Como um jogo pode salvar a Nintendo: o caso Pokémon GO

Invasões de propriedades privadas, acidentes de carro, emboscadas para roubos e dentre outras peripécias. Calma lá! Isso não é resultado do aumento repentino da violência nas cidades. [1] Acredite ou não, esses casos estão relacionados com o lançamento do Game Pokémon GO e todo o frenesi e polemicas geradas, lançado no começo no início de julho pela Nintendo, em parceria com a empresa Niantic.

De forma resumida, o objetivo do jogo de celular é encontrar e capturar o maior número possível de Pokémons! O grande diferencial do Pokémon GO é a utilização da tecnologia denominada ‘realidade aumentada’, um programa que funde a realidade virtual e real, possibilitando que os jogadores encontrem e capturem os famosos bichinhos nos mais diversos lugares, como ruas, escolas, parques, espaços públicos e também estabelecimentos comerciais. A lógica é semelhante ao Google Glass (aquele óculos meio esquisito do Google).

[caption id="attachment_7240" align="aligncenter" width="624"]im2 Até o Charmander apareceu na Globo! Foto: Globo/Fantástico.[/caption]

Em um primeiro momento parece algo bobo e infantil. Mas, ao que parece, o aplicativo criado pela Nintendo pode salvar a empresa japonesa de anos seguidos de resultados irregulares e de promessas que nunca vingavam, como por exemplo o desastre que foi o Nintendo Wii U.

Para quem não conhece, a história por trás da criação do aplicativo é bastante inspiradora. Em um processo contínuo e apaixonante, John Hanke, presidente da Niantic, passou 20 anos estudando e trabalhando para criar uma realidade virtual para os viciados em Pokémons. Passando pela paixão por mapas, pelo Keyhole, Google Earth, Google Maps, Google Street View, John conseguiu construir o que provavelmente virá a ser sua obra prima digital. [2]

20 anos, meus caros amigos. E depois tem gente que fala que empreendedorismo é sorte.

Altos e Baixos: Como estava a Nintendo nos últimos 5 anos?

Os resultados dos últimos 5 anos da Nintendo não tem sido muito animadores. Desde 2006, o grande carro-chefe de vendas era o Nintendo Wii, que se destaca pelo seu controle sem fios e pela possibilidade de receber mensagens e atualizações através da internet durante o modo stand-by. Seus principais concorrentes são o Xbox 360, da Microsoft, e o Playstation 3, da Sony. Em 2013, após vendas fracas, a Nintendo confirmou a produção descontinuada do Wii no Japão e na Europa, passando a postar suas fichas no Wii U. As vendas do console, que nunca foram lá essas coisas são apontadas como motivo para a demora da recuperação financeira da Nintendo.

Em 2014, a chance de falência da Nintendo era de 75%, relativamente maior a da Sony, que na época era de 46% [3]. Dito isso, vejam a evolução das ações da Nintendo, lá na bolsa de Tóquio:

[caption id="attachment_7241" align="aligncenter" width="616"]Fonte: http://markets.ft.com/research/Markets/Tearsheets/Summary?s=7974:TYO Fonte: http://goo.gl/mwRUw1[/caption]

Notem que o patamar atual – 31.770 ienes –não foi atingido nos últimos anos. Na verdade, a última data que a Nintendo chegou neste patamar foi em abril de 2010, quando a ação valia 32.100 ienes. O ápice foi atingido em novembro de 2007, quando a ação chegou a valer 70.500 ienes, no auge das vendas do Nintendo Wii. [3]

Dessa forma, as ações nos últimos cinco anos responderam aos resultados irregulares da empresa, conforme o gráfico a seguir:

[caption id="attachment_7249" align="aligncenter" width="1031"]Fonte: http://goo.gl/RDchBm Fonte: http://goo.gl/RDchBm[/caption]

Se os resultados anteriores foram bastante desequilibrados, o mesmo não pode se esperar para o próximo ano.  A grande sacada na Nintendo foi perceber que seus concorrentes não eram mais vídeo-games, como o Xbox e o Playstation. O concorrente real eram os smartphones.

Pokémon Go! O céu é o limite? E lá tem Pokémons? O aplicativo está disponível apenas nos EUA, na Austrália, na Nova Zelândia e na Alemanha. Apenas nestas localidades, já foram contabilizados mais de 15 milhões de downloads até 13/07. Os números devem aumentar nos próximos dias, à medida que o jogo é liberado em novos países. Há a expectativa que o jogo seja liberado no Brasil na quinta-feira, dia 21/07. Outro aspecto que chama a atenção é o tempo despendido pelos usuários no Pokémon GO em comparação a outros aplicativos. Vejamos o gráfico a seguir: im5

Pokémon GO já ultrapassou o Facebook quando se trata de tempo gasto no aplicativo. Em média, um usuário gasta 22 minutos na rede social e 18 minutos no Snapchat. No jogo, são gastos 33 minutos por dia.

Quando há gente chorando há pessoas vendendo lenços, não é mesmo? Dessa forma, com a disseminação avassaladora do jogo, já surgiram serviços para quem quer caçar pokémons sem a preocupação de ser assaltado ou bater o carro, e de quebra dirigir em um carro todo estilizado, um verdadeiro Mestre Pokémon! Este capitalismo selvagem… [4]

O futuro é, por definição, incerto. Mas o sucesso do Pokémon GO é indiscutível. O tempo definirá se todo esse sucesso será momentâneo ou a será a pedra fundamental de uma nova fase da Nintendo CO e de toda a indústria de jogos, quiçá da tecnologia. Tudo indica que é a segunda hipótese.

Arthur Solow Editor Terraço Econômico

Notas

[1] Ver mais aqui http://entretenimento.r7.com/blogs/keila-jimenez/2016/07/15/os-perigos-do-pokemon-go/. E olha que a polícia espanhola já fez até um guia de segurança para quem for sair por aí caçando Pokémon: http://link.estadao.com.br/noticias/games,policia-espanhola-cria-guia-de-seguranca-para-jogadores-de-pokemon-go,10000063532

[2] Mais detalhes aqui: https ://pokemongobr.club/2016/07/criador-do-pokemon-go-historia-de-longo-sucesso/

[3] Para mais detalhes, ver a página na Macroaxis: https://www.macroaxis.com/invest/market/NTDOY–fundamentals–Nintendo-Co-Ltd. Atualmente, a chance de falência é de apenas 47%, ainda maior que a da Sony, que é de 31% segundo a Macroaxis.

[3]Para acompanhamento das ações desde o início, ver o Google Finance: https://www.google.com/finance?q=TYO%3A7974&ei=YZOOV9niG6GHe_flgvgN

[4] Ver mais aqui: http://www.estadao.com.br/jornal-do-carro/noticias/carros,americano-cria-servico-de-transporte-para-cacar-pokemon,29161,0.htm

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Yogh - Especialistas em WordPress