Os ventos da mudança chegam às universidades públicas

Por Pedro Lula Mota

Os ventos da liberdade e mudança chegam a todas as camadas da sociedade brasileira, e o fim da hegemonia de apenas uma ideologia de pensamento nas universidades públicas também! Embebido em um ambiente de crise econômica e política, o processo de desconstrução e reconstrução de um novo status quo é latente e virtuoso para sociedade.

Os grupos UNICAMP Livre, UNESP Livre e mais recentemente USP Livre, formados por estudantes de graduação, mestrado e doutorado se mobilizaram essa semana contra a ocupação e paralisação das atividades acadêmicas em suas universidades, questionando, sobretudo, a intransigência e imposição de propostas recorrentes por parte de grupos organizados, muitos desses ligados a movimentos com claros interesses políticos escamoteados por trás de discursos extremistas e inflamados.

Uma das principais reinvindicações dos grupos anti-ocupação é defender a liberdade de expressão e fazer oposição ao antigo monopólio de ideias que há décadas perpassa todo o ambiente acadêmico brasileiro.

Mesmo porque, por mais democrático e plural que o ambiente universitário possa parecer, existe uma espécie de seita, quase que uma religião dogmática, dominante nas principais organizações estudantis (em especial o DCE e CAs). Dentro dessas, integrantes julgam-se herdeiros de um messianismo estranho, segundo o qual a adesão à posições chamadas de “socialismo”, “comunismo”, “movimento”, ou afins, tornam-lhes automaticamente pessoas do bem, aptas a trazer a justiça e a verdade à todos, sendo aceitos por outros asseclas.

Indo mais além, qualquer opinião e ideia contrária é tida como conservadora, reacionária e passível de críticas e até mesmo difamação.

Em seu mais recente protagonismo, os movimentos libertários surgem muito oportunamente, pois a origem de toda essa confusão está no questionamento dos cortes anunciados pelo governo estadual nos repasses às universidades. Na Unicamp, por exemplo, o plano de contingenciamento é da ordem de R$ 40 milhões.

Ora, a conta é simples.

Se no início do ano, as Universidades enviam uma proposta de orçamento com um valor X, mas durante o correr do ano a arrecadação estadual do ICMS é menor do que a projetada– que como sabemos vem caindo vertiginosamente devido à retração da atividade econômica – o repasse terá de ser revisitado. Não existe milagre ou criação de dinheiro.

Os movimentos grevistas, ao invés de propor novas formas modernas de financiamento da universidade, preferem aderir a um proselitismo, alinhado ao sindicalismo de funcionários públicos que tem como único objetivo – o justo, porém inoportuno – o aumento de salários e outros benefícios acima da inflação, inflamado por um discurso de defesa da democracia.

Engraçado que os ditos grupos organizados em prol das minorias não questionam o atual sistema universitário brasileiro, por sua excelência um gerador de desigualdades, no qual pobres ajudam a financiar a educação dos ricos.

Explico: o ICMS, principal fonte de receitas das universidades, tem caráter regressivo. Em economia, um imposto é chamado de regressivo se ele pesar mais para aqueles que têm menor renda, e menos sobre as pessoas que têm renda mais elevada. [1].

Então, o que temos é um imposto regressivo, que onera mais as famílias de baixa renda, para financiar as caríssimas universidades de ponta a que poucos realmente têm acesso, classificadas entre as melhores do Brasil, da América Latina ou até do mundo.

Aproveitando o momento de insuficiência do Estado em prover todas as benesses a esses grupos de interesse, esse sim é um debate que deve ser levantado pelos novos grupos libertários da Unicamp, USP e UNESP: o da modernização da forma de financiamento, da necessidade urgente de se estabelecer mais parcerias com a iniciativa privada (o que pode ser outra grande forma de receita), lançando mão de projetos e convênios que retirem a universidade pública da sua atual bolha e antro de politicagem.

Outro debate urgente, que os grupos libertários poderiam capitanear é a cobrança de mensalidades de acordo com o perfil de renda de cada ingressante, como já é feito em algumas universidades particulares de ponta em países como a França. Como dito acima, já não é mais igualitário reproduzir um sistema de benefícios para estudantes que claramente detém renda suficiente (e mais do que suficiente) para arcar com o custo de um ensino superior de qualidade. É evidente que esse assunto é um tanto quanto indigesto, e de fato não apresenta solução simples, porém em tempos de crise e de grandes mudanças, cria-se a oportunidade perfeita para revermos tais distorções.

Em suma, os novos movimentos, por mais difusos que ainda sejam, por mais iniciais e ainda pouco estruturados que possam parecer, começam a incomodar os velhos interesses prostrados nas universidades públicas desde muito tempo, e isso por si só já é um bom sinal.

Os ventos da mudança estão chegando, e com eles uma onda de renovação e modernização das Universidades deve varrer para os confins da história toda essa ideologia que nos atrasa e não nos deixa progredir como sociedade. Ao futuro!

Pedro Lula Mota, economista pela Unicamp e Editor Terraço Econômico [1] Para maiores informações, consultar blog Thomas Conti: http://thomasconti.blog.br/2014/financiamento-e-perfil-das-universidades-estaduais-de-sao-paulo/ Assinam este texto também: Leonardo Siqueira Arthur Lula Mota Rachel de Sá Victor Cândido

Pedro Lula Mota

Economista pela UNICAMP, como passagem pela Universidade do Porto - Portugal. Admirador da arte da fotografia, principalmente de lugares extremos e excêntricos.

6 Comentários

  1. Interessante. O texto, claramente, foi escrito por uma pessoa que apresenta uma visão externa as mobilizações, e sendo assim existe a necessidade do levantamento de alguns pontos:
    Primeiro, grande parte das propostas apresentadas acontecem diariamente – como questionamento da atual estrutura universitária, financiamento da universidade, formas de licitações, discussões orçamentárias, transparência, etc – tanto dentro da ocupação, quanto em CAs ou rodas de conversa, e principalmente em Grupos de Trabalho que surgiram recentemente nos diversos institutos.Uma pena a generalização colocada.
    Segundo, os “movimentos livres” citados no decorrer do texto, nada mais são do que um diferente lado de uma mesma moeda. Ou seja, uma reunião de pessoas radicais, sem propostas e que desejam impor sua opinião através da conquista pelo barulho. Uma pena, a segunda, que nada se divergem dos movimentos estudantis tanto criticados.
    E terceiro, vocês do Terraço Econômico costumam realizar boas interpretações e discussões pertinentes com a realidade. Uma pena, e a última do comentário, que tenham feito uma matéria baseada em pressupostos próprios e informações de terceiros.

  2. Antes de tudo, gostaria de dizer que me situo mais no campo da esquerda, e que acredito que a universidade pública é o melhor modelo para o Brasil.
    Mas o que me entristece e me faz concordar em parte com o comentário é que as reivindicações da academia se limitam à salário. Sempre que há greve se fala que é pra melhoria das condições, mas ela logo acaba quando um aumento de salário é concedido.
    Apesar de tanto se reclamar dos salários, eles não são ruins. Na França, um doutor entra na universidade como professor em geral após dois anos de pós-doutorado e recebe um salário de 2100 euros, enquanto o salário mínimo é por volta de 1450 euros. No Brasil um professor começa ganhando quase o mesmo em termos absolutos, certa de R$ 8000,00, mas em um país cujo salário mínimo está na casa dos R$ 800.
    No entanto, a questão é que na França os salários são baixos mas há dinheiro para o custeio. Se você quer organizar um evento, participar de uma conferência ou curso, comprar insumos, livros etc. Sempre há dinheiro disponível. Fazendo doutorado neste país, ainda me espanto ao notar que posso pedir qualquer coisa que seja ligada à pesquisa ou à minha formação e ser prontamente atendido.
    Também não entendo a dificuldade que a esquerda de modo geral tem com o princípio de se cobrar a mensalidade de pessoas com recursos suficientes. Sei que em essência a idéia é que os impostos já deveriam ser usados pro financiamento da educação, mas como dito no artigo, os impostos no Brasil são injustos e uma medida que cobrasse taxas proporcionais aos estudantes que tem não faria mal algum. Mas tenho dúvidas se isso geraria vantagem pros cofres das universidades pois creio que no fim das contas temos poucos estudantes muito ricos e os de classe média alta deveriam continuar sendo subsidiados pagando taxas menores.

  3. 1º – Esse movimento anti-esquerda não é novidade, talvez sua organização sim, mas não parece trazer nada além do discurso liberal-conservador.
    2º – O debate na Universidade, nos DCEs, com Sindicato e em qualquer espaço há muito tempo não é homogêneo e nem organizado. A esquerda universitária padece do sectarismo e visões divergentes, até opostas, se apresentam em qualquer debate.
    Sua análise é tipica de quem nunca participou de um debate universitário. Preconceito e senso comum apenas.
    3º – Justificar o corte na educação pela natureza da CPMF é esconder o problema. Educação deveria ser uma prioridade estadual e como não é, as universidades paulistas tem perdido sua qualidade nos mais de 20 anos de PSDB no governo.
    Ora, disputa pelo orçamento é uma questão política e é muito válido que estudantes e trabalhadores se mobilizem para disputá-lo segundo seus interesses.
    O que não se justifica é defender o mercado financeiro e o equilíbrio fiscal como um fim em si. Isso é economicismo cego.
    4°- Achei válida a idéia de cobrar a Universidade Pública pelo perfil socio-econômico. É uma forma de complementar o orçamento universitário de forma independente.
    Mas isso não justifica o contigenciamento de 40milhões e tampouco será solução no curto prazo. Entretanto, esse debate deve ser colocado e não é exclusivo da direita. Já ouvi mais de uma vez essa idéia em debates na esquerda “messiânica” que voce não conhece e tem tanto preconceito.
    Abc

  4. realmente se nota q o texto foi escrito a partir de uma ideolgia economica.
    Acredito que o coceito de universidade publica tem que ser revisto, claramente en momento algum se pensa en uma universidade para todos, esquecem que existem outras realidades sociais, porque digo isso ?
    porque, estudei en escola publica toda minha vida, este esino limitado e arcaico, temtei passar nessa porra(disculpa a expresao)
    de vestibular, e hoje é nada mais q uma seleção de quem tem dinheiro para pagar una cursinho o escola particular, das clases
    baixas…. acredito q para ser considerado publico tem que ser acessivel, tem q dar oportunidade para todos, e nao para uma parte
    da sociedade, estendendo q esta parte é privilegiada por um capital financeiro , que da posibilidade a um capital educacional.
    a importancia de que uma universidade nao tenha un capital financeito q a finacie, basicamente vem en contra o recorte da
    sociedade e este capital impone, por isso o estado tem que financiar, porque as universidades tem q atender uma demanda PUBLICA
    e nao privada.
    quando o brasil aprender q o defeito nao estao em seus governantes e sim nos privilegios e a corrupção ativa de sua sociedade
    ai sim talvez entendamos q oque que dizer PUBLICO.

  5. Estou há quase 30 anos por aqui, desde aluno carente que conseguiu terminar seu curso graças à bolsas, até professor.
    O que mais me surpreendeu não foi o texto, mas os comentários.
    Dizer que MBL entre outros são sectários e de direita é aquele eterno discurso vazio de sempre, de esquerdistas que insistem
    em demonizar tudo e todos que não sejam como eles. Eles, sim, sempre foram sectários.
    Dizer que as universidades estão em crise, com qualidade caindo, e que a culpa é do PSDB é risível. Posso falar, tranquilamente,
    que continuamos em um patamar de excelência muito interessante. E que o estado segue mantendo a nossa liberdade de
    agir e financiando muito bem. Houve uma baixa do ICMS este ano: o Brasil está em crise e, como todos os brasileiros, temos
    que aprender a fazer mais com menos. Não me acho melhor que ninguém: se o país está apertando o cinto, porque não vamos
    apertar por aqui? Também é importante ressaltar que foram erros internos, como aumentos muito acima do razoável em um
    momento de crise, que quebraram nosso orçamento: esses aumentos foram dados por uma reitoria que está praticamente
    100% alinhada à esquerda que destruiu a nossa economia, sem nenhuma conexão com o governo estadual…
    Por fim, dizer que os movimentos não são organizados, é piada, né? Todo o movimento estudantil, incluindo DCE, Centros
    Acadêmicos, etc., além do sindicato, está absolutamente comprometido com partidos como PSOL e PCdoB.
    As ações são coordenadas e nacionais! Esse é,
    exatamente, o pior problema que vivemos hoje, porque a universidade está sendo usada como plataforma partidária por
    grupos que não se preocupam, de verdade, com a educação e ciência. E que usam até de violência e assédio moral
    para impor sua vontade à maioria.

  6. Um absurdo esses comentários vindos de pretensas pessoas de esquerda!
    A Universidade deve ser pública e GRATUITA! Vejam o que houve no Chile!
    Os mais ricos devem pagar sim: pagar mais impostos e não mensalidades!

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