Faça como o Bruce Lee, pense no longo prazo

A disciplina das artes marciais e o modo como você deveria lidar com seu dinheiro tem uma semelhança maior do que diz o senso comum. A indisciplina comum em dietas alimentares (o famoso “vou emagrecer o que engordei nos últimos dez anos nos próximos seis meses”) também.

Bruce Lee foi um ator, lutador de artes marciais e roteirista sino-americano. Apesar de sua breve vida de 33 anos, deixou uma obra e uma coleção de frases que nos fazem pensar bastante.

Em termos de lidar com dinheiro, uma das mais destacadas é:

“Consistência de longo prazo supera a intensidade do curto prazo.”

Se você já acompanha esta coluna, provavelmente já viu como o poder dos juros compostos funciona. Aqui, a discussão vai um pouco além disso, entra no campo na disciplina envolvida para fazer do tempo um real aliado (e como faz diferença manter o hábito).

Atire a primeira pedra quem nunca ouviu ou mesmo falou a frase: “começo na próxima segunda-feira”. O pecado da preguiça já acometeu a todos nós, ao menos em algum momento da vida. Pode ser que você tenha já tomado alguma atitude em termos de mudar sua saúde física e esteja hoje melhor que nos últimos anos. E se você também tomar uma atitude hoje que pode melhorar seu longo prazo financeiro?

Tal qual o encarar de uma dieta, a medida a ser tomada parece meio amarga e mostra seus resultados apenas com real esforço. Apesar dos pesares, é mais tranquila do que “puxar ferro”, mais simples e mais direta: olhe para o dinheiro que entra em sua conta todos os meses de maneira razoavelmente garantido (seu salário líquido, renda de algum aluguel) e para todas as saídas (todo tipo de despesa que você tenha). Logo a seguir, verifique em todas as suas despesas aquilo que você poderia abrir mão e o que você não poderia.

Não é algo trivial, talvez leve um tempo para anotar tudo e possivelmente a conclusão seja assustadora (do tanto que você compromete a renda que entra todos os meses ou ainda da quantidade de gastos que poderiam ser evitados e você não evitou).

Tendo feito estas duas etapas (olhar entradas e saídas e ver quais saídas poderiam não ocorrer sem prejudicar sua vida), veja o quanto, em termos percentuais, pode sobrar ao final do mês.

Aqui está o famigerado “pulo do gato”: exceto em meses de gastos imprevistos (e não chame os que estão lá todos os anos de imprevistos, como IPVA e matrícula escolar, estes você precisa se preparar porque já sabe da existência), você vai ver que em quase todos os meses um certo percentual de resíduo estará lá. O destino a esse resíduo você já dá mesmo sem saber e, provavelmente, faz parte do susto tomado na hora de olhar suas contas.

Pegue uma parte deste resíduo e chame de “Bruce Lee do(a) INSIRA SEU NOME AQUI”. A partir de agora, o que era “sobra do fim do mês” passará a ser um pagamento para você mesmo no futuro – e seu compromisso será arcar com esse pagamento no mesmo momento em que paga suas despesas, não mais esperando para ver se há algum resíduo.

Todos os meses você passará a ter um compromisso com essa nova despesa, que é o seu aliviar financeiro para a próxima geração. “Mas e se forem só 5% do meu salário?”. Siga em frente na missão. Sendo estes 5% equivalentes a R$50,00, mesmo em uma aplicação bastante conservadora (para não dizer “aplicação que te faz perder dinheiro”) como a poupança, os juros estarão ao seu lado, não contra você.

“Mas eu devo destinar todo esse resíduo? Fazer disso uma obrigação que consuma outros hábitos que gosto?”. Aqui entra a sabedoria oriental de nosso ator aqui citado tantas vezes: use a consistência colocando este percentual mínimo todos os meses e sinta ao longo dos anos a diferença que faz – não caia na arapuca de colocar, digamos, 50% de seu salário em um mês, se arrepender de oportunidades perdidas e desistir no terceiro mês. Transforme consistentemente o resíduo em despesa, considerando-o como um “dever a si mesmo”.

Quanto ao que os juros podem te fazer de positivo, basta revisitar o artigo anterior ou mesmo fazer algumas estimações usando a carteira de juros compostos.

Como você verá muito ainda nesta coluna: seu eu de amanhã te agradecerá bastante pela mudança feita hoje, independente de quando você iniciar essa mudança.

Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico  

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.

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