Para começarmos todos na mesma página, vamos iniciar pelo conceito de Equity Crowdfunding. Equity é o fazer parte de uma empresa, ser sócio, ter ações dessa firma. Crowdfunding é fazer a coleta de recursos de maneira mais ampla, geralmente focando em ter vários apoiadores diferentes com quantias menores de recursos aportados, sendo este todo o real diferencial para o projeto – é o que podemos chamar em bom português de “financiamento coletivo”.
Existem dois tipos de Crowdfunding: o de recompensas e o Equity. A diferença entre os dois é a seguinte: enquanto o primeiro ao receber recursos devolve mimos a quem decidiu participar da campanha e tem foco em projetos específicos (por exemplo o lançamento de uma obra literária), o segundo permite que você em troca do valor que aportar receba participação de uma empresa.
Tendo em vista o perfil mais fragmentado de recebimento de aportes – em menores valores mais com uma quantidade maior de pessoas -, o Equity Crowdfunding costuma ser relacionado com startups, uma vez que nesses casos o financiamento ocorre de maneira mais direta e explicativa. Quase que literalmente nesses casos o “olho no olho” com quem está te vendendo a ideia faz muita diferença. Bem diferente de abrir o home broker e comprar uma ação de uma empresa da qual você dificilmente terá acesso direto à gestão.
Fique atento ao tipo de Crowdfunding para não se arrepender
Todo investimento via Crowdfunding é boa ideia? Como toda boa resposta de economista: depende. O diferencial de se investir em uma startup é que dessa maneira você pode estar em contato mais direto com ideias que podem desembocar em enormes projetos e lucros futuros. Ainda assim, é preciso que você esteja consciente que é necessário determinar o que você está comprando em termos de participação.
Um caso que ficou emblemático no mundo para deixar claro o que isso significa (da importância de você saber o que está comprando) é o da Oculus Rift. A empresa, que em campanha na plataforma de crowdfunding Kickstarter obteve US$2,5 milhões de dólares, foi vendida para o Facebook logo em seguida por US$2 bilhões. Isso acabou pegando mal no mundo do financiamento coletivo porque, no fim das contas, qual seria a necessidade de arrecadar dinheiro coletivamente se a empresa tinha essa outra enorme possibilidade diante de si (de ser comprada por um enorme conglomerado da tecnologia)?
Outro, que lembra pela provável não necessidade real de um financiamento coletivo, foi o da Hamburgueria Zebeléo, que virou piada amplamente na internet brasileira. Dos três que estavam no projeto, um havia acabado de ganhar o prêmio de R$150 mil por ter se sagrado vencedor do programa MasterChef, outro era um empresário razoavelmente bem-sucedido (que comentava inclusive de viagens internacionais que havia feito no vídeo que teoricamente atrairia a atenção para necessidade da doação) e outra era conhecida como um fenômeno jovem dos estudos. O vídeo dá uma dimensão do que a campanha objetivava.
Esses dois casos ilustram a seguinte verdade sobre esse tipo de crowdfunding: só entre nessa, do lado de quem pede recursos ou de quem oferece, se tiver minimamente alguma ligação lógica com a causa. Não é que você não possa ser um sócio apenas interessado no retorno advindo do negócio ou projeto, mas, diferentemente de uma ação em bolsa, aqui o risco está intimamente relacionado de como o negócio pode ir do céu ao inferno (ou vice-versa).
Entrar nessa por mero esporte pode ser o melhor jeito de jogar dinheiro ou a reputação no lixo.
Mercado cada vez mais popular!
Dois fatores fazem com que esse tipo de coisa fique cada vez mais popular em um país como o nosso: os juros baixos e os programas que falam das ideias inovadoras.
O primeiro caso, dos juros, é relativamente simples de compreender: em um país de juro de 1% ao mês no bolso sem muita preocupação, muitos dos projetos interessantes que as pessoas sonhavam em tirar do papel – e que geralmente demandam mais investimento do que sozinhos conseguem dispor – ficavam sempre para amanhã, literalmente porque não compensaria a disputa entre o dinheiro suado e o que trabalhava fácil pra você. Já hoje, com 1% sendo metade dos juros anuais (fora Imposto de Renda e outros que deduzem isso), o dinheiro está escoando para muitos outros mercados que não o da dívida pública.
O segundo caso é um pouco mais específico, mas é possível que o leitor já tenha se deparado também com ele: programas como o Shark Tank (que inclusive tem edição brasileira há alguns anos) mostram, diretamente, como ideias diferentes podem ser tiradas do papel. E esse tipo de programa traz dois conceitos importantíssimos a quem pretende entrar nessa: primeiramente, você precisa conhecer do seu negócio o suficiente pra saber o quanto pagariam por ele (não adianta tirar valuation da cartola, porque quem investe não tem tempo nem dinheiro a perder sem propósito) e, em segundo lugar, se você quiser petiscar, tem que arriscar.
Como investir em Equity Crowdfunding no Brasil?
A Comissão de Valores Mobiliários mantém uma lista ativa de plataformas de investimento colaborativo. O primeiro passo, seria consultar se a empresa que fornece tais oportunidades é regulada pela CVM, por uma questão de segurança do investimento a ser feito.
O segundo passo é entender a fundo da empresa que se quer fazer parte. Não que você vá ser o gestor dela ou executará atividades de alguma natureza, mas convém saber em quais ideias seu dinheiro entraria. Novamente: aproveite a oportunidade que você tem de fazer isso com um “olho no olho” muito mais intenso do que você tem ao abrir o home broker e comprar uma ação.
Um terceiro passo que sugerimos é justamente assistir diversos episódios desses programas que abraçam ideias inovadoras. Não para que você se force a ter ideias tão boas, mas para que verifique na prática que tipo de coisa quem participa desse tipo de investimento (seja solicitando recursos ou ofertando-os) está procurando e como descobrir se o negócio a ser investido é uma boa ideia ou uma barca furada.
A liquidez que o mundo visualiza hoje com os juros baixos aparentemente sendo o novo normal em todo canto é uma oportunidade de ouro para que você invista em ativos reais e em negócios de maneira mais direta, como é o caso do equity crowdfunding. Só não se esqueça que, diferente do mundo pacato de 1% sem esforço que tínhamos por aqui poucos anos atrás, os riscos não só existem como não devem ser desprezados.