Desde que a primeira máquina foi colocada em uma fábrica, em plena primeira revolução industrial, 200 anos atrás, fala-se que as máquinas vão acabar com todos os empregos, um a um até o dia que ficaremos completamente sem funções. Mas existe outro lado, pouco discutido: as máquinas criaram e criam novos empregos, na maioria das vezes mais empregos do que aqueles destruídos.
No curto prazo existe uma sensação de que as máquinas estão simplesmente destruindo empregos. Um exemplo interessante é o da datilógrafa que perdeu seu emprego para um computador, uma vez que qualquer pessoa agora pode digitar rapidamente, sem ter que recorrer às pouco práticas máquinas de escrever. Sob a ótica da datilógrafa, um emprego simplesmente sumiu. Porém, isso é meia verdade, já que alguns outros empregos foram criados, como o técnico de informática, e os trabalhadores que antes faziam caras máquinas de escrever agora produzem baratos computadores.
Em um estudo bem interessante da Universidade de Minnesota, utilizando dados do IPUMS-USA (uma extensa base de micro dados), foi montada uma linha do tempo mostrando como houve relativa substituição de postos de trabalhos na economia americana. O gráfico abaixo mostra isso com bastante clareza:
O mais emblemático do gráfico talvez seja os empregos na agricultura, que perderam imenso espaço para outras funções, mas principalmente para empregos do colarinho branco. Uma boa explicação para isso foi a migração de pessoas do campo, que perderam seus empregos para máquinas e técnicas mais eficientes de cultivo, para a cidade onde foram se realocando em outros setores.
Em um primeiro momento parece um movimento perverso, mas não é, pois com a mecanização agrícola foi possível alimentar muito mais pessoas a um custo bem mais baixo. E na média os salários nas cidades são superiores aos do campo, criando assim um movimento virtuoso de substituição entre empregos. Durante todo o período analisado pela pesquisa, setores que perderam empregos e importância relativa tiveram essas perdas mais do que superadas por crescimentos de outros setores.
Interessante notar no gráfico abaixo que os empregos ligados à indústria (colarinho azul) se mantiveram relativamente estáveis desde dos anos 1940. É interessante notar que eles cresceram muito entre as duas grandes revoluções industriais – ou seja: a tecnologia não tirou o emprego, aumentou. Mesmo que algumas funções intra-fábrica passassem a ser feitas por máquinas, o ganho de eficiência e por consequência a queda no preço final dos produtos que acabou impulsionando a demanda por bens manufaturados, aumentou muito o número de indústrias, acelerando assim a geração de empregos industriais.
Vale notar que a economia americana tem um processo de formação de capital humano bastante superior ao nosso. Então os trabalhadores ao longo do tempo vão sendo treinados e a troca de setores acontece frequentemente. É interessante pensar em um processo inter-geracional, o pai trabalhava na agricultura, já o filho na indústria e o neto como advogado, por exemplo. Tudo isso pela dinâmica tecnológica e pelo investimento educacional.
A produtividade também explodiu para o trabalhador americano: o produto médio por hora, cresceu mais de cinco vezes nos últimos 60 anos, mostrando que os ganhos tecnológicos foram muito bem incorporados, como mostra o gráfico abaixo:
Pelo menos até agora os empregos foram sendo realocados entre setores, mesmo com o exponencial crescimento populacional do último meio século. Porém, não podemos inferir muito sobre o futuro com os dados do passado. Martin Ford diz em seu excelente livro “The Rise of the Robots” que os empregos do colarinho branco, os que mais cresceram nos últimos 150 anos, estão ameaçados pela informática e algoritmos de inteligência artificial, basta olharmos como passagens de avião e hotéis são reservados agora, tudo via internet, ao invés do velho agente de viagens. A história não é constante, mas o que vemos até agora é um dinâmico processo de substituição entre setores, que pode ou não acontecer no futuro. Por via das dúvidas, é melhor manter o otimismo.