Alguns sinais, alguns bons sinais

Thobias Silva

Ao observar o comportamento conjuntural da economia é possível perceber alguns sinais de melhora na margem. Os dados relacionados à expectativa e aos números do mercado de ativos são sensivelmente melhores e devem se materializar em breve, gradualmente na economia real e marcar o ponto de inflexão para a retomada do crescimento econômico brasileiro.

Entretanto, existem alguns riscos não desprezíveis no horizonte, principalmente os relacionados a fatores políticos internos.

Primeiramente, para demonstrar parte do meu otimismo trago alguns números do mercado de ativos financeiros, que são os que primeiramente respondem aos sinais de expectativa de melhora na economia, pois esses agentes têm como objetivo antecipar mudanças e ganham, principalmente, pela capacidade de tomar risco quando todos ainda estão demasiadamente cautelosos, essa é a sua natureza.

O gráfico abaixo mostra a valorização do IBOVESPA no primeiro semestre de 2016. Uma variação positiva da ordem de 22,27% até o dia 13 de julho. Se olharmos a amplitude entre a mínima e a máxima deste ano, para o mesmo período, temos uma variação de 48,40% (o desejado utópico de qualquer investidor – comprar na mínima e vender na máxima).

Ainda seguindo com a observação do movimento do mercado financeiro e de alguns dos seus ativos, a principal empresa estatal brasileira listada na bolsa de valores, a Petrobras, presentou valorização no primeiro semestre deste ano de 37,12% e continua a se valorizar, mesmo com todos os efeitos da Operação Lava Jato.

O câmbio é outra variável que mostra o sinal de melhoria das expectativas, mesmo que os seus efeitos sejam majoritariamente controlados pelas políticas monetárias do FED (banco central dos EUA). A cotação da moeda norte americana não deixa de ser um sinal de “confiança” dos agentes, pois a entrada de capitais em busca de ativos brasileiros valoriza a nossa moeda.

A cotação do dólar no primeiro semestre deste ano apresentou uma queda de 20,75% cotado a R$ 3,2092 para compra no final do mês de junho.

Outro importante sinal de melhora na percepção de risco do mercado brasileiro, foi a queda de 26,38%, durante o primeiro semestre, do índice do BRAZIL ETF VIX cotado na bolsa de Chicago, conhecido como “índice do medo brasileiro”. Mesmo diante do anuncio da vitória do “Brexit” no final de junho, seus riscos ainda parecem pouco mensurados no curto-prazo, o que permitiu um efeito, até o momento, limitado por poucos pregões nos mercados.

Indo para o lado real da economia – A Indústria

Quando observamos os dados sobre expectativa dos empresários industriais, principalmente por meio da Sondagem Industrial, publicada mensalmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), podemos verificar parte das expectativas vista nos mercados financeiros.

Os indicadores de expectativa para os próximos 6 meses nas variáveis demanda, número de empregados, compras de matérias primas e quantidade exportada, todas apresentam variações positivas.  Segundo a pesquisa, O empresário não mostrava otimismo com relação à demanda desde janeiro de 2015”.

[caption id="attachment_7188" align="aligncenter" width="608"] Fonte: CNI.[/caption]

A atividade industrial começa a apresentar sinais de estabilidade. A variação da produção física da indústria de transformação, segundo dados do IBGE de maio em comparação com abril deste ano, foi nula (isso mesmo, 0%) o que, aparentemente, mostra que paramos de piorar.

Entretanto, o nível de ociosidade da indústria ainda continua elevado.

Quando observamos a intenção de investimento do empresário industrial, ainda na pesquisa da CNI, o indicador permanece em patamares muito baixos, segundo a série histórica, o que denota baixa propensão ao investimento. Porém, nota-se um leve sinal de retorno para os 45 pontos (escala de 0 a 100).

[caption id="attachment_7190" align="aligncenter" width="526"] Fonte: CNI.[/caption]

Todavia, o processo de retomada de investimento irá passar pela redução da ociosidade por meio da ampliação da demanda, da queda dos juros, da melhora da confiança do consumidor, da estabilização da taxa de desemprego e da melhora do ambiente político. Enfim, não será um processo rápid.Ele virá de forma gradual.

A tendência

Existe uma melhora marginal em alguns indicadores da economia. Os dados apresentados demostram isso. Além de outras variáveis econômicas, a exemplo da queda da inflação IPCA em 8,84% no acumulado de 12 meses, percebe-se um horizonte promissor e de provável redução da taxa básica de juros no médio prazo, mas existem outros graves e preocupantes problemas que podem minar essa possibilidade de recuperação.

Apesar de as projeções de mercado olharem para o ano de 2017 com mais confiança na recuperação, ainda precisamos de sinais e ações mais efetivas que possam, de fato, transformar a tímida recuperação da confiança em uma retomada efetiva da economia, por mais que seja lenta e gradual.

Contudo, para que isso se materialize, além das ações conjunturais, é necessário que se construa uma perspectiva de longo prazo mais crível e para isso atacar problemas estruturais da economia como a reforma da previdência, a reforma tributária e a reforma trabalhista, que acredito que ficarão para serem completadas a partir de 2018, mas que o atual Governo terá que dar o pontapé inicial desde já.

Thobias Silva é economista-chefe da Federação das Indústrias de Pernambuco-FIEPE e Conselheiro Econômico da Veneza Investimentos.

  Fontes: http://www.tradingeconomics.com/brazil/indicators http://www1.fiepe.org.br/fiepe/arquivos/Sondagem-Industrial—maio.pdf http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/cni_estatistica_2/2016/06/17/12/SondagemIndustrial_Maio2016.pdf http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/industria/pimpf/regional/pim-pf-regional_201605comentarios.pdf http://www.cboe.com/micro/vixetf/vxewz/ http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao http://www.infomoney.com.br/bloomberg/mercados/noticia/5282623/apos-brexit-agora-hora-dolar-recuperar-dizem-analistas http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/precos/default.asp?z=t&o=20&i=P http://www.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/readout/R20160708.pdf
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