Especial Para o Terraço Econômico | Leonardo Palhuca
“For us ‘economic populism’ is an approach to economics that emphasizes growth and income redistribution and deemphasizes the risks of inflation and deficit finance, external constraints, and the reaction of economic agents to aggressive nonmarket policies”
Com o recente calote argentino (até o momento não reconhecido pelo Ministro Guido Mantega, que também tem dúvidas se o homem realmente foi à lua), alguns olhos se voltaram para a América do Sul e suas recentes políticas econômicas desastrosas.
[caption id="attachment_1353" align="aligncenter" width="642"] O tango da macro populista argentina. Cristina K e Axel Kicillof, presidenta e ministro da economia Argentina, respectivamente. Fonte: Desconhecida[/caption]É bem verdade que podemos dividir atualmente a América do Sul entre dois grupos de países, como fez recentemente a revista britânica The Economist: de um lado países com políticas econômicas mais liberais versus o grupo mais “estatizante”. Nessa classificação, o Brasil aparece no grupo com viés menos liberal.
Mas não é de hoje que a América Latina é vista como um antro de políticas econômicas de cunho populista. No início dos anos 90, Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards (D&E) identificaram alguns padrões nas políticas econômicas da América Latina e seus resultados nada agradáveis. Será que o Brasil está seguindo a cartilha descrita por Dornbusch e Edwards?
Inicialmente, D&E identificam as pré-condições para o país adotar uma política econômica populista. Dentre as principais características estão (1) baixo crescimento do produto como resultado de políticas prévias de estabilização econômica, (2) melhoria das condições fiscais e das contas externas do país, (3) mas ainda alta desigualdade de renda.
Arrisco a dizer que possuíamos tais condições até meados dos anos 2000. O Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e os pacote de socorro do FMI, todos realizados nos anos 1990 indicam tal posição. A casa estava começando a ficar em ordem. Apesar de o Brasil não crescer aceleradamente naquele tempo, as contas públicas não desandavam e o balanço de pagamentos estava sob controle, ou seja, estávamos estabilizados do ponto de vista macroeconômico.
[caption id="attachment_1351" align="aligncenter" width="514"] Fonte: Banco Central do Brasil[/caption] [caption id="attachment_1352" align="aligncenter" width="513"] Fonte: Banco Central do Brasil[/caption]Como podemos observar nos gráficos, o resultado nominal não apresentava grandes déficits ou oscilações até 2002, e a partir desse ano começa a entrar em terreno positivo. Mas desde 2009, o resultado é persistentemente negativo.
O Balanço de Pagamentos também não apresentava grandes variações. Se não era positivo, o déficit era pequeno, o que afastava o risco de alguma grave crise cambial pós desvalorização de 1999. O boom das commodities nos anos 2000 trouxe o BP para o patamar positivo, mas conseguimos a proeza de voltar ao terreno negativo.
Segundo D&E, as tais condições iniciais criam um espaço para a chamada Macroeconomia Populista, que é dividida em 4 fases:
- 1ª Fase – Crescimento do produto e dos salários reais, baixos índices de desemprego. Alguns controles de preços garantem que a inflação não seja um problema grande e as importações suprem a demanda interna.
- 2ª Fase – A economia encontra alguns problemas, como resultado de uma expansão da demanda interna acima da capacidade produtiva do país. Realinhamentos de preços se fazem necessários, e há controle cambial e certo protecionismo a alguns setores. A inflação teima em crescer mas os salários reais continuam crescendo. O déficit do setor público reaparece.
- 3ª Fase – Escassez de produtos, aceleração inflacionária e crise cambial.
- 4ª Fase – Plano de estabilização ortodoxo – malditos economistas do FMI.
Alguém tem alguma dúvida que estamos flertando com o que D&E identificam como fases 1 e 2?
O crescimento do salário real médio entre 2001 e 2013 foi de 90%, enquanto o crescimento real do PIB acumulado no período ficou em torno de 50%. Produtividade justificou essa diferença? Não! Desemprego está baixo, o que é ótimo. Porém, as políticas de incentivo à demanda sem que a capacidade de oferta da economia se expandisse no mesmo ritmo acarreta a necessidade de importações para satisfazer a demanda interna e ainda pressiona a inflação, contida parcialmente com controle dos preços administrados. Alguma semelhança com a 1ª Fase?
Observamos alguns problemas na economia brasileira como a defasagem dos preços administrados, um certo controle pelo Banco Central da taxa de câmbio em um patamar estável, as contas públicas (tirando a maquiagem contábil) se deteriorando e a inflação teimosamente acima do centro da meta estabelecida. Parece um pouco com a 2ª Fase?
Agora, corremos o risco de passarmos para as demais fases? Ainda não! Apesar dos problemas, ainda temos um grande volume de reservas cambiais que protegem o país de uma aguda crise cambial. Entretanto, não é recomendável seguir a política econômica atual que já se provou ineficaz e expõe o país a um risco desnecessário em nome da Macroeconomia Populista.
D&E já alertavam para tais riscos em 1990 e justificavam a insistência dos governos latino-americanos em políticas econômicas populistas com a síndrome do “Desta Vez é Diferente”. Desta vez, argumentam os economistas criadores dessas belezuras de políticas econômicas, temos diferentes condições que nos guiarão a um resultado promissor e estamos imunes às lições do passado, temos uma Nova Matriz Econômica!
Vencemos!
Leonardo Palhuca Economista formado naAlbert-Ludwigs-Universität Freiburg (Alemanha)
Referências:- http://www.economist.com/news/finance-and-economics/21577083-race-head-world-trade-organisation-highlights-regional-rift-oceans
- http://www.nber.org/chapters/c8295.pdf
- https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries