Rio 2016 vai dar prejuízo… por quê?

Calma! Todos aqui no Terraço estão se divertindo com as Olimpíadas. Desde a cerimônia de abertura até o ouro da Rafaela Silva, o Brasil está indo muito bem na organização dos jogos.

Mas como somos economistas chatos, precisamos criticar. E a análise não vale só para o evento do Rio, mas para todos os grandes eventos.

Aproveitando o momento olímpico, somos categóricos em dizer que econômica e financeiramente, as Olimpíadas do Rio serão um desastre. E há razões econômicas para concluirmos isso.

Deixando de lado os prováveis casos de corrupção na construção das arenas e da infra-estrutura para o evento, apresentamos aqui 4 motivos pelos quais grandes eventos – incluindo Rio 2016 – dão prejuízo ao país-sede.

  • Processo de candidatura do país/cidade-sede

Tomemos como exemplo as Olimpíadas. O Comitê Olímpico Internacional (COI) precisa realizar o evento a cada 4 anos e então cidades que pleiteiam sediar o evento precisam apresentar um plano inicial ao COI.

Somente para preparar esse plano, oferecer uma visita guiada aos membros do COI (que não utilizam AirBnB, mas dormem em caras suítes nos melhores hotéis do mundo) e fazer aquela maquiagem nos locais por onde os membros do COI passarão, já vai uma grana preta. Logo, para tentar recuperar esse “investimento”, as aspirantes a cidade-sede já tem um incentivo a apresentar um plano melhor que suas concorrentes para ganhar a peleja e colocar esse custinho na conta final.

  • Processo de seleção do país/cidade-sede

Passada a fase de apresentação das cidades ao COI, a próxima rodada é apresentar a candidatura formal e mostrar o que será feito na cidade e entrar no leilão com os concorrentes. Claro que o COI tem suas exigências mínimas – algo parecido com o padrão FIFA – que chegam a ser absurdas, como um mínimo de 40.000 vagas para hóspedes em hotéis (isso em tempos de AirBnB) e 15.000 vagas de alojamento para atletas e delegações.

Tudo isso custa. Mas aqui está o pulo do gato: como as cidades precisam bater suas concorrentes para sediar o evento, há aqui mais um incentivo para exagerar e apresentar novos estádios que serão usados somente durante o evento ou aumentar além do necessário a capacidade hoteleira para que fique ociosa posteriormente. O que vale é impressionar para ganhar o leilão, mas uma hora a conta chega. É a famosa “winner’s curse” [1], que ocorre em outros leilões. Como não se sabe muito qual o retorno do evento esportivo vai dar, o risco é grande e uma vitória nesse leilão pode fazer com que o vencedor pague muito caro por algo que não vai dar lucro…

  • Mensuração do retorno

Complementando a ideia anterior: além do exagero nas candidaturas para bater as cidades concorrentes, o retorno que o evento vai gerar para uma cidade é muitas vezes superestimado.

Na conta do potencial de retorno entram algumas coisas, como turistas que irão acompanhar o evento in-loco, o movimento na economia local com a construção das arenas e da infraestrutura, etc. Porém, muitas vezes o retorno é mensurado erroneamente, por exemplo, sem levar em consideração os turistas que não irão ao local por conta do evento (e seus naturais efeitos como aumento de preços).

Assim, na hora de fazer a conta de quanto pode ser gasto no evento levando em conta o retorno esperado, o “orçamento” já sai inchado. Ai é quase certo que o evento vai dar prejuízo.

  • Orçamento estourado

Para finalizar, mesmo com o orçamento já superestimado levando em conta um retorno irreal, é raro ver algum grande evento ficar dentro do orçamento. Atrasos, acidentes, erros, tudo contribui para que o gasto final fique acima do estimado…muitas vezes muito acima.

O processo de candidatura e seleção da sede, aliado a retorno superestimado e orçamento que insiste e sair do controle são os grandes vilões que fazem grandes eventos esportivos darem muito prejuízo aos países ou cidades que sediam Olimpíadas, Copa do Mundo etc.

Resta entender por que países ainda insistem em sediar tais eventos. Isso sai da nossa especialidade em economia. Muitos dizem que servem para mostrar o país ao mundo, afirmar identidade nacional, entrar no hall da fama das grandes nações…ou por motivos mais escusos, como superfaturar obras e esconder o dinheiro na Suíça. Mas o que fica é: mesmo que não houvesse corrupção, seria bem difícil que os jogos do Rio 2016 dessem lucro.

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Leonardo Palhuca

Doutorando em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg. Interessado em macroeconomia - política monetária e política fiscal - e no buraco negro das instituições. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2018.
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