O ditado “diga-me com quem andas e te direi quem és” é conhecido por todos, mas nem sempre os efeitos são da forma com que pensamos. Quando ele vem à cabeça, pensamos na criança que copia o coleguinha ou no adolescente que bebe para se aparecer. Temos na nossa intuição que esse efeito existe, mas pouca reflexão ele causa. Este texto vem com o intuito de te mostrar até onde esse efeito pode ir e quais suas implicações na formulação de políticas públicas.
Em 2015, Leonardo Bursztyn e Robert Jensen resolveram estudar como os estudantes são influenciados por seus colegas. Os economistas então elaboraram um experimento com alunos do ensino médio de quatro escolas diferentes. Aos estudantes, foi ofertado um curso preparatório para o SAT, uma espécie de vestibular nos EUA. Como os eles eram de baixa renda e frequentavam escolas de baixo desempenho, era, aparentemente, uma oferta interessante.
Dois formulários diferentes foram distribuídos. Parte dos alunos recebeu um cujas respostas seriam mantidas em sigilo a todos, incluindo os colegas de sua turma. A outra recebeu um que seria mantido em sigilo de todos os alunos, exceto os de sua própria turma. Além disso, havia uma divisão nas turmas: as melhores eram chamadas de honors classes e as piores, non-honors classes. Assim, eles conseguiriam observar tanto as influências negativas, quanto as positivas.
O que ocorreu foi que nas non-honors classes a taxa de inscritos foi 11% mais baixa quando os estudantes acreditavam que os colegas de classe saberiam de sua escolha. Em contrapartida, nas honor classes, não houve diferença nos resultados. Além disso, o formulário também perguntava sobre popularidade e foi notado que os alunos que se importavam com popularidade não se inscreviam no curso, caso estivessem inscritos nas piores turmas. Em outras palavras, os estudantes tomavam decisão de acordo com a norma da sala.
Em outra análise sobre efeito dos pares na educação, Andrés Barrios Fernández utilizou dados sobre a educação do Chile e, tirando proveito das diferentes políticas de empréstimos aos estudantes, estudou como estar exposto a pessoas que frequentam a universidade pode afetar a decisão dos indivíduos. O estudo identificou que possuir vizinhos universitários próximos aumentava a probabilidade de se inscrever no ensino superior em 10pp.
Queria trazer por último o estudo dos economistas Patrick Bayer, Randi Hjalmarsson, e David Pozen sobre jovens encarcerados. Os três analisaram dados de mais de 8.000 indivíduos, de 169 prisões para menores em conflito com a lei (juvenile correctional facilities). As informações contemplavam desde antecedentes criminais até atividades realizadas nas instituições e as prisões realizadas no ano seguinte à liberação de cada indivíduo. O estudo identificou que jovens expostos a outros jovens que cometeram crimes semelhantes tinham probabilidade de reincidência no delito maior. Este reforço era significativo para diversos tipos de crimes como roubo, violência sexual e agressão. Em outras palavras, os colegas influenciavam suas ações.
Note que os três estudos geram várias reflexões. Afinal, seria melhor dividir uma sala de acordo com o desempenho dos alunos para potencializar a capacidade de alguns? Ou seria melhor dividir de forma equilibrada para não deixar parte da turma cair em desgraça? Se a mera influência dos pares aumenta a probabilidade do aluno ir para a universidade, será que não são necessárias mais políticas de divulgação além das que visam sanar a restrição orçamentárias dos estudantes? E como dividir as cadeias de forma que os indivíduos não voltem a cometer os mesmos crimes?
Bom, a missão de chegar a alguma dessas respostas fica a cargo dos leitores. Por enquanto, só queria provocar e mostrar que “diga-me com quem andas que te direi quem és” não apenas é verdade, como é algo que transcende questões mundanas.
André Yukio
Matemático pela USP, Mestre em Economia pela FGV, autor do EstatSite.com.br