Convidados Especiais | Marcos Fernandes da Silva
A economia é científica sim, assim como a meteorologia. Isso não é piada. A meteorologia e a climatologia são campos estabelecidos e derivados da física onde o uso de supercomputadores e modelos dinâmicos não lineares, complexos, são aplicados com êxito relativo na previsão do tempo. O mercado atesta isso pagando muito bem para meteorologistas que dão informações sobre produtos agrícolas, por exemplo, para operadores das bolsas de mercadorias e futuro no mundo.
No cotidiano do microeconomista também podemos ver o uso de modelos simples, marshallinos (nada de equilíbrio geral) para prever vendas, aumentos e diminuições de oferta e demanda, variações de elasticidade-preço diante de uma fusão e/ou aquisição e por aí vai. No arroz com feijão do mercado financeiro também: podemos operar com modelos de DA-OA [Demanda Agregada – Oferta Agregada], com as boas e velhas IS-LM, para fazer previsões. Mas tudo com modéstia deveria ser feito. O erro dos economistas é a soberba.
Marcos Fernandes da Silva, Professor de Economia da FGV
Agora, no âmbito da pesquisa sobre desenvolvimento e economia política, bem aí precisamos mudar de paradigma, aproximando cada vez mais a economia da biologia, mesmo por que a economia não deixa de ser zoologia de homo sapiens (somos bichos racionais e conscientes como muitos outros animais – sim, até o polvo gigante do pacífico tem consciência de si mesmo). Por isso o uso de jogos evolucionários, o desenvolvimento de modelos que endogenizam preferências são fronteira do conhecimento. Por outro lado, em macroeconomia a Crise de 2008 inicia um processo de revisão da esquizofrenia Lucasiana (Lucas, claro, que teima em espancar a realidade) com trabalhos de racionalidade limitada, incerteza, irracionalidade relativa, etc.
Mas se somos tão parecidos com outros animais, somos diferentes numa coisa: somos e devemos ser animais morais, como atesta Adam Smith em Teoria dos Sentimentos Morais. Neste caso, a economia é uma ciência moral, pois falamos muito sobre como o mundo social DEVE ser. Muitos economistas esquecem isso e vestem de positivos julgamentos normativos.
Um dos grandes problemas da nossa profissão hoje é a invasão dos físicos e engenheiros que nunca estudaram teoria social. Muitos nem tem idéia de que seriam melhor biólogos trabalhando com a gente – ou como a gente. Mas isso é tema para outra conversa.
Marcos Fernandes Gonçalves da Silva Doutor em Economia pela USP, Professor de Economia na Fundação Getulio Vargas Autor dos livros “Ética e Economia”, “Economia Política da Corrupção no Brasil”