Brasil: a saída da crise não passa pela terceira via

O coronavírus é um “terremoto“ que abalou toda estrutura socioeconômica mundial. São dois grandes impactos atingindo países do globo inteiro: o colapso do sistema de saúde e o colapso econômico. No mundo já se tem (até o momento) 7.941.404 casos confirmados e 434.796 mortes, o que levou governos de todo o planeta a tomarem medidas de lockdown, seguindo a cartilha da própria Organização mundial da saúde. Tais medidas estão levando a desorganização das cadeias produtivas mundiais, fazendo o Fundo monetário internacional (FMI) estimar retração de 3% da atividade econômica global, podendo se tornar a maior recessão do século. A mesma entidade calcula queda de 5.3% do PIB brasileiro para esse ano.

Para conter impacto da pandemia na economia brasileira, o Tesouro Nacional tem injetado recursos na veia, em forma de programas de auxílios emergenciais e ampliação de programas  sociais, como o bolsa família. Os gastos da união para enfrentamento aos impactos do Covid-19 estão previstos em R$ 253,5 bilhões. Com tal crescimento dos gastos, a consequência inevitável será aumento do déficit primário de R$ 95,1 bilhões em 2019 para incríveis R$ 571 bilhões em 2020, forçando a dívida pública a passar pela primeira vez a marca de 90% do PIB.

O que se torna importante frisar, é que nesse momento esses gastos se fazem extremamente necessários, uma vez que a pandemia tem tomado dimensões cada vez maiores, tornando consenso em maioria dos economistas de que a crise será a maior desde a “Grande depressão” de 1929. Essas políticas de curto prazo se fazem sim necessárias, porém devem sempre ser lembradas como medidas excepcionais para uma crise sem precedentes, pois não será a expansão contínua de gastos públicos que de fato irá tirar o país da recessão e futuramente propiciar crescimento econômico. O aumento das despesas da União com auxílios emergenciais estão mantendo os sinais vitais da economia, mas não se sabe até quando, pois sem vazão para a produção, toda a cadeia produtiva está aos poucos se desorganizando.

O primeiro mês completo de paralisação das atividades já dão indícios de que o país está sentindo os primeiros sintomas de uma recessão; a inflação recuou 0,31% em abril, se tornando a segunda maior deflação registrada pelo IPCA desde fevereiro de 1999,quando o país enfrentava uma recessão provocada pelo colapso financeiro dos Tigres Asiáticos. Conforme dito pelo próprio ministro da economia Paulo Guedes, a economia está começando a colapsar. A saída do colapso passa pelas medidas que serão tomadas para a retomada das atividades econômicas, isso se torna o mais importante a ser pensado. Do contrário, a continuação de programas de auxílios emergenciais terão baixa eficiência, visto que as pessoas possuem dinheiro em mãos, mas não se tem produtos nas prateleiras. 

As medidas de recuperação econômica devem passar longe da chamada “terceira via” que propõe maior atuação estatal com programas de endividamento e gastos elevados. Esse filme já é repetido. O estado servindo como motor do crescimento produziu o descontrole dos gastos públicos e endividamento do governo JK (1956-1961), a inflação crônica e crises cambiais dos regimes militares, a moratória externa e a hiperinflação do governo José Sarney (1985-1990), o congelamento de preços e ativos nos planos de estabilização dos governos Sarney e Collor e finalmente a corrupção e estagnação econômica vivenciada no governo Dilma Rousseff. Todas essas disfunções na história brasileira são frutos de um mal maior que é a terceira via e seu descontrole orçamentário transvestido de crescimento econômico.

Portanto, não deve haver ilusão; a terceira via jamais produzirá de fato prosperidade, pois aumentos expressivos de gastos somente produzem crescimentos artificiais e momentâneos, que logo são corroídos por males maiores. A grande ferramenta de prosperidade dos povos sempre foram as economias de mercado, pois estas garantem a liberdade econômica, a integração comercial, a competitividade e as inovações; o fato é que somente o investimento privado pode gerar riqueza. 

Nesse sentido o Brasil deve retomar o mais urgente possível as suas reformas estruturantes, que por sua vez irá diminuir os efeitos fiscais negativos deixados pela crise e permitirá a abertura e integração econômica do Brasil ao mundo. Se a classe política assim fizer, dará um importante recado para o mundo. O Brasil se apresentará como um grande potencial de investimento privado, dessa forma reorganizando e colocando a economia para crescer novamente; tudo dependerá da maturidade política para fazer a coisa certa. Se a classe política optar pela terceira via, estarão condenando todos ao mesmo caminho dos vizinhos latino-americanos Venezuela e Argentina, o caminho do colapso socioeconômico.  

A crise pegou todos de surpresa e abalou estruturas do mundo todo, o cenário externo irá mudar muito daqui para frente. É o momento do Brasil surpreender,  mostrando que a retomada pode ser tão rápida quanto a queda que inevitavelmente o mundo inteiro sofreu.

Matheus de Almeida
Estudante de ciências econômicas na Universidade Paulista (UNIP).

 

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