Na última segunda-feira (13/04), a revista Forbes publicou o artigo com uma tese polêmica que chacoalhou o mundo: países liderados por mulheres foram mais exitosos no combate à pandemia do Coronavírus.
Correlação não é causalidade – não é necessariamente por conta da chefia feminina que esses países colheram resultados positivos. Ainda assim, a provocação da revista carrega interessantes reflexões e – principalmente – excelentes exemplos a serem seguidos.
Logo no princípio da Crise, a Chanceler Alemã Angela Merkel agiu com rapidez e sobriedade. Admitiu que 70% da população poderia ser infectada e instituiu o lockdown combinado com programas sociais para atenuar os danos econômicos.
A primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, foi no mesmo caminho: proibiu até mesmo fluxo de estrangeiros quando haviam apenas seis casos confirmados no país. Quando a matéria foi publicada, apenas seis pessoas tinham morrido em decorrência do COVID-19. Também destacou-se a chefe de estado do Taiwan, Tsai Ing-wen – ela instituiu 125 novas políticas de saúde já em Janeiro, quando a pandemia era uma ameaça abstrata para boa parte do Ocidente. Resultado: hoje o país envia dez milhões de máscaras em ajuda aos EUA e Europa.
É bem verdade que essas posturas são pouco correlatas com gênero. Talvez o fato de todos esses países terem um maior nível de renda (tornando possível o isolamento), boa situação fiscal e instituições fortes desempenhe um papel muito mais importante para um resultado tão positivo. Mas a Forbes tem um ponto difícil de ser contestado: o estilo de liderança das mulheres tem feito enorme diferença.
Empatia é a palavra. A capacidade de se colocar no lugar daqueles que perderam entes queridos ou sofrem com o desemprego; a necessidade de informar do modo mais claro possível o que está acontecendo e quais serão os próximos passos. Tudo isso conta na execução de políticas de contenção de crises.
Erna Solberg, dirigente da Noruega, fez uma coletiva de imprensa apenas com crianças. Sanna Marin, da Finlândia, usou influenciadores digitais para espalhar informações acuradas sobre a doença. São pequenas medidas que geram enorme impacto ao informar e acalmar a população – atos que dificilmente imaginaríamos Vladmir Putin, Donald Trump ou López Obrador replicando.
Mas – novamente – o artigo não traz nenhuma evidência bem fundamentada de que ter mulheres na liderança das nações é fator determinante para o efetivo combate ao vírus. Quem viveu durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff sabe que pessoas do gênero feminino também podem tomar decisões estúpidas em termos de políticas públicas e praticar atos pouco republicanos.
Não obstante, a provocação de Avivah Wittenberg-Cox – autora do texto – é pertinente: as características femininas, como cuidado e empatia, são constantemente rechaçadas nos meios político e corporativo, quando podem gerar resultados altamente benéficos.
Segundo estudo da McKinsey, a diversidade alavanca a produtividade das empresas; uma pesquisa publicada no Journal of Economic Behavior & Organization concluiu que países com maior presença de mulheres na política podem ter menor incidência de corrupção.
Mais do que nunca, a crise do novo Coronavírus escancarou um fato pouco comentado: representatividade não é mera pauta identitária e pode trazer resultados expressivos em termos de rendimento, promoção de justiça e boa governança. Já chegou a hora de encarar essa pauta com a devida seriedade.
Notas
Cecília Lopes
Ativista liberal, feminista e presidente do Lola Brasil.