Você no Terraço | por Gustavo Tasso
Atualmente o Brasil passa pelo pior momento econômico de sua história. A última vez que tivemos dois anos de recessão consecutiva foi em 1930/31, época da revolução de 30, na qual se depôs Washington Luís, impediu-se a posse de Júlio Prestes e se deu fim à Republica Velha, dando início à Era Vargas. O atual cenário brasileiro se equipara à crise grega que teve início em 2009 com a explosão de sua dívida pública e que já se arrasta por mais de 5 anos.
Erros na conduta da política econômica foram cometidos pelo governo para que pudéssemos chegar a esta situação calamitosa. Apenas para citar alguns deles:
I. A estagnação da produtividade brasileira e o custo Brasil de se produzir.
A produtividade brasileira encontra-se estagnada desde 2010 e seus motivos remontam ao alto custo de energia no país, uma infraestrutura arcaica que aumenta os custos de produção devido à dificuldade de escoamento de mercadorias, a excessiva burocracia, a taxação excessiva sobre a produção. De acordo com levantamento do IBGE entre 2011 e 2014 os tributos consumiram 41,5% do PIB, sendo que tal cenário desestimula o ambiente de negócios, o investimento na formação de capital físico e humano, o que acaba por frear a produtividade brasileira.
Com isso, observa-se que nos últimos anos além da produtividade estar estagnada a mercadoria torna-se mais cara, visto que todos esses empecilhos à produção resultam em um aumento no preço final do produto.
II. O Brasil deu as costas ao bônus demográfico
Bônus demográfico é caracterizado como o momento em que a estrutura etária de um país atua no sentido de facilitar o crescimento econômico. Ou seja, existe um saldo maior da PEA (população economicamente ativa) sobre a PEI (população economicamente inativa). De acordo com José Eustáquio Alves, pesquisador do IBGE, isso ocorreu devido à falta de visão econômica. O governo Dilma acreditou no mito de que o problema do Brasil era de uma demanda fraca e, com isso, passou a realizar inúmeras políticas de estímulo ao consumo, quando na verdade deveria ter feito o gasto em investimento para que houvesse melhora na infraestrutura do país e consequentemente redução de custos logísticos para as empresas. A nova matriz econômica orquestrada por Guido Mantega foi um dos fortes motivos para o desperdício do bônus.
III. O Desastre das contas públicas
Entre 1991 e 2014 houve um aumento no gasto da despesa primária (sem contar o pagamento de juros) de 9% do PIB. O aumento desse tipo de gasto foi sustentado pela expansão da carga tributária. A partir dos anos 2000, diversos fatores que levaram o país à um crescimento econômico sustentável permitiram uma carga tributária maior. No entanto, a estrutura fiscal brasileira, tal como ela foi desenhada requer aumentos contínuos da carga tributária para que consigamos manter um ambiente de equilíbrio fiscal, aumentos esses que impedem o crescimento e a geração de emprego. Em tempos de ajuste fiscal, a rigidez orçamentária que só permite cortes nas despesas discricionárias de cerca de 30% dos R$ 180 bilhões é um agravante para a situação, tornando necessário cada vez mais o aumento da carga tributária.
A situação fiscal tornou-se ainda mais complexa este ano, pois foram aprovadas novas regras que implicam em um maior gasto público em relação ao PIB. A soma dos aumentos previstos com previdência, saúde e educação alcançam o valor de 6% do PIB até 2030, isto representa cerca de R$300 bilhões, o equivalente a R$20 bilhões por ano. O país estaria gastando o equivalente à uma CPMF a cada 18 meses.
IV. Falta de diversificação econômica
Na última década a China passou por um crescimento médio do PIB da ordem de 10%, e isso impactou diretamente o Brasil. Em 2001 a partir do boom das commodities, devido aos ventos benignos da globalização chinesa o Brasil foi extremamente beneficiado pela valorização de seus produtos. Neste período de bonança econômica, o Brasil perdeu as oportunidades de realizar as reformas que pudessem alavancar a indústria nacional, podendo diversificar a sua economia e tornar-se mais competitivo no cenário mundial. A complexidade e as diversas restrições ao comércio exterior comprometem a competição e o acesso às tecnologias que sejam mais eficientes, o que acaba prejudicando a inserção do país nas cadeias de comércio globais. George Wachsmann gestor de patrimônio da GPS é categórico ao afirmar:
“Foi a década da fábula da formiga e da cigarra; infelizmente, o Brasil foi a cigarra’’.
V. Cenário desfavorável
O atual cenário internacional não é favorável ao país. A desaceleração chinesa fez com que o preço das commodities desabasse no mercado internacional, afetando diretamente o país. Nesta semana o FED elevou pela primeira vez nos últimos 10 anos a taxa de juros norte americana, o que deve gerar uma fuga de capitais de mercados emergentes e uma maior valorização do dólar frente ao real. Se não bastasse isso, a agência de classificação de risco Fitch retirou o grau de investimento brasileiro, colocando em xeque a solvência do país. Assim como foi visto na situação grega, o caminho pela austeridade é doloroso, mas é necessário. As medidas propostas pelo ajuste fiscal precisam ir além. É imprescindível retomar a agenda das reformas estruturais; caso contrário o Brasil continuará sendo eternamente o país do futuro, futuro este que nunca virá.
Gustavo Tasso Graduando em administração FEA USP Diretor Liga de Mercado Financeiro FEA USP
Notas:
[1] Para mais detalhes, recomendo: https://goo.gl/PIayd2