Canhões ou Manteiga? O dilema das nações perante o Coronavírus

Em entrevista para a Fox News no último dia 24 sobre suas futuras ações referentes à Crise do Coronavírus, o presidente americano Donald Trump argumenta rapidamente que a gripe comum mata cerca de 36 mil americanos por ano, número muito maior do que o estimado por coronavírus no país. Diz que o país deve sair do lockdown até dia 12 de abril, e que quedas absurdas no PIB e recessão não justificam as ações contra o vírus, que trariam consequências piores.

Com Trump seguindo esse caminho (afrouxando o lockdown e retomando gradualmente as atividades) seria uma tendência natural outros países também passarem a fazê-lo. E não demorou muito. Algumas horas depois da entrevista de Trump, o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento – nada sutil, claro – seguindo a mesma lógica do presidente americano, afirmando que a “gripezinha”, também conhecida como Covid-19, não é tudo isso e que o caos econômico causado pela paralisação seria muito mais nocivo para a sociedade do que o vírus.

Não é difícil perceber que a paralisação e a quarentena indeterminada ocasionariam um colapso econômico. As consequências da quarentena até agora já refletirão no PIB deste ano. As estimativas estarrecedoras para a queda da economia global nos indicam que estamos a caminho, talvez, da maior recessão da história.

Portanto, a retomada da normalidade é fundamental para a ordem do mundo e evitarmos desempregos em massa, falências, aumento da criminalidade e histeria.

A economia precisa voltar a girar e o mundo a andar. Mas a que custo?

Se encerramos o lockdown as projeções para contaminação e mortes, principalmente de idosos e grupos de risco, são alarmantes. Estaríamos colocando em risco a vida dos idosos do país e os mais jovens em grupos de risco.

A ideia que se tem espalhada é a de que os governos, então, encontram-se, como se diz no jargão econômico, em um trade-off. Que é, basicamente, um conflito de escolha, quando uma decisão busca a solução de um problema, mas acarreta outro problema, muitas vezes tão nocivo quanto.

Paul Samuelson, economista laureado com o Nobel em 1970, nos dá um exemplo de trade-off, a decisão econômica de produzir canhões ou manteiga. Quanto mais direcionamos nossa economia para a produção de produtos bélicos e defesa (canhões), menos se poderá investir na produção de insumos e bens de consumo (manteiga). Mas é necessário o investimento bélico para a proteção da produção desses insumos.

E aqui está o dilema das nações nesse momento ímpar na história, se entrarmos em confinamento para evitar a propagação da doença, causamos um desastre econômico, além de uma recessão duradoura e sem igual. Se não aderirmos ao confinamento, vamos expor milhões à doença, que acarretará milhares de mortes, o colapso dos sistemas de saúde dos países e centenas de outras consequências. Isso não é só um dilema econômico e político, mas uma questão moral e social. E muito provavelmente não será tratado como um trade-off, particularmente não acredito que poderá haver qualquer tipo de desenvolvimento econômico com números recordes de internações e mortes por conta de uma pandemia, havendo abertura ou não.

As nações, seus líderes e a sociedade devem analisar a questão com cuidado, inteligência e frieza, pensar no melhor para a sociedade no curto e longo prazo e aceitar as drásticas consequências que, seja qual for o caminho escolhido, acontecerão.

 

 

 

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
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