Não é difícil discernir um discurso contrário à política israelense de um discurso antissemita. Existem diversas críticas bastante fundadas ao Estado de Israel referentes à questão Palestina. A liberdade para poder exprimir o descontentamento com o Governo Israelense – garantida também aos próprios israelenses, como se espera de qualquer país civilizado – é um dos pilares do que chamamos de Estado Democrático de Direito.
É necessário, no entanto, que esse posicionamento crítico não esteja restrito a Israel. É preciso que se reconheça que há governos espalhados pelo mundo cuja falta de escrúpulos deveria ser questionada diariamente.
Governos como o de incontáveis países árabes, os quais, sem pensar duas vezes, matam homossexuais pela simples razão de se apaixonarem por alguém do mesmo sexo; que reduzem as mulheres à condição de escória da sociedade, tolhendo-lhes a liberdade de todas as maneiras que conseguirem imaginar; que proíbem a educação e desestimulam a busca pelo conhecimento; que assassinam jornalistas que contrariam seus interesses.
Governos como o Iraniano, que se ocupam mais com planos mirabolantes para a destruição de países vizinhos do que com as necessidades de seu próprio povo. Governos como o de ditaduras africanas, que perseguem minorias étnicas sem o menor resquício de piedade, impondo à população de seus países uma situação de miséria tão drástica, que os bens de todos os seus cidadãos, se somados, não alcançariam a terça parte do valor dos relógios de ouro de seus líderes.
Governos como o Venezuelano, liderados por um dos indivíduos mais atrozes e desqualificados que já ocuparam o cargo de Chefe de Estado na história mundial – mesmo a concorrência sendo tão acirrada – cujos desmandos conseguiram dizimar um país inteiro.
Se o posicionamento em relação à política israelense estiver acompanhado de críticas a esses governos cancerígenos, que fazem da liberdade e da democracia utopias distantes, então não há qualquer problema em um discurso contrário ao governo de Israel. Apesar deste ser o único país democrático do Oriente Médio, que garante os mesmos direitos a todos os seus cidadãos – sejam eles homossexuais, mulheres, cristãos ou árabes – as concordâncias e discordâncias fazem parte do jogo democrático.
O discurso se torna antissemita quando o envio de militares israelenses para auxiliar nas buscas em Brumadinho é recebido com frases como “não precisamos de assassinos de palestinos”, ou “o Estado genocida de Israel agora quer tomar o poder no Brasil”. Não é mentira: essas duas constatações foram escritas, exatamente dessa forma, por pessoas que se dizem antissionistas, mas não antissemitas.
É constrangedor no nível mais profundo. O ódio é tão mal disfarçado, tão latente, tão incontrolável, que supera inclusive a mais básica necessidade de se respeitar as vítimas desta tragédia. Reprimam, por um breve período que seja, seus impulsos preconceituosos. Enquanto figuras como Carlos Latuf estão ocupadas alternando charges antissemitas e outras que defendem com unhas e dentes o governo de Nicolás Maduro, os 136 militares israelenses cruzaram o mundo para chafurdar na lama junto aos bombeiros brasileiros, em uma tentativa de amenizar a dor de pessoas que não precisam de racistas se aproveitando de sua desgraça para destilar seu discurso vazio, raso, patético. Vocês são uma vergonha.
Daniel Kignel Advogado criminalista, formado pela PUC-SP, com especialização em direito penal econômico e crimes financeiros pela FGV-SP