A Argentina de Fernández

Logo no início de 2020, chegou ao noticiário brasileiro o congelamento de preços promovido pelo governo federal argentino. Como a inflação está a patamares elevados (infelizmente, uma constante na economia argentina) a saída encontrada pelas autoridades foi a de congelar os preços para que os argentinos não percam tanto o valor de compra do seu próprio dinheiro.

Antes de entrar no mérito da questão, vale fazer ponderações acerca do passado recente da economia argentina. A chave para se entender o congelamento de preços é a alta da inflação, e uma das razões dela estar alta é a situação fiscal do país.

O presidente anterior, Maurício Macri, apesar de no começo de seu mandato ser visto como um liberal por boa parte da imprensa, não fez reformas estruturais necessárias na economia argentina. Herdado um país arruinado por sua antecessora Cristina Kirchner, Macri não tinha uma tarefa fácil. Os gastos públicos crescentes era um dos principais problemas que não foi resolvido pelo presidente. No começo do seu mandato, anunciou aumento nas aposentadorias e nas pensões ignorando a questão fiscal explosiva do seu país.

Além disso, as privatizações não vieram. A Aerolíneas Argentina, por exemplo, que de 2008 a 2015 precisou de 2 milhões de dólares por dia para manter-se operacional, teve um corte de subsídio de 40%. Outra empresa estatal que onera os cofres públicos é a petrolífera YPF que vem acumulando déficits estrondosos desde o governo de Kirchner.  Privatizar mesmo que é bom, nada.

Com todos esses desastres no âmbito fiscal, uma política monetária expansionista foi a saída encontrada pelo governo federal para diminuir a crise. Mas aumentar a base monetária sem uma maior produção de bens e pior, sem ajustar a área fiscal primeiro, fez com que o peso argentino derretesse. 

O plano

Devido a inflação galopante, a saída encontrada pelo governo de Fernandéz foi congelar os preços de bens ditos essenciais para a alimentação das famílias. Com o nome de Preços Cuidados, o programa inclui 310 produtos e uma redução média de 8% dos preços. Vale ressaltar que esse plano já havia sido imposto no primeiro governo de Cristina Kirchner e continuou com o presidente posterior, Maurício Macri.

Na figura abaixo, temos um gráfico explicando genericamente o que ocorre quando há um congelamento de preços na economia. Nota-se que existe um preço de equilíbrio no mercado (Pe). Nesse ponto, há uma eficiência econômica: não há excesso de oferta nem de demanda. 

Com o congelamento de preços, os produtores não podem ofertar seus produtos pelos preços que desejam. Como a equipe econômica argentina além de congelar os preços, reduziu 8% em média, o preço dos produtos ficaram abaixo do preço de equilíbrio. Com isso, a quantidade ofertada fica inferior a quantidade demandada (Q2 > Q1), gerando assim escassez dos produtos que tiveram seus preços congelados.

Como os preços estão congelados e abaixo do equilíbrio, os produtores não terão incentivo em ofertar esses produtos, optando em produzir aqueles bens que não foram afetados pelo congelamento.

O sistema de preços em uma economia de mercado tem a função de emitir sinais para que os agentes econômicos possam alocar seus recursos de maneira eficiente. Quando há um congelamento de preços, esses sinais se perdem. E os mais prejudicados serão os ofertantes dos produtos que tiveram seus preços congelados e os mais pobres, que não encontrando produtos na prateleira, terão de pagar um ágio para consegui-los por outros meios.

O mercado não é um fim em si mesmo. O mercado é um meio que, por tentativas e erros, gera conhecimentos e descobertas que vão se tornando, ao longo do tempo, mais compatíveis com os agentes econômicos. Reinventar as leis econômicas com um fim aparentemente nobre – mas de cunho populista – não deixará a economia menos “lúgubre”.

Maxwell Marcos

Estudante de graduação do curso de Economia pela Universidade de Taubaté. Apreciador das obras de Nelson Rodrigues e Theodore Dalrymple, acredita que o papel de uma Universidade é criar uma elite intelectual que discuta os problemas do país ou se possível da humanidade.

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