Desemprego X PIB: o pior ainda está por vir

Definitivamente, do ponto de vista econômico, o ano de 2015 não vai deixar saudades. Combinando uma das maiores recessões das últimas décadas com inflação alta, aumento do desemprego, elevação da dívida pública e descontrole fiscal, a nação brasileira vem passando por um período difícil. A queda da confiança e das perspectivas para o futuro advém do péssimo momento atual.

Contudo, um indicador específico é que mais preocupa neste momento de instabilidade econômica e política: a taxa de desemprego. Depois de anos “dourados”, de quase pleno-emprego, nos quais o índice de desemprego medido pela PNAD chegou próximo a 6%, uma reviravolta marcante foi percebida. No terceiro trimestre de 2015, a taxa de desocupação chegou a 8,9%, elevação de 2.7 pontos percentuais desde o valor mais baixo da série (6,2%), no quarto trimestre de 2012.

Impossível isolar esse efeito do aumento do desemprego dos outros indicadores econômicos, como é o caso do crescimento da economia, medida por meio da evolução do Produto Interno Bruto (PIB). Vejamos o comportamento desses dois índices desde 2012:

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Desemprego – Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais de idade, na semana de referência | Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.

PIB – Série encadeada do índice de volume trimestral com ajuste sazonal | Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais.

As duas variáveis mostram evolução contrária ao longo do tempo, isto é, quando um sobe, o outro desce. Isso faz sentido economicamente: quando a demanda por produtos e serviços cai, normalmente as empresas ajustam o número de trabalhadores para a nova situação econômica, cortando alguns postos de trabalho. Mas aqui entra um fator novo: o desemprego não responde apenas para a situação atual, mas principalmente para o que se espera para o futuro.

Vejamos este mesmo gráfico, agora separado em três períodos distintos, os períodos I, II e III:

Gra´f 2 - desem

Período I – No ano de 2012, o PIB cresceu de maneira constante, e o desemprego ficou praticamente estável no período. Era preciso ter mais indícios de um crescimento econômico estável para contratar mais gente!

Período II – Vai do início de 2013 até o final de 2014. Redução significativa do desemprego com estagnação do crescimento do PIB. Nesse período, apesar da reversão da evolução do PIB de períodos anteriores, as empresas relutam em demitir seus empregados, haja vista o custo de desligamento e a própria formação de capital humano das empresas.

Inclusive, este é um comportamento conhecido na teoria econômica e das firmas. Há uma defasagem natural entre a taxa de desemprego e a variação do PIB, justamente pelo fato de as empresas aguardarem mais informações acerca do cenário econômico e das perspectivas. Quando se nota que a situação irá se agravar no futuro, aí sim as empresas iniciam a readequação de suas equipes de trabalho.

Era melhor esperar um pouco, afinal estávamos em ano de eleição…

Período III – Após a reeleição de Dilma Rousseff ao posto de presidente, a expectativa quanto a recuperação econômica vai por água abaixo, e a sangria do mercado de trabalho começou. A guinada da curva de desemprego é impressionante, e mais intensa do que a redução do índice do PIB. Chegamos a 8,9%, e a possibilidade de atingirmos dois dígitos nunca pareceu tão real. De mesmo modo, a chance de uma recessão em dois anos seguidos (na casa de -4% em 2015 e outros -3% em 2016) está estampada em qualquer previsão econômica.

Como as expectativas para 2016 estão longe do que poderia se chamar de “boas”, o cenário para o emprego nunca foi tão sombrio.

O governo diz que existe uma turma do quanto “pior, melhor”. Para mim, quanto melhor para o Brasil, melhor. A questão é que, definitivamente, as políticas realizadas nos últimos anos foram péssimas para a economia brasileira. Estamos caminhando a passos largos para uma taxa de desemprego maior que 10% já no início de 2016, o que pode ser o prelúdio não só mais de uma crise econômica ou política, mas também social. O aumento do desemprego é o desfecho mais cruel que uma nação pode ter depois de tantos anos de irresponsabilidade fiscal e descaso com os recursos públicos.

arthur-assin  

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

Um Comentário

  1. O do DIEESE já passa de 15% faz tempo, mas o IBGE é do governo, o populismo barato regado a contabilidade criativa manda que para a pessoa ser classificada como desempregado ela tem que ameaçar o entrevistador.

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