A solução do problema econômico

Busílis

É um substantivo masculino, consistindo no ponto mais importante de uma questão; a essência de um problema; dificuldade: ainda não conseguimos encontrar o busílis. (Do latim, busillis).

Quando se conhece bem o próprio idioma, o interesse pela origem e significado mais profundos das palavras acaba surgindo. Assim, a etimologia torna-se um estudo cada vez mais interessante fazendo-nos aprimorar nosso discurso, compreensão das palavras e oratória.

Durante a sombria Idade Média, as pessoas que tinham o maior acesso ao conhecimento, às informações, livros e ao próprio idioma latim, eram os frades.

Os frades eram os encarregados por traduções de livros antigos, em sua maioria em latim e grego, para os idiomas europeus modernos, para facilitar os estudos, desenvolver análises ou simplesmente ter o livro ou material traduzido para seu idioma natal.

Porém, por mais que você conheça o idioma, nem sempre é fácil traduzir algo, em meio a diversas formas de escrita, termos próprios, localidades, momentos históricos ou simplesmente deparar-se com palavras completamente novas, ainda mais quando se é um frade português medieval.

Pode ser encontrado na cultura humana diversas referências sobre a resolução rápida de problemas, quase que como um gatilho. A necessidade de reconhecer padrões e, assim, resolver qualquer complicação rapidamente é, de facto, uma característica que sempre impeliu a humanidade.

Talvez, uma das histórias referenciais mais antigas e famosas que aborda o tema seja uma em que o protagonista seja ninguém menos que Alexandre, o Grande.

Conta-se que Górdio, um antigo rei da Frígia (região que atualmente fica na Turquia), amarrou em uma grande coluna, num templo dedicado a Zeus, uma corda com um nó que seria impossível de desatar. Algum tempo depois, ao se consultar o Oráculo sobre o tema, foi profetizado que quem desatasse tal nó dominaria o mundo.

Mais de quinhentos anos depois, sem ninguém conseguir desatar o nó, Alexandre, o Grande, ao passar pela região e ouvir a história, ficou curioso, e foi ao templo de Zeus ver tal feito. Após algum tempo analisando a coluna e a corda, desembainhou a espada e cortou o nó.

Sendo somente uma lenda ou não, anos depois Alexandre consolidou-se como dono de um dos maiores impérios de toda a história. O termo “cortar o nó górdio” tornou-se sinônimo de resolver um problema complexo de maneira simples, eficaz, direto em sua raiz.

Um outro ocorrido secular famoso sobre um feito do mesmo tipo é a história do Ovo de Colombo.

Já os franceses têm um termo famoso para reconhecer um padrão e, consequentemente, achar rapidamente o foco central de um problema: “Cherchez la Femme” (sim, um tanto quanto machista).

A expressão vem do livro, de 1854, Les Mohicans de Paris, de Alexandre Dumas, pai. Na passagem original, lê-se:

Il y a une femme dans toute les affaires; aussitôt qu’on me fait un rapport, je dis: ‘Cherchez la femme’.”

Há sempre uma mulher envolvida em todos os casos. Assim que me trazem um relatório, logo digo: ‘Procurem a mulher’.”

A frase resume um lugar comum das histórias de detetive: não importa qual seja o problema, o motivo estará quase sempre envolta de uma mulher.

O termo ‘Cherchez la femme’ tornou-se comum na língua francesa, sempre como sinônimo de ‘procure a raiz do problema’.

Voltando aos frades: nós, falantes do português, também temos um termo próprio que implica em ‘a raiz do problema’.

‘Busílis’ é uma palavra cuja existência se deve a tradução errada de algum frade português, em algum momento durante a idade média.

Acredita-se que o termo ‘busílis’ tenha sido originado da interpretação errada do latim do termo “In diebus illis”, que, a partir de um significado literal, representa “naqueles dias” ou “naquela época”.

Os frades em questão encontraram o termo “in diebus illis magnis plenae”, ou seja, “naqueles dias havia abundância de grandes coisas”, porém, o espaço entre as palavras não estava bem definido e o termo acabou sendo interpretado como:

indie ‘busillis’ magnis plenae”.

Indie” seria um dos termos em latim para Índia, e a tradução errônea ficara mais ou menos como:

“Índia “busillis” abundância de grandes coisas”, ficando a palavra ‘busillis’, a qual não existia até então, sem tradução.

O significado de tal palavra tornou-se um incômodo para os frades, que acabaram associando a termo ao conceito de ‘raiz de um problema’ ou ‘ponto de grande dificuldade’.

Ainda mais, depois de algum tempo, quando os frades perceberam o erro que cometeram.

Reconhecer o momento do nascimento de uma palavra, um termo totalmente novo, é reconhecer a importância e as características da nossa língua, é compreender, de facto, a sua importância e a sua beleza, que cada idioma, não importa a sua origem, possui.

Parcimônia

É um substantivo feminino, representa o ato de poupar, de economizar, de despender moderadamente; economia, sobriedade. Qualidade do que é parco. (Do latim, parsimoniae).

Muitas vezes, em uma incessante busca por padrões e respostas nós criamos regras, usando nossa própria experiência e cognição, para tentar evitar erros, prevê-los ou calcular as consequências de nossos atos ou situações.

É da natureza humana temer o futuro e as consequências de nossas ações e decisões, desse modo, é natural fazer o máximo para tentar diminuir a nossa vulnerabilidade perante a imprevisibilidade.

Imagine, portanto, um padrão, que se encaixe praticamente em toda a linha de raciocínio possível, que facilite a resolução de um problema ou tomada de decisão, procurando garantir sempre o sucesso final.

Um desses é a Lei da Parcimônia (Lex Parsimoniae). Essa lei, também conhecida como a Navalha de Occam, foi idealizada por William de Occam, um frade franciscano inglês que viveu entre os séculos XI e XII. William era um ferrenho defensor da liberdade individual e do livre arbítrio, acreditava que cada indivíduo teria a necessidade de fazer suas próprias escolhas, sem intervenção de estado ou religião para definir os aspectos da sua vida e de suas próprias decisões. Acreditava que a simplicidade da liberdade era a resposta para a harmonia e o caminho correto das coisas.

A Lei da Parcimônia parte da premissa de que o universo, a natureza em si, é econômica. A natureza nunca faz um esforço além do necessário, seus objetivos e fins são sempre pelos meios mais rápidos, simples, diretos. Não há excesso de esforço ou perda de energia. Como disse da Vinci, “a simplicidade é o último grau da sofisticação”.

A aplicabilidade desse conceito é extremamente abrangente, a Parcimônia influencia desde o método científico, base de todas as pesquisas e teorias científicas do mundo, até conceitos e ideologias da Economia Moderna.

O Cálculo Diferencial e Integral, como diversas outras descobertas, passaram por inúmeras reformulações no decorrer de novas pesquisas e aprimoramentos até chegar ao nosso limite atual de entendimento sobre o assunto. E o nosso entendimento foi, sempre, no decorrer de cada século de estudos e novas descobertas, tornando-se cada vez mais parcimonioso e simples de compreender e/ou aplicar. A simplicidade é consequência da experiência, da criatividade e da capacidade de sintetização e da melhor organização do conhecimento que se tem sobre determinado assunto.

Reforçando da Vinci, Saint-Exupéry afirma que “a perfeição não é alcançada quando já não há mais nada para adicionar, mas quando já não há mais nada que se possa retirar”.

Elegante, lacônica e até pueril, a Navalha de Occam inspira a beleza e aspira a perfeição das coisas. Seu conceito já era discutido e foi pensado por diversos outros muito antes do próprio Occam. De Aristóteles a Maimônides, de filósofos a cientistas, há uma vasta gama de pensadores que viam a ação da natureza pela simplicidade e que quando há dois caminhos para uma conclusão, o mais simples, parcimonioso, é o mais próximo do correto. Sempre tomando cuidado com os erros lógicos e as falácias, obviamente.

Agora, compreendendo os termos busílis (a essência de um problema) e parcimônia (caminho mais simples para uma resolução), podemos nos questionar: há uma solução simples e eficiente para resolver essencialmente todos os problemas? (Talvez, especificamente, da Economia?)

Estamos tentando recorrer aqui a um outro termo, ainda não citado: panaceia.

Panaceia (dessa vez do grego, panakeia), na religião grega antiga, era a deusa do remédio universal, filha de Asclépio, deus grego da medicina.

Afirmava-se que a deusa possuía uma poção com o qual curava-se os enfermos. Isso trouxe o conceito de “panaceia” na medicina, uma substância com a alegada propriedade de curar todas as doenças. O termo também passou a ser usado figurativamente com o significado de “algo utilizado para resolver todos os problemas”.

Nesse momento sabemos o termo exato para referenciar o que buscamos, mas, será que isso existe?

Na Física, uma das questões que mais tira o sono dos pesquisadores é uma possível forma de integrar a Mecânica Clássica, a Relatividade Geral e a Mecânica Quântica. As partículas e os corpos possuem particularidades únicas quando observados por teorias e campos de estudo diferentes. A física dos planetas e a física dos movimentos das partículas subatômicas são diferentes e obedecem regras e conceitos matemáticos diferentes, que não conciliam entre si. Uma única teoria que explicassem as duas Mecânicas e a integrassem com o mesmo conjunto de leis é a panaceia dessa ciência. Explicaria desde os movimentos quânticos até o surgimento e estruturas do universo, auxiliando na explicação e no desenvolvimento de diversas outras pesquisas, hipóteses, tecnologias e impactaria a humanidade como um todo.

O mais próximo de uma “Teoria de Tudo” da física está acerca da Teoria-M (a Teoria das Cordas está dentro desta), mas estamos mesmo um pouco distantes de encontrar uma resposta para esse enigma.

Pois, talvez, nem tudo possa ser realmente explicável. Os famosos Teoremas da Incompletude de Gödel afirmam que quando se trata de uma união de conceitos matemáticos muito profundos para tentar explicar alguma teoria ou estruturas excessivamente robustas e complexas, a própria matemática encontrará limitações inerentes em suas bases para interpretar e explicar o fenômeno de forma completa ou satisfatória.

O(s) Problema(s) Econômico(s)

O conceito de “Problema Econômico”, trazido por Paul Samuelson em seu icônico livro Economics, seria a união de diversos problemas econômicos que desestabilizam as economias, implicando não só consequências ruins para o crescimento e desenvolvimento das nações, mas afetariam o desenvolvimento social e as questões de subsistência humana.

Todos esses problemas centrais de uma economia estão inter-relacionados e são interdependentes. Eles surgem dos problemas econômicos fundamentais de escassez de meios e multiplicidade de fins que levam ao problema de escolha ou economia de recursos, portanto, não podendo ser apresentados como um só, isoladamente.

1º Problema: O que produzir e em quais quantidades?

O primeiro problema central de uma economia é decidir quais bens e serviços serão produzidos e em que quantidades. Isso envolve a alocação de recursos escassos em relação à composição da produção total da economia. Como os recursos são escassos, a sociedade deve decidir sobre os bens a serem produzidos: trigo, tecido, estradas, televisão, energia, edifícios e assim por diante.

Uma vez que a natureza dos bens a serem produzidos é decidida, então suas quantidades devem ser decididas. Quantas toneladas de trigo, televisões, milhões de kWs de energia, edifícios, etc. Como os recursos da economia são escassos, o problema da natureza dos bens e de suas quantidades deve ser decidido com base em prioridades ou preferências da sociedade.

Se a sociedade priorizar a produção de mais bens de consumo agora, terá menos no futuro. Uma prioridade mais alta em bens de capital implica menos bens de consumo agora e mais no futuro. Mas, uma vez que os recursos são escassos, se alguns bens são produzidos em grandes quantidades, alguns outros bens terão de ser produzidos em quantidades menores.

Suponha que a economia produza bens de capital e bens de consumo. Ao decidir a produção total da economia, a sociedade deve escolher a combinação de bens de capital e bens de consumo que seja compatível com seus recursos.

Ele não pode escolher simples escolher a combinação que está dentro de sua curva de possibilidade de produção, pois reflete a ineficiência econômica do sistema na forma de desemprego de recursos. Também não pode escolher a combinação que está fora das possibilidades atuais de produção da sociedade. A sociedade carece de recursos para produzir essa combinação de bens de capital e bens de consumo.

Terá, portanto, de escolher entre as combinações que proporcionam o maior nível de satisfação. Se a sociedade decidir ter mais bens de capital, ela escolherá a combinação de produtos para produzir; e se quiser mais bens de consumo, escolherá tal combinação de bens.

2º Problema: Como produzir esses bens?

O próximo problema básico de uma economia é decidir sobre as técnicas ou métodos a serem usados para produzir os bens necessários. Este problema depende principalmente da disponibilidade de recursos na economia.

Se houver terra disponível em abundância, pode haver cultivo extensivo. Se a terra for escassa, métodos intensivos de cultivo podem ser usados. Se a mão-de-obra for abundante, pode usar técnicas de mão-de-obra intensiva; enquanto, no caso de escassez de mão-de-obra, podem ser utilizadas técnicas de capital intensivo.

A técnica a ser usada também depende do tipo e da quantidade de bens a serem produzidos. Para produzir bens de capital e grandes resultados, máquinas e técnicas complicadas e caras são necessárias. Por outro lado, bens de consumo simples e pequenos produtos requerem máquinas pequenas e menos caras e técnicas comparativamente simples.

Além disso, deve-se decidir quais bens e serviços serão produzidos no setor público e quais bens e serviços serão produzidos no setor privado. Mas, ao escolher entre os diferentes métodos de produção, devem ser adotados métodos que conduzam a uma alocação eficiente de recursos e aumentem a produtividade geral da economia.

3º Problema: Para quem os bens são produzidos?

O terceiro problema básico a ser decidido é a distribuição dos bens entre os membros da sociedade. A distribuição de bens ou necessidades básicas de consumo e confortos de luxo e entre as famílias ocorre com base na distribuição da renda nacional.

Quem quer que possua os meios para comprar as mercadorias pode tê-los. Uma pessoa rica pode ter uma grande parte dos bens de luxo, e uma pessoa pobre pode ter mais quantidades dos bens de consumo básicos de que necessita. O resultado será provavelmente uma combinações de bens de luxos e artigos de primeira necessidade.

4º Problema: Com que eficiência os recursos estão sendo utilizados?

Este é um dos problemas básicos importantes de uma economia porque, tendo tomado as três decisões anteriores, a sociedade tem que ver se os recursos que possui estão sendo utilizados integralmente ou não. No caso de os recursos da economia estarem ociosos, ela deve encontrar maneiras e meios de utilizá-los plenamente.

Se a ociosidade de recursos, digamos, mão-de-obra, terra ou capital, se deva à alocação masculina, a sociedade terá que adotar medidas monetárias, fiscais ou físicas mediante as quais isso seja corrigido.

Cabe à sociedade decidir se produzirá mais bens de capital ou mais bens de consumo, ou ambos num possível nível de pleno emprego; uma economia onde os recursos disponíveis estão sendo totalmente utilizados, é caracterizado pela eficiência técnica ou pleno emprego.

Para manter-se nesse nível, a economia deve estar sempre aumentando a produção de alguns bens e serviços, renunciando outros.

5º Problema: A economia está crescendo?

O último problema é saber se a economia está crescendo ao longo do tempo, ou se está estagnada. Se a economia está estagnada em qualquer ponto dentro da curva de possibilidade de produção, ela deve ser movida para a curva de possibilidade de produção, em que a economia agora produz maiores quantidades de bens de consumo e bens de capital.

O crescimento econômico se dá por meio de uma maior taxa de formação de capital, que consiste na substituição dos bens de capital existentes por novos e mais produtivos, por meio da adoção de técnicas de produção mais eficientes ou por meio de inovações.

Por serem tantos problemas, intrinsecamente conectados, já sabemos que o busílis fica ainda mais complicado de se encontrar e, não tendo-o evidentemente definido, dificulta-se muito a formação de uma solução parcimoniosa que o resolva em absoluto, tornando a panaceia um sonho distante.

Diversas teorias e escolas do pensamento econômico buscam soluções, as vezes completamente diferentes e até opostas entre si, para tentar resolver esses problemas fundamentais da Economia. Algumas funcionam em alguns países e economias, sendo desastrosas em outras. Já outras foram aplicadas muitas vezes, não tendo sucesso sequer uma única vez. Mas, definitivamente, não temos um modelo econômico padrão que funcione de forma consistente e bem-sucedida; há soluções, é claro, mas até essas soluções possuem suas falhas e não são compreendidas em sua totalidade. Como os físicos que estudam as bases dos átomos procurando uma explicação para as estruturas do universo e da existência, sempre longe de dogmas e superstições, os economistas e pesquisadores sérios também mantém suas buscas, analisando dados incansavelmente, tentando encontrar uma solução para os males econômicos da humanidade.

 

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
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