Lições financeiras e não-financeiras do filme “Curtindo a Vida Adoidado”

Definitivamente um clássico da Sessão da Tarde. Se você nunca viu, veja na mais próxima oportunidade que tiver. É um filme tão interessante e cheio de detalhes que mesmo os spoilers aqui dados não tiram a graça e a emoção de assisti-lo. De 1986, mas definitivamente, atemporal.

O filme se inicia com um estudante de ensino médio chamado Ferris Bueller (interpretado por Matthew Broderick) mostrando como faz para faltar a uma aula. Ele finge estar doente e, quando seus pais e irmã saem de casa, sai com seus amigos para aproveitar o dia. Logo de cara uma das frases mais reflexivas sobre a vida vem: “A vida passa rápido demais; e se você não parar de vez em quando para vivê-la, acaba perdendo seu tempo”. De cara, quebrando a quarta parede, você já começa o filme pensando sobre sua própria vida.

O melhor amigo de Ferris Bueller é Cameron Frye (interpretado por Alan Ruck). Desanimado com a vida – e tendo faltado naquele dia por estar realmente doente -, recebe uma ligação de Bueller pedindo que venha aproveitar com ele aquele belo dia. Inicialmente recusa o convite do amigo, mas no fim das contas acaba participando do passeio sem rumo definido. Sloane Peterson (interpretada por Mia Sara) é o que chamamos hoje de crush de Bueller e, sob o pretexto de que sua avó faleceu, também é dispensada das aulas do dia e se junta aos outros dois.

Muito se passa no filme que mostra uma possível aventura inconsequente de três adolescentes que davam a entender que não queriam saber de nada da vida. Porém, as mensagens sutis – quase todas dadas em momentos de direcionamento de Bueller a quem está assistindo – mostram que a filosofia ali contida é muito mais ampla do que se imagina ser de um “simples” clássico da Sessão da Tarde.

Ferris Bueller é filho de um casal de classe média dos EUA que tem boa condição econômica. Em uma realidade na qual universidades têm um alto preço anual, ele comentar que “após o final do ano vamos para a faculdade” é um demonstrativo disso. Desta condição razoável de seus pais podemos depreender que, assim como já recomendamos aqui na coluna, se você tiver condições, vale a pena ir aos poucos reservando parte de tudo que ganha para ter uma vida mais confortável ao longo do tempo. Ao contrário deste casal, Bueller representa o imediatismo, o “viva agora”.

Um erro de tradução do título em inglês deixa escapar uma questão importante. Em português, “Curtindo a Vida Adoidado” dá a ideia de que esse dia especial tratado no filme é uma realidade cotidiana, enquanto o título original, “Ferris Bueller’s Day Off” (em tradução literal, “O dia de férias de Ferris Bueller”), já mostra mais diretamente que trata-se de uma ocasião mais pontual do que cotidiana (embora, no filme, mostre que ele tenha feito isso várias vezes naquele ano). Sendo um dia (e não toda a vida), nos mostra algo essencial, que é o de realmente aproveitar situações com sua família e amigos, mesmo que inesperadas, porque a vida passa muito rápido e podemos nos arrepender de não termos feito isso.

Há uma frase atribuída a Warren Buffet que diz que “se há alguém hoje sentado à sombra de uma árvore, é porque alguém plantou essa árvore muito tempo atrás”. Trata-se de uma sabedoria correta. No filme, se não os pais de Bueller (e também dos outros dois jovens), os avós fizeram esse plantio da árvore sobre os quais ele(s) se senta(m). Mas, complementando humildemente a visão deste que é um dos indivíduos mais ricos do planeta, digo que se a árvore está plantada, não há razão para que não se aproveite a sombra embaixo dela para observar a natureza ao redor.

O grande laço do filme é seu final, que… Falei que não ia comprometer com spoilers e não vou, indico que você assista. Mas a mensagem global do filme é que, apesar de termos de lidar com todas as preocupações do dia a dia, não podemos deixar de lado oportunidades de rever aqueles que amamos e nos amam.

É com esse desafio entre a prazerosa interação com quem gostamos e o cumprimento de nossas obrigações diárias que o filme nos deixa. A primeira parte desejamos muito que ocorra, mas passa muito rápido (assim como no filme); a segunda, pode ser muitas vezes cansativa e tensa. Fica no colo de quem o assiste, se o fizer com esse olhar mais atento, o que se está fazendo com a própria vida. O bom, velho e complicado equilíbrio entre vida pessoal e trabalho (que hoje é bem mais complexo do que na época do filme).

Você deve estar pensando: mas e se sou eu o responsável pelo plantio da árvore que vai gerar a sombra para as próximas gerações? Ainda assim a mensagem é válida. De nada valerá ter plantado uma frondosa árvore se, no processo de cuidados até ela ter se tornado deste modo, você tiver fechado os olhos a todos os dias em que o sol nasceu, brilhou e se foi.

Afinal:

“A vida passa rápido demais; e se você não parar de vez em quando para vivê-la, acaba perdendo seu tempo.”

Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico Artigo dedicado ao meu grande amigo e irmão Pedro Henrique Lopes, falecido no dia 06/05/2019 e que tantas vezes em sua vida serviu como o Ferris Bueller deste Cameron Frye que aqui escreve com frequência.

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.

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