Como ganhar uma eleição presidencial em apenas 10 passos

Cuidado com o que você deseja, pois seus desejos podem se tornar realidade” Autor Desconhecido

O assunto da moda é política. No bar, no trabalho, no almoço de família. Sempre ela aparece, sorrateira, quando menos se espera.

Se o assunto é futebol…a seleção brasileira…’’A CBF É CORRUPTA, DEL NERO PRESO AMANHÃ! ‘’

Quando, de repente, o assunto muda para educação…escolas públicas…’’DOUTRINAÇÃO IDEOLÓGICA E ESCOLA SEM PARTIDO!’’

Vamos tentar de novo, agora falaremos de São Paulo… o Centro e seus prédios…’’A CRACOLÂNDIA SE ESPALHOU GRAÇAS AO DÓRIA!’’

Outro assunto que sempre acaba aparecendo – e tenderá a cada vez mais aparecer – nas rodas de conversa é a eleição presidencial de 2018, na qual candidatos duelarão para alcançar o posto mais alto do executivo nacional. Direita e esquerda preparam suas armas políticas e ficam a postos, ainda mais se a eleição for antecipada devido aos escândalos JBS, Odebrecht e da Petrobras.


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Por isso, pensando em auxiliar o futuro presidente dessa nação, preparei uma lista de 10 ideias fundamentais que devem aparecer na corrida eleitoral de 2018, ou até mesmo antes:

  1. Fale mal dos políticos. Deputados, Senadores, Governadores e Presidentes, nenhum deve escapar. Eles estão em baixa. Mencione os altíssimos salários e pouco (ou nenhum) retorno que eles trazem ao país. Segundo a LAJE Pesquisas, estima-se que a cada 10 vezes que culpamos os políticos seja qual for o motivo, a intenção de voto cresce em 1 por cento, com 0% de significância estatística. Caso você se auto definir como gestor, e dizer que não é político, a elevação nas intenções de voto pode chegar a 50%.
  2. Diga que o mundo está muito pior do que há alguns anos atrás. Esqueça esse papinho de redução da desigualdade, discurso pacifista e etc. Mencione os atentados terroristas na Europa, e não se esqueça de terminar com: “logo logo, o Brasil será vítima”. Não esqueça de dizer do aumento do terrorismo islâmico, mas omita que as maiores vítimas também são muçulmanos. O eixo da segurança pode ser decisivo e te eleger!
  3. Mencione planos de dominância externa. Brade aos quatro ventos que estamos vulneráveis frente às ameaças que vem nos afligindo, tanto físicas quanto ideológicas. Deixe o assunto bem genérico mesmo. Em seguida, aguarde alguns dias e veja como os grupos de direita e de esquerda reagiram, e quem eles definiram como inimigo. Embarque no assunto que tenha mais apoio. Não esqueça: a missão é a vitória nas urnas!
  4. Fale de redução generalizada de impostos. O que não dá é para ficar com uma carga tributária de 36% do PIB. Se alguém te perguntar sobre os riscos de tal política sobre a dívida pública, desconverse! Mencione que o Japão tem mais de 200% do PIB de dívida e eles estão muito bem obrigado. EUA mais de 100%. Fale também que uma redução de impostos para empresas e pessoas físicas pode ocasionar um crescimento inesperado da economia, incentivando as empresas a investir e as pessoas a consumir. É tão lógico, mal precisa de comprovação empírica.
  5. Duvide publicamente da mídia. Mostre o quanto a mídia te ataca, te persegue. Uma dica interessante é procurar nas redes sociais algumas desculpas que seus seguidores dão quando você é acusado de algo! Há muita coisa boa por lá, mesmo quando a mídia descobriu algo podre e verídico sobre você. Use o termo FAKE NEWS só em último caso, não tem caído tão bem ultimamente. Aposte nas mídias alternativas, elas podem dar resultado.
  6. Mostre que você tem apoio popular. Faça que nem os jogadores de futebol: elabore um DVD só com as jogadas boas, só com gols magníficos. Se for a um debate, compartilhe apenas o momento da lacrada que você deu no candidato adversário. Coloque o “oclinho” escuro na sua cara, tornando o vídeo em um Gif/Meme. Segundo a LAJE Pesquisas, cada meme viralizado reduz em 2,5% a sua rejeição como candidato.
  7. Culpe os bancos pelo mal desse país. Talvez esse seja o mais importante. Mencione os spreads bancários. Não se esqueça do juro de cheque especial, próximo de 350% ao ano. Omita a parte de como os juros chegaram a esse patamar; é necessário impressionar o eleitor! Não se esqueça de falar que a atividade principal dos bancos é a especulação, esse sim dá votos.
  8. Mostre ceticismo quanto ao comércio internacional. Ignore os ganhos de bem-estar provenientes do livre comércio de serviços e mercadorias e critique duramente a globalização. Mostre que a questão da ameaça externa (ponto 3) está intrinsicamente ligada ao livre comércio. Aguarde a próxima pesquisa de intenção de voto; se subir, agregue esse discurso aos anteriores.
  9. Use a história a seu favor, mesmo que isso signifique uma releitura criativa. Diversos eventos históricos têm sido reestudados e reavaliados ao longo do tempo. Não tenha medo de citar autores desconhecidos ou que não tenha apelo popular. Quando menos se espera, eles podem ser a referência daquele assunto e você estará bem respaldado. Afinal, o que é verdade? Em tempos de informação ilimitada e da pós-verdade, a resposta pode não ser tão óbvia e você deve utilizar isso como trunfo. Não se esqueça: no Brasil, até o passado é incerto.
  10. Por último, fale que você pertence a “nova política”. A política transparente, na qual o caixa dois é coisa do passado. Inclusive, se possível, defina esse movimento como “nova forma da gestão pública”; afinal, o termo “política” pode te atrapalhar na corrida ao Palácio da Alvorada. Se te acusarem de pertencer à velha política use as dicas 3, 5, 6 e 9, logo acima. Mostre que você tem pulso firme e pode transformar o Brasil.

Não se esqueça! Ninguém entra numa competição para perder.

Seguindo esses 10 passos, não há erro. Assim, apenas em 1o de Janeiro de 2019 você precisa pensar nas reais políticas que vai adotar, afinal: treino é treino, jogo é jogo.

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)
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