrasiano, ensinando aos economistas brasileiros que nenhuma teoria é imune a críticas ou absoluta, e simultaneamente, nenhuma teoria é completamente obsoleta.

Benito Salomão

Empresário, Escritor e Economista.

www.benitosalomao.com *As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade do autor
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