O que é inverno cripto e como isso impacta os preços das criptomoedas?

Inverno Cripto é o período em que verificamos que as cotações das criptomoedas caem significativamente e, para quem tem esses ativos em carteira, perdas enormes são sentidas por um período longo, de alguns meses. 

Bitcoin caindo mais da metade do valor em 90 dias. Ether vendo uma redução do preço em dólar de quase 75% nesse mesmo espaço de tempo. Já pensou? Essas duas quedas aconteceram de fato entre os meses de abril e junho de 2022. Mas não foi a primeira vez que isso aconteceu na história das criptomoedas.

Nesses momentos é preciso repensar as estratégias e, sem muitas surpresas, é justamente nessa hora que costumamos ver muita gente saindo do mercado cripto. Aparentemente isso não é sentido quando os preços estão subindo, mas essa enorme volatilidade é comum nas moedas digitais e, antes de entrar nesse mercado, você precisa estar ciente disso.

Uma comparação com o sistema financeiro tradicional da renda variável ajuda a entender o que Inverno Cripto significa: no mercado tradicional significa que é o momento de baixa do preço das ações, também conhecido como bear market.

Como saber que um inverno cripto se aproxima?

Existem basicamente dois  riscos – ou grupos de questões a serem observadas – que sinalizam que um Inverno Cripto se aproxima.

Em primeiro lugar, vemos questões relacionadas a projetos de maneira direta, como por exemplo alguma deficiência crônica de origem tecnológica que impacta outros projetos com base parecida. O segundo grupo é o de condições externas ao universo cripto mas que também acabam afetando o mercado cripto, por exemplo a alteração na liquidez financeira global. Trata-se do chamado risco de mercado, ao qual todos os ativos financeiros estão sujeitos.

Problemas pontuais em um projeto podem se espalhar pelo mercado

Sobre o primeiro grupo de possibilidades, o que pode acontecer por exemplo é o caso de uma falha tecnológica ferir a confiança o suficiente para gerar uma queda forte e rápida na cotação.

Um recente caso que ilustra isso foi quando a stablecoin TerraUSD ruiu por problemas com sua moeda digital associada, a Luna. Pense no efeito em cascata que um projeto tido como estável oferece a todo o mercado: há o risco das demais stablecoins serem afetadas e caírem no limbo da desconfiança, ou esse efeito de desconfiança transbordar para outros projetos inclusive aqueles que não possuem relação com o problema. 

Não se trata de saber exatamente qual a causa do abalo, mas notar que aquele abalo aconteceu. Em um mercado que nunca dorme, esse sentimento de ansiedade geralmente costuma resultar em quedas fortes durante curtos períodos de tempo.

Vale observarmos a analogia com o mercado financeiro tradicional para entender como isso funciona em estruturas mais conhecidas amplamente. No período em que tivemos o início da pandemia, por exemplo, as atividades foram reduzidas fortemente da noite para o dia e commodities como o petróleo viram seus preços desabarem, pois existia uma expectativa de queda brusca na demanda devido a paralisação total das cadeias produtivas.

No fim das contas, qual o efeito prático disso tudo? Primeiramente uma queda na cotação de ações de empresas de commodities e, prolongando-se o efeito, uma queda dos mercados de ações como um todo.

Ah, um aspecto que não pode ficar de fora dessa análise é a possibilidade de um movimento forçado nesse mercado, como por exemplo um pump and dump. No final das contas, essa é uma categoria onde entra especificamente uma fraude em que pessoas forçam o preço de acordo com interesses específicos. 

Esse tipo de situação pode não ter relação alguma com aspectos tecnológicos de algum projeto, mas, tal qual o que apresentamos até agora, pode fazer com que o efeito seja inicialmente pontual e depois se espalhe pelo mercado.

Risco de Mercado: fique de olho nos movimentos globais de liquidez

Quando olhamos para todos os mercados financeiros, dos mais tradicionais ao das criptomoedas, em períodos de crise ocorre um reajuste no direcionamento dos investimentos que afeta a quantidade de dinheiro disponível para alguns tipos de investimentos na economia global. 

Dessa forma, ocorre uma redução de capital em alguns mercados e a injeção de dinheiro em ativos considerados mais seguros como títulos da dívida pública dos EUA e países europeus. 

Em seguida, observa-se uma redução da quantidade de dinheiro em circulação já que esse capital está imobilizado em outros tipos de mercados reduzindo a liquidez dos mercados internacionais. 

Dado que o mundo todo vê movimentações financeiras acontecerem numa enorme rapidez, é difícil saber o tamanho exato dessa liquidez globalmente, mas é possível verificar fortes indicativos de quando essa enorme quantidade de dinheiro circulando irá aumentar ou passará por alguma redução. E é justamente sobre essas tendências que vale a pena ficar de olho para saber o que vem a seguir.

O pós-crise de 2008 representou uma verdadeira guinada global rumo à liquidez: de lá pra cá, a cada pequena sinalização de crise, o mundo (via bancos centrais) colocava liquidez na economia para suavizar a volatilidade. Em bom português, isso significa que os governos emitiram muita moeda nacional para pagar despesas. Isso inclusive aconteceu de maneira bastante intensa durante o período da pandemia e, embora ainda estejamos vivendo uma de acordo com os critérios da OMS, recentemente a situação tem se invertido. 

A situação que verificamos mais recentemente, especificamente de 2022 em diante, é o início da reversão dessa trajetória: existe tanto “dinheiro na praça” que essa liquidez começou a ser “enxugada” dos mercados. Ainda há um espaço enorme e isso demorará muito tempo, mas essa movimentação já teve início.

A partir desse enxugamento de liquidez, o que acontece é o seguinte: negócios ou classes de ativos que tenham perfil de risco mais elevado (assim como o nível de incerteza a respeito de quando “andarão sozinhos” e “se pagarão”) passam a ver suas cotações caírem fortemente. 

Com isso, cotações que vão desde as empresas mais inovadoras de tecnologia até os mais diversos projetos de criptomoedas passam por uma forte queda.

Por que um inverno cripto acontece?

A analogia do vento sobre as árvores explica o que acontece quando vemos chegar um Inverno Cripto, mas é hora de entrar com outra metáfora para explicar os porquês desse evento acontecer. Essa é a analogia das taças de vinho recebendo espumante em uma festa.

Pensa no seguinte cenário: uma festa conta com uma enorme cascata de taças de cristal em formato piramidal, no qual o espumante começa a ser despejado na taça mais alta e começa a encher as taças dos andares abaixo. Considere também que essa pirâmide tenha 15 metros de altura. 

Dividindo a pirâmide de taças de cristal em três pavimentos, temos que nos primeiros cinco metros da base seriam os ativos mais arriscados da economia, aqueles que têm enorme potencial mas que ainda pairam algumas incertezas (riscos). No segundo piso, do sexto ao décimo metro de taças, estão os ativos econômicos que entregam resultados mais constantes e já são mais conhecidos, mas ainda sim apresentam certo nível de insegurança e consequente oscilação de preços. Já na parte que recebe primeiro o espumante, os últimos cinco metros do topo, temos os chamados ativos ‘livres de risco’, como títulos públicos, CDBs de bancos grandes e saldos remunerados em contas correntes.

Agora imagine duas situações diferentes que acontecem com o espumante que cai sobre essa pirâmide de taças de cristal: em um primeiro caso, quando a “torneira” é aberta, não se tem ideia de quando irá parar de cair espumante (e então se assume que ele será eternamente despejado); já em uma segunda possibilidade, quem organiza a festa avisa que a torneira será fechada em breve e, assim, o espumante parará de ser despejado logo logo.

No cenário em que temos uma quantidade teoricamente infinita de espumante, a bebida alcançará as três partes da torre de taças sem problemas. Mas quando se sabe que a torneira irá fechar em breve, quem está na festa logo irá correr para beber o espumante contido nas taças da base e nas alturas mais próximas (que logo não receberão mais o líquido), principalmente porque pensarão que a festa não será a mesma assim que o espumante parar de jorrar.

Trazendo essa analogia para o mundo financeiro, temos que a economia global é essa festa e a torre de taças de espumante são as classes de ativos, dos mais seguros aos mais arriscados. 

Inverno cripto é, então, de acordo com a analogia da torre de taças de cristal recebendo champanhe, a situação em que, por estarem na base (junto dos ativos mais arriscados), as criptomoedas sofrem com essas movimentações mais rápidas das pessoas em direção a beber o líquido e, no fim das contas, isso se reflete nas cotações que caem fortemente no período.

É possível evitar um inverno cripto?

O que falamos sobre definição e redefinição de estratégia diante de um momento de forte volatilidade entra bem diretamente nesse ponto: no fim das contas, tudo vai depender diretamente de como você encara o universo das criptomoedas quando essas situações acontecem. 

Sendo você uma pessoa que acredita nos potenciais de longo prazo dos projetos (HODLer), verá essas quedas como grandes oportunidades de ter ainda mais tokens em sua carteira

Mas o que não pode ser descartado é que, caso o foco seja especificamente sobre as cotações dos projetos, diante de um inverno cripto talvez você sinta um desestímulo tão grande que pense valer a pena deixar de participar da revolução cripto – e vender suas participações em quaisquer projetos que você tenha em carteira.

Sejamos sinceros: como os riscos podem vir de tendências globais muito maiores (e externas) do que o mercado cripto, evitar perdas em um período assim pode ser muito difícil. Porém, em momentos como esse a situação fica um pouco mais leve se você pesquisar com mais afinco sobre os projetos que decide ter em sua carteira. Ou em outras palavras: se você não comprou porque “viu por aí que era boa ideia” mas sim porque pesquisou aquele projeto e achou adequado, as chances são bem menores de passar por grandes apuros durante um inverno cripto.

O que fazer durante um inverno cripto?

Costuma-se verificar quando um Inverno Cripto acontece que, junto ao desânimo das pessoas em relação a esse mercado, também ocorre certa redução nas atividades de desenvolvimento de novos projetos ou até mesmo de inovações dos já existentes. Caso você seja uma pessoa que se interessa bastante no mercado como um todo e vê potencial real em determinados projetos, esse é o momento ideal para entender mais sobre cada um deles.

Se por um lado as cotações desabando parecem ser um momento de enorme desestímulo a continuar nessa jornada, o lado cheio desse copo indica que acontece uma sensível redução de pessoas que chegaram no mercado por pura empolgação e quem resta na sala são as pessoas realmente interessadas por aqueles projetos. 

A troca de informações realizada em um momento como esses pode ser muito mais agregadora e permitir que fiquem esclarecidos detalhes relevantes de projetos específicos, funções inovadoras e desenvolvimentos de toda natureza que acabavam ofuscados pelas variações das cotações simplesmente.

Inverno cripto é tempo de repensar sua atuação neste mercado

Respirar fundo nessas horas talvez seja a melhor opção para as pessoas que participam do universo das criptomoedas de alguma maneira. Fortes altas podem atrair muitas pessoas, mas as reais utilidades, funções e missões de projetos criptos mantêm unidos os que ficam quando se passa por um inverno cripto.

Com a redução de movimentações (“deixou de ser assunto”) que acontece em um inverno cripto, aproveite para entender melhor sobre as inovações que determinados projetos trazem ou para procurar outros itens para olhar mais de perto buscando valorizações futuras. No fim, esses momento podem ser vistos como enormes oportunidades.

Não há problema algum em perder o interesse nesse universo diante de desvalorizações imensas como as que vimos em 2022, isso também acontece em mercados de renda variável toda vez que fortes quedas acontecem. Mas não se esqueça que, tal qual olhar diretamente para o sol em uma bela tarde, é possível que em virtude da cegueira momentânea você não veja toda a beleza da natureza que é iluminada por aquela luz toda.

Na vida e no mercado cripto nem tudo são flores. Mas, nas alegrias e nas tristezas, conte conosco – e com o Blog da Bitso – para te ajudar a entender o que importa do universo cripto!

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.
Yogh - Especialistas em WordPress