Onde foi parar o Eleitor Mediano? Alguém o viu por aí?

A teoria do eleitor mediano anda meio desacreditada.  Antes de discutir um pouco mais a respeito dessa afirmação, vamos relembrar o que essa teoria diz:

“(…) em um eleitorado distribuído de forma normal ao longo de uma dada escala de preferências (por exemplo, o eixo esquerda x ­direita), tende a vencer a eleição quem conquistar o voto de um hipotético “eleitor mediano”. Esse “eleitor mediano” tem metade dos votantes à sua direita, outra metade à sua esquerda. Na disputa entre um concorrente de esquerda e outro de direita, resumidamente, cada um já teria garantidos os eleitores do seu lado do espectro ideológico e, portanto, faltaria a ele conquistar apenas mais um voto para ter a maioria. O voto decisivo seria o do eleitor mediano. Quem cativasse esse votante hipotético, ganharia a eleição. Por essa razão, há uma tendência dos partidos à esquerda e à direita de rumar para o centro.”

Retirado do artigo: https://terracoeconomico.com.br/bolsonaro-e-o-eleitor-mediano

Seguindo essa teoria, previ – em 2016 – que Jair Bolsonaro não conseguiria se eleger pois não caminharia para o centro político, e não conquistaria, dessa forma, a confiança do eleitor mediano.

Ledo engano! Hoje, faltando pouco para o segundo turno da eleição de 2018 – e tendo em vista que quase acabou no primeiro turno mesmo -, Jair Bolsonaro está com um pé dentro do Palácio do Alvorada. As pesquisas de intenção de votos dão ao capitão em torno de 60% dos votos válidos, com pequenas variações entre os levantamentos dos institutos de pesquisa. Sendo assim, a vantagem é larga em favor do candidato do PSL e seus eleitores mostram mais certeza do voto do que os de seu adversário do PT, Fernando Haddad. A fatura está praticamente liquidada.

Então, vejamos, onde foi parar o eleitor mediano? Será que a teoria é furada? Ou será que o esse tipo de eleitor também se transformou ao longo dos últimos anos?

Primeiramente, não tenho vergonha alguma em dizer que errei a previsão. Subestimei vários efeitos que foram determinantes para a [mais que provável] vitória de Jair Bolsonaro, como por exemplo: (i) O avanço da operação Lava-Jato e a consequente rejeição aos políticos tradicionais e seus métodos de atração dos eleitores; (ii) o enfraquecimento do governo Michel Temer, mergulhado em suspeitas de corrupção e crises institucionais; (iii) o vai e vem de decisões relacionadas à prisão de Lula; (iv) o aprofundamento da crise econômica iniciada em 2015, e o efeito devastador no desemprego e na renda do brasileiro; entre outros motivos.

Aqui no Terraço, os textos são assinados, e não deletamos artigos antigos. A ideia de mantê-los está no cerne da fundação desse espaço, que é o de promover o debate, discutir ideias e, de vez em quando, dar alguns pitacos sobre tudo e todos, e isso envolve política, obviamente.

Prosseguindo, volto aqui, humildemente, para avaliar como o discurso de Jair Bolsonaro acabou atraindo o eleitor mediano; ou, ao menos, lhe pareceu o menos pior nesse segundo turno. Note que estou me referindo ao eleitor médio do candidato do PSL. Dessa forma, acabo excluindo aquele grupo que dá suporte ao capitão desde 2015 – 2016, conforme discuti nesse artigo, e pego aqueles eleitores que votam nele mais por rejeição à alternativa posta na mesa do que nas próprias propostas de Bolsonaro.


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É esse eleitor – que não é fascista, preconceituoso, e todos os adjetivos que quem vai perder tenta colar neles – que acabará provavelmente dando a vitória ao capitão na votação do dia 28/10. Esse eleitor praticamente releva as declarações mais fortes vindas de Bolsonaro; na verdade, essas declarações são até aceitáveis haja vista a alternativa que julgam aterrorizadora vinda de uma candidatura do PT, que parece ter parado no tempo e não ter feito sequer 1% da autocrítica claramente necessária para avançar no eleitorado indeciso e de centro. Olhando em perspectiva, o PT fez de tudo para perder o pleito de 2018.

Apenas para citar algumas: (i) as visitas de Haddad a Lula na prisão, (ii) trapalhadas homéricas na escolha de pessoas para comandar áreas chave da campanha (caso Gabrielli na área econômica de Haddad), (iii) idas e vindas em decisões, como a sobre fazer uma nova constituinte, (iv) influências de pessoas rejeitadas pelos eleitores, como José Dirceu, com suas declarações polêmicas; (v) posicionamento contra instituições que são aceitas e incentivadas pela população, como a Operação Lava Jato e sua condução pelo juiz Sérgio Moro. Todo esse caldo de desconfiança com o PT e Haddad fornecem ampla vantagem para Bolsonaro, que sequer precisa comparecer à debates para reafirmar suas posições.

Assim, o eleitor mediano hoje, acima de tudo, é um antipetista. Para esse eleitor, o balanço dos últimos governos petistas é negativo, e isso já basta para promover a alternância de poder tão desejada no sistema democrático. Aliás, 30% dos que mencionam que votarão em Bolsonaro mencionam a “o desejo de mudança, de renovação ou alternância de poder”, segundo pesquisa Datafolha.

Bolsonaro sequer teve que fazer um movimento significativo ao centro do espectro político para ganhar eleitorado, como fez Lula em 2002. É verdade que alguns assuntos ganharam espaço em seu programa de governo que sinalizava essa ligeira caminhada ao centro, como o aumento de benefício do Bolsa Família e a criação do 13o salário vinculado ao Programa Social. A governabilidade também foi tratada mais a sério pelo candidato do PSL, mostrando que teria sim força para aprovar no Congresso projetos importantes previstos no seu plano de governo. O programa liberal na parte econômica, encabeçada por Paulo Guedes, também atraiu a simpatia de boa parte do mercado financeiro e do mundo dos negócios.

Mas, convenhamos: a caminhada ao centro que ele precisou dar foi muito menor do que qualquer um imaginaria tempos atrás, inclusive quem vos escreve.

E esqueça a história de fake news, corrente no whatsapp, caixa dois do zap zap, etc. O sentimento antipetista foi sendo construído aos poucos, desde os primeiros anos de governo Lula, e foi aumentando e ganhando corpo desde então, principalmente a partir de 2013 e após o impeachment de Dilma Rousseff, conforme conta brilhantemente Rodrigo Vizeu, no podcast da Folha ‘Presidente da Semana’. A estratégia de ‘culpar o outro’ pelo próprio fracasso não cola mais.

Por fim, veja um comentário em uma postagem no perfil do Instagram do Terraço, recebido nos últimos dias:

O eleitor mediano, por todos os motivos expostos, e ao que tudo indica, irá de Bolsonaro em 2018.

Arthur Solow Editor Terraço Econômico

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

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