Em defesa das finanças pessoais na educação do brasileiro

Discussões em torno de finanças pessoais estão em praticamente todos os lugares nos últimos tempos. O boom de curiosidade a respeito deste assunto veio com o recente meme-financeiro da Bettina, a milionária (de verdade e da propaganda da Empiricus). Mas, para além de piadas a respeito, o assunto é bastante importante.

De tempos mais antigos temos o Gustavo Cerbasi. Mais recentemente, Nathalia Arcuri. Ainda mais recentemente, esta humilde coluna do Terraço Econômico. O assunto está cada vez mais presente e suscitando um questionamento que, na maioria das vezes, não é bem respondido: qual a utilidade das finanças pessoais para mim?

Verdade seja dita: entender sobre os rumos do seu dinheiro independe da profissão que se tenha. Muito provavelmente você conhece algum economista ou contador que, apesar de lidar com alocações financeiras ou cenários do mercado diariamente, não sabe exatamente o que bem fazer com seu dinheiro ao final do mês – o que implica que, mesmo quando há sobras, apesar de mostrar excelentes caminhos durante horário comercial na empresa em que trabalha, não sabe responder a um simples questionamento a respeito de como investe e se entende o porquê. Este primeiro ponto pode parecer desanimador (“então ninguém sabe sobre isso”), mas na verdade é um alerta (“todo mundo deveria saber”).

Entender sobre os caminhos do seu dinheiro, o que envolve conhecer em detalhes o quanto e como entra, quais são as despesas e o que eventualmente sobra ajuda a ter uma tranquilidade num aspecto que preocupa grande parte dos brasileiros. Inicialmente pode se mostrar como assustador, com constatações como “nossa, eu gasto tudo isso?” ou “imagina quanto poderia sobrar se eu parasse de gastar com isso aqui que eu nem gosto tanto assim”, ou mesmo “ah, é por isso que nunca me sobra dinheiro”. Esse segundo ponto, apesar de parecer um sadomasoquismo (você precisa sentir essa dor se quiser mudar os rumos de sua vida financeira), é importante.

Após entender o que se passa com seu dinheiro, você precisa começar a tomar atitudes. Sendo seu caso de endividamento, de empate entre receitas e despesas ou mesmo de sobra, para além do diagnóstico também há a necessidade de pensar no que fazer com essa informação. Neste aspecto, as finanças pessoais ajudam bastante, com dicas como “procurar as dívidas mais caras e de curto prazo para pagar primeiro”, “verificar o quê de suas despesas pode ser cortado sem ter prejuízo em bem-estar para que sobre dinheiro” ou mesmo “procurar entender sobre opções de reserva e investimento para onde esse dinheiro que sobra pode ir”. Este terceiro ponto é indispensável.

Neste momento, você também pode estar pensando em um segundo questionamento. “Mas isso não é só pra quem tem muito dinheiro?”. Esse é justamente o ponto que deveria ser mais desmistificado em todo e qualquer material de finanças pessoais: não, entender sobre dinheiro não é só para quem ganha muito dinheiro, é para todo mundo. Aliás, como já dito aqui, a própria concepção de “pessoa que tem dinheiro” não é simplesmente baseada em consumo e pode ser muito mais ampla do que parece.

Uma crítica feita rotineiramente a este tipo de conteúdo é que ele costuma ser falacioso ou muito imaginativo. Propagandas como essa da Empiricus que dão a entender que “é simples assim sair de mil reais para um milhão” contribuem para esse tipo de coisa. Dizer de maneira direta o que você não consegue provar que conseguiu também de maneira simples cria um ar negativo e de desconfiança, é verdade.

Ainda assim, colocar absoluto descrédito sobre um conteúdo que tem real potencial de te ajudar a entender sobre seu próprio dinheiro e tornar sua vida mais confortável financeiramente é, no mínimo, problemático. Qual é o problema de ensinar algo que pode tornar a vida mais tranquila no futuro? Reforço aqui: contanto que seja comprovável e esteja ligado a melhorias reais, não a puro e simples propagandismo.

Em um país cujas contas públicas demonstram claramente que o arcabouço de proteção social não é suficientemente coberto pelos recursos (e, aliás, cada vez menos será no futuro), ensinar sobre a importância de depender menos do auxílio do Estado e entender mais sobre como estar do lado que ganha (e não do lado que paga) os juros é fundamental.

É preciso defender a difusão da boa educação financeira, apesar da fantasiosa ideia que se tem sobre elas de que não envolvem complicadas decisões que podem realmente mudar sua vida. Ou, em outras palavras: brigue com o mensageiro, não com a altamente relevante mensagem.

  Caio Augusto, Editor do Terraço Econômico, assina este artigo.

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.

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