Por Leonardo Palhuca
“É uma piada. Vai ser muito mais que isso”
Guido Mantega sobre a previsão de crescimento da economia brasileirade 1,5% feita pelo banco suíço Credit Suisse para o ano de 2012. Naquele ano o país cresceu 1,03%
[caption id="attachment_2015" align="aligncenter" width="597" class=" "] O futuro ex-ministro Guido Mantega rindo da piada do Credit Suisse.[/caption]As eleições estão cada vez mais próximas e as comparações entre as gestões do PSDB e do PT cada vez mais fortes. “Vocês plantam inflação para colher juros” disse a presidenta Dilma Rousseff. “Você vai na feira hoje e compra com o mesmo dinheiro o que comprava há 6 meses?”, indagou o candidato Aécio Neves.
Tais comparações são bastante úteis aos candidatos e nos garantem bons momentos nos debates. Porém, omitem muitas diferenças existentes entre períodos em que um ou outro partido governou, escondem demais fatores que afetam o resultado econômico de um governo e torna desonesta a comparação.
Mas então, como comparar o desempenho econômico do país sob as rédeas de diferentes partidos em períodos distintos? É quase impossível a comparação. O que se pode fazer é verificar o desempenho brasileiro em relação a outros países tanto no período tucano quanto no período petista. Mas isso já foi feito com maior competência por alguns economistas: Alexandre Schwartsman, Mansueto Almeida, Roberto Ellery e o ótimo artigo de Isabela Duarte, João Manoel Pinho de Mello e Vinicius Carrasco aqui.
Há alguma outra forma de comparar? Difícil lembrar de mais alguma. Mas aqui proponho ver o desempenho da economia brasileira em relação ao que foi prometido pelo chefe da política econômica.
Como assim?
Façamos uma comparação entre o que o Ministro da Fazenda do governo FHC prometeu e se ele cumpriu versus o que o Ministro da Fazenda do governo Lula/Dilma prometeu e se ele cumpriu.
O exercício é o seguinte: fui atrás de notícias e entrevistas nas quais Pedro Malan (Ministro da Fazenda no período 1995-2002) indicava qual seria o crescimento econômico do Brasil para cada ano de seu mandato. Fizemos o mesmo para o período no qual Guido Mantega ficou no Ministério da Fazenda (2006-2014).
Aqui cabem duas ressalvas: 1) O ministro Pedro Malan não era de dar declarações muito precisas sobre qual seria o crescimento brasileiro. Mas confirmava as previsões de outras instituições ou as oficiais e em muitas vezes utilizamos essas confirmações na análise; 2) Mantendo o embate político, a internet na época do PSDB não era tão evoluída quanto na época do PT , então as fontes para as declarações de Malan não são tão diversas.
Dito isso, vamos as quadros que mostram a projeção feita pelos ministros para o PIB, o crescimento real do produto no referido ano e a diferença entre a projeção e o acontecido:
Ano | Projeção do Malan | Crescimento Real | Diferença |
1995 | 5.00% | 4.22% | 0.78% |
1996 | 3.00% | 2.15% | 0.85% |
1997 | 4.00% | 3.38% | 0.62% |
1998 | 2.00% | 0.04% | 1.96% |
1999 | -4.00% | 0.25% | -4.25% |
2000 | 3.90% | 4.31% | -0.41% |
2001 | 2.20% | 1.31% | 0.89% |
2002 | 2.50% | 2.66% | -0.16% |
Fonte: Banco Central e notícias na imprensa (1)
Ano | Projeção do Guido | Crescimento Real | Diferença |
2006 | 4.00% | 3.96% | 0.04% |
2007 | 5.00% | 6.09% | -1.09% |
2008 | 5.50% | 5.17% | 0.33% |
2009 | 2.00% | -0.33% | 2.33% |
2010 | 5.20% | 7.53% | -2.33% |
2011 | 4.00% | 2.73% | 1.27% |
2012 | 4.00% | 1.03% | 2.97% |
2013 | 4.00% | 2.49% | 1.51% |
2014 | 2.30% | 0.52% | 1.78% |
Fonte: Banco Central e notícias na imprensa (2)
O que observamos?
Inicialmente, Pedro Malan superestimou o resultado da economia brasileira em 5 dos 8 anos como ministro, enquanto Guido Mantega o fez em 7 dos 9 anos no cargo. Talvez o Ministro da Fazenda tenha um viés para declarar um crescimento maior, gerando expectativas positivas? Não creio! Ainda sou adepto de Expectativas Racionais (e acho que os ministros também) e penso que tenha sido erro de previsão, calibragem errada dos modelos utilizados ou puro chute mesmo para responder à imprensa.
Pedro Malan errou por muito (diferença maior que 1 ponto percentual) suas previsões em dois anos: 1998 e 1999. Para o primeiro ano, superestimou o crescimento em quase 2 pontos percentuais, enquanto no segundo ano previu uma recessão brava que não veio – subestimou o crescimento da economia em 4,25 pontos percentuais. Nos demais anos as projeções ficaram bem próximas do realizado.
Guido Mantega, por sua vez, chegou perto em suas previsões somente em 2 anos durante seu mandato – 2006 e 2008. Nos demais anos, superestimou o crescimento econômico 5 vezes e o subestimou 2 vezes por larga margem (maior que 1 ponto percentual para mais ou para menos), sendo que uma delas em 2009, durante a crise que atingiu o mundo.
Agora vejamos ao longo de seus mandatos, qual foi o resultado da economia versus qual teria sido o PIB brasileiro de acordo com as previsões dos ministros.
PIB Real do Pedro Malan (em bilhões de R$ de 2013)
[caption id="attachment_2010" align="aligncenter" width="660" class=" "] Fonte: Banco Central[/caption]PIB Real do Guido Mantega (em bilhões de R$ de 2013)
[caption id="attachment_2011" align="aligncenter" width="660" class=" "] Fonte: Banco Central[/caption]Podemos ver que o Pedro Malan prometia mais do que entregava no começo de seu mandato, mas ajustou seu modelo e seu discurso e entregou praticamente aquilo que prometeu. O crescimento não foi robusto, nem as previsões foram exageradas.
Guido Mantega começou bem e até 2011 mantinha um excelente desempenho tanto na economia quanto nas previsões. Mas algo aconteceu: ou ele esqueceu de re-calibrar seu modelo ou esqueceu de entregar o que prometia.
Mas como ficou o bolso do brasileiro médio, já que nos gráficos anteriores estamos considerando o PIB e não o PIB per capita? Como os ministros indicam o quanto o PIB vai crescer e não quanto o PIB per capita vai crescer, precisamos recorrer aos dados do IPEA sobre a população em cada ano para calcularmos o PIB per capita.
Os demais gráficos mostram quanto a renda média do brasileiro foi (ou é no caso do Guido Mantega) e quanto seria caso as previsões dos ministros tivessem se concretizado.
PIB per capita do Pedro Malan (em R$ de 2013)
[caption id="attachment_2016" align="aligncenter" width="660" class=" "] Fonte: Banco Central e IPEADATA [/caption]PIB per capita do Guido Mantega (em R$ de 2013)
[caption id="attachment_2013" align="aligncenter" width="660" class=" "] Fonte: Banco Central e IBGE[/caption]Ao considerarmos o crescimento populacional, novamente Pedro Malan começou prometendo mais e entregando menos. Porém, o prometido não era muito e a renda média do brasileiro ficou praticamente estagnada principalmente com o efeito dos anos de 1998 e 1999, justamente quando as previsões do ministro se descolaram da realidade. Ao longo do período a renda média passou de R$ 18.500 para R$ 19.000 ao ano.
Já Guido Mantega seguiu o caminho inverso, começou prometendo e entregando, mas conforme citado, esqueceu de re-calibrar seu modelo e a partir de 2011 começou a prometer muito e entregar pouco. Mas no geral, sob a batuta dele, a renda real média do brasileiro passou de R$ 20.300 para R$ 24.000 – patamar que foi atingido por volta de 2011 e desde então mantém-se estagnada.
Novamente a estagnação da renda média coincide com o descolamento das previsões do Ministro da Fazenda. Porém, no caso de Guido Mantega a previsão fica acima do resultado da economia desde 2011 enquanto no caso de Pedro Malan o descolamento oscilou entre a super e a subestimação.
Agora, qual ministro se saiu melhor na condução da política econômica, fica a seu critério. Alguns dados estão ai e as opiniões vão divergir de acordo com as demais informações para interpretá-los. Aqui sugiro algumas: crises externas, desvalorizações cambiais, política macroeconômica e taxa de desemprego.
[caption id="attachment_2014" align="aligncenter" width="533" class=" "] Armínio Fraga, cotado para o cargo, vendo a discussão entre o prometido e o entregue.[/caption]Fontes:
(1) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/13/dinheiro/2.html
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/6/18/brasil/4.html
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/24/dinheiro/10.html
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/12/20/dinheiro/21.html
http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/1999/03/24/memorando-tecnico-preve-inflacao-de-168-e-dolar-a-r-170-este-ano/imprimir_materia
http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/2000/06/30/ult29u1430.jhtm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u30624.shtml
http://www.old.pernambuco.com/diario/2002/04/02/economia4_1.html
(2) Notícias na imprensa:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2609200606.htm
http://www.jb.com.br/economia/noticias/2008/12/09/mantega-projeta-pib-de-55-para-2008/
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mantega-previsao-para-pib-em-2009-esta-mais-para-2,371961
http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2010/03/previsao-oficial-do-pib-para-2010-e-de-5-2-diz-mantega
http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?id=1165398
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,e-uma-piada-diz-mantega-sobre-projecao-do-credit-suisse-para-o-pib,116726e
http://www.valor.com.br/brasil/2812704/previsao-para-2013-e-de-crescimento-do-pib-de-4-ou-mais-diz-mantega
http://www.cdldf.com.br/geral/576-mantega-preve-alta-do-pib-entre-2-3-e-2-5-em-2014
Não concordo com essa análise. As análises feitas no início do ano devem ser revistas à medida que o tempo flua e fatores inéditos, e imprevisíveis, surjam. Lula teve bons ventos internacionais, o que justifica o fato de o crescimento real superar o presumido por Guido no início do ano. Dilma, ao contrário, não teve, o que explica o fato do crescimento real superar o presumido por Guido no mesmo período.