Um interessante indicador para o acompanhamento do empreendedorismo brasileiro é a taxa de sobrevivência, que mede quantas empresas se mantiveram abertas após um período de dois anos. O estudo divulgado pelo Sebrae em out2016 [1] contém dados até 2014, ou seja, não incorporam os efeitos nocivos da crise econômica para o fechamento dos negócios. Vamos aos números:
[caption id="attachment_8751" align="aligncenter" width="392"]A partir da análise do gráfico, nota-se que a quantidade de empresas que sobrevive após dois anos é relativamente alta no Brasil, considerando que 76,6% delas mantém suas atividades após esse período. Esse número está próximo do observado nos EUA, por exemplo, que foi de 77,4% em 2012, ou de Israel, que é de 67,4%
Importante explicar a subida brusca que ocorreu de 2009 para 2010, ano no qual a taxa de sobrevivência saltou de 55% para 76% (alta de 21p.p.) Em 2010, a quantidade de Micro Empreendedores Individuais (MEIs) aumentou significativamente [2], e como esse porte de empresa possui um taxa de sobrevivência relativamente alta, acabou “puxando” a média para cima. Vamos ver esse mesmo indicador dividido por portes (ou por faixa de faturamento):
[caption id="attachment_8752" align="aligncenter" width="698"]Outros fatores também colaboraram para o aumento da taxa de sobrevivência no período, como: (a) Expansão do PIB, (b) aumento da renda, (c) Queda dos juros e do desemprego e (d) melhorias no ambiente legal, como a expansão do Simples Nacional, criação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e da figura do MEI.
Quanto aos itens (a), (b) e (c), o cenário atual mostra um ambiente inverso: de recessão econômica, redução da renda e aumento do desemprego e juros ainda altos. Assim, como foi dito lá no início, a pesquisa divulgada ainda não nos mostra evidências dos efeitos da crise sobre esse indicador, pois para em 2014. Contudo, na apresentação divulgada, há algumas projeções que dão a pista do que vem nos próximos anos:
[caption id="attachment_8753" align="aligncenter" width="805"]Notem como é evidente o efeito da desaceleração econômica sobre a saúde das empresas recém constituídas. Mesmo no cenário otimista, a redução em 4 anos (até 2018) é de quase 10 pontos percentuais. Marcos Lisboa, presidente do Insper, comentou em recente artigo [3] que uma das causas da nossa baixa produtividade é a permanência (ou sobrevivência) de empresas improdutivas. Graças a nossa complexa rede de tributação e burocracia, não necessariamente a melhor empresa é que a permanece no mercado.
Por último, mas não menos importante, a pesquisa levantou quais eram as características ou perfil das empresas que sobreviviam ou fechavam as portas:
[caption id="attachment_8754" align="aligncenter" width="865"]Interessante notar como o [bom] planejamento e a gestão são fundamentais para a sobrevivência das empresas. Os próximos anos serão de suma importância para identificar se, de fato, o empreendedorismo será a saída para a crise econômica. A ver.
Notas
[1] Ver mais detalhes aqui: https://goo.gl/MOes0J. Nesse link, é possível ter acesso aos estudos anteriores.
[2] Especificamente entre 2008 e 2014, o número de MEI passou de zero para 4,6 milhões de MEI (e chegou a 6,1 milhões em julho de 2016). Em 2009, os MEIs correpondiam a 7,3% do público, e em 2010, passaram a representar 53,4% de todas as aberturas de empresas:
[caption id="attachment_8755" align="alignleft" width="420"]
[3] Ver aqui: http://exame.abril.com.br/negocios/marcos-lisboa-brasil-tem-de-deixar-empresas-ruins-quebrarem/