A conduta dos debates nos dias atuais

Em todos os âmbitos do debate atual, onde a ciência e a razão desempenham papéis de meros coadjuvantes, nota-se que diversos grupos extremamente intransigentes e preconceituosos perpetuam ideias insensatas e perigosas. Quando foi que a sociedade ficou tão doente? 

Em qualquer canto da Internet é possível se deparar com campos de comentários e fóruns de discussão repleto de homens e mulheres, nesses lugares eles destilam suas paixões como verdades absolutas e inquestionáveis. Observamos o barulho de minorias que insistem em defender ideias absurdas, como: as fake news, às pós-verdades, a existência da Terra plana e a negação de que a aprovação da Reforma da Previdência era de suma importância. 

Quando eu assistia as sátiras que o grupo de humor britânico Monty Python fazia à sociedade medieval, sobre a falta de intelectualidade, à vigília comportamental e às barbáries que cometiam contra grupos oprimidos, ria e pensava o quanto nós tínhamos evoluído. 

Hoje, mesmo certo de que nossa sociedade evoluiu bastante, percebo que apesar de não mandar-se mais bruxas para as caldeiras ou homens para calabouços, ainda assassinam-se as reputações e carreiras de pessoas que não tenham a mesma (exatamente idêntica) afinidade ideológica.

Ainda aglomeram-se grupos defensores do desequilíbrio fiscal, de revoluções sangrentas e fracassadas, de líderes e regimes autoritários e de ideias econômicas há muito malogradas. Nos casos mais extremos, cometem-se crimes de ódio contra outros indivíduos, vistos como inferiores e passíveis de punição capital.

O radicalismo corrompe o debate de ideias, mina o diálogo e cerceia as pessoas em grupos e castas, em bolhas sociais e ideológicas. Isso é corroborado hoje em plena era do Big Data, a partir do algoritmo de recomendação, que faz com que qualquer “ideólogo de boteco” se perpetue cada vez mais em determinadas bolhas. É o chamado viés de confirmação.

Nietzsche uma vez disse que os piores leitores são aqueles que procedem como soldados saqueadores: escolhem algumas poucas coisas que podem utilizar, corrompem e confundem o restante, e blasfemam o todo. 

Achar alguma fonte pseudocientífica que concorde com a tese que você quer defender, não é a legitimação da verdade absoluta. É necessário lembrar que até o cidadão mais ignorante do mundo, que defende as ideias mais toscas imagináveis, ao se aprofundar naquilo que acredita, apenas inflama ainda mais o seu radicalismo.  

Por exemplo, os escravagistas apresentaram teses e argumentos para legitimar a escravidão, os nazistas elaboraram teorias supostamente científicas para justificar o extermínio de judeus, entre outros inúmeros casos. Apresentar uma ideia com as vestes de um conteúdo científico, não o torna genuíno por excelência. Por isso o debate é importante para a evolução da sociedade, havendo a necessidade de distanciamento pessoal e de seriedade para que se possa realizar qualquer análise.

É preciso tolerar, respeitar, ouvir para ser ouvido, e entender de uma vez aquele velho clichê de que ninguém é tão inteligente que não tenha nada a aprender nem tão ignorante que não tenha nada a ensinar. Essa é uma das lições mais importantes que podemos e que devíamos assimilar. Aprendamos e sigamos em frente.

Victor Mendonça

É graduando em ciências econômicas pela Universidade Católica de Pernambuco. Trabalha numa empresa de tecnologia no Porto Digital na capital Pernambucana e adora ler, aprender e conversar sobre temas como economia internacional, história, economia comportamental e data science.

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