A Bolsa, em linhas gerais, é a instituição responsável pela negociação de ações, partes do patrimônio de uma companhia que são vendidas, auxiliando no financiamento de seus projetos de investimento e consequente expansão, gerando, como recompensa aos investidores, retornos e poderes de voto sobre suas decisões. Paralelamente, na Bolsa também é realizada a negociação de derivativos, a revenda de papéis do Tesouro, de câmbio e de ouro.
Com a intensificação do processo de financeirização a partir da virada do século, a riqueza financeira – representada pelo valor das companhias nas Bolsas de Valores, ativos bancários e outros títulos – vem crescendo acentuadamente, num período marcado pela massiva incorporação de algoritmos e novas tecnologias aos diversos processos de movimentação da riqueza e negociação de ativos.
Atualmente, a Bolsa de Valores (B3) representa, por meio das empresas de capital aberto, um valor equivalente a 57% do PIB brasileiro (esse montante já atingiu 98%, em 2007), enquanto a compra e venda de ações movimentou uma média de 33% do PIB, entre 2006 e 2017.
Nossa Bolsa, quando comparada a de outros países, possui suas especificidades: possui poucas empresas e movimenta um baixo volume de ações, conforme nos mostra a tabela abaixo.
Assim, no Brasil, algumas poucas empresas são essenciais para o bom funcionamento do mercado de ações. A B3 está focada nos negócios financeiros (36,3%) – com Bradesco (8%) e Itaú (9%), e de commodities (31,1%) – Vale do Rio Doce (10%) e Petrobrás (13,5%). Ainda, apresenta uma grande concentração acionária, onde 17 empresas são responsáveis por 77% de todo o valor negociado.
O perfil dos investidores impõe uma grande dominância dos acionistas estrangeiros (46,2%) e institucionais (30,1%) sobre o mercado. Com isso, o Risco-País passa a ser uma variável chave para o comportamento do índice Ibovespa.
Quais acontecimentos causaram as maiores agitações no mercado?
A pesquisa analisou os momentos em que a Bolsa de Valores sofreu suas maiores variações após a crise do subprime (em outubro de 2008). Com base em diversas notícias da mídia, os momentos são correlacionados aos principais acontecimentos, suspeitos de causarem conturbações na estabilidade do mercado acionário.
Abaixo, podemos visualizar, temporalmente, quais foram os períodos encontrados no estudo (com base na volatilidade dos ativos no Ibovespa) e, para efeitos de comparação, temos que a média da volatilidade para o período foi de 22,48%.
Os resultados estão abaixo:
Nos picos de volatilidade, em 5 momentos observou-se um padrão de alta na pontuação do Ibovespa (3 desses momentos ocorreram no ano de 2009), e em outros 5, o de queda. No mais, 7 choques foram causados por fatores puramente econômicos, enquanto 3 tiveram uma raiz política.
No geral, os itens que mais afetaram as ações no mercado acionário no âmbito interno foram as previsões e estimativas do relatório Focus para o Brasil, os períodos eleitorais, onde ocorreu uma manifestação da preocupação dos investidores com a atuação dos governos do Partido dos Trabalhadores, além da repercussão dos casos de corrupção, sempre com impacto mais significativo na cotação das empresas com participação estatal.
No âmbito externo, afetaram a bolsa o comportamento do orçamento público norte-americano, a trajetória de seus principais indicadores para o mercado acionário (Nasdaq, S&P 500 e Dow Jones) e as alterações nos preços do petróleo a nível mundial – como aproximadamente metade de todos os investidores são estrangeiros, sempre haverá esta correlação entre o que está a ocorrer nos Estados Unidos e Europa, economias tidas como mais seguras e estáveis, com o desempenho do mercado acionário no Brasil.
Vinícius Felizatti
É graduado em ciências econômicas pela UNESP e interessado pelo ensino da economia e pela desmistificação do funcionamento de algumas de suas principais instituições.