Não são apenas pelos memes: o caso da Corrupção Brasileira Memes

Muito antes dos modernos stand-ups ou dos programas de comédia da televisão, o humor já existia, estando presente desde as primeiras sociedades humanas. Na Grécia Antiga, já havia comediantes, como Aristófanes, famoso por realizar peças teatrais cheias de sátiras e zombarias a respeito do filósofo Sócrates.

Dando algumas passadas largas no tempo, e indo para França, alguns anos antes da eclosão da Revolução Francesa, a corte francesa era alvo de intensa zombaria, por meio de charges pornográficas. O centro da crítica era o rei Luís XVI, retratado como gordo e impotente, e a rainha Maria Antonieta, retratada como mesquinha e vulgar.


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Dessa forma o humor foi evoluindo, mas sempre servindo como um poderoso instrumento de crítica a importantes personalidades e como uma válvula de escape contra tiranias e arbitrariedades. Na URSS, por exemplo, existia uma espécie de “mercado negro” de piadas, que procuravam satirizar de maneira bem humorada toda a repressão exercida pelas ditaduras socialistas.

O Brasil não é uma exceção, muito, mais muito pelo contrário, podendo ser classificado como um verdadeiro “celeiro da zoeira”. Desde o tempo do Brasil colônia, poetas já satirizavam a vida cotidiana e as trapalhadas realizadas pelas autoridades. E até hoje, isso é feito, indo bem além da grande mídia, com a realização de um humor ácido e crítico. Algo nesse sentido estava sendo realizado pela página do Facebook “Corrupção Brasileira Memes”, mais conhecida como CBM. A CBM, por meio de memes que satirizavam personalidades, principalmente da política, em pouco mais de um ano atraiu mais de um milhão de seguidores.

CBM, humor sem partido

Em um período de graves problemas econômicos, agravados por casos escandalosos de corrupção, vindos de praticamente todas as legendas partidárias, uma revolta generalizada parece ter crescido na população. Essa revolta foi utilizada pela CBM, mas não de maneira violenta ou panfletária, mas de modo sarcástico, ridicularizando os inúmeros absurdos – quase que inacreditáveis – protagonizados na política tupiniquim.

Assim a CBM, nunca se colocou como uma página informativa, mas apenas como uma página de humor escrachado. Aproveitando os deslizes dos mais diversos políticos, não importando a sua legenda, seja de extrema direita, esquerda ou de centro, memes eram feitos com base em situações normalmente revoltantes. De maneira quase que inacreditável, foi possível dar risada até de políticos altamente impopulares.

Na atual guerra de narrativas políticas, exacerbada pela aproximação das próximas eleições, o CBM mostrou que tudo isso poderia ser encarado como uma grande brincadeira. Ficou exposto que não há um candidato ou partido perfeito, sendo o campo político um local atolado de incoerências, tão grandes que chegam a arrancar risada do até mais extremado militante.

A censura do humor

Mesmo fazendo um trabalho interessante, a página acabou sendo excluída pelo Facebook, tendo posteriormente retornado, mas perdendo 90% dos seus seguidores. Os motivos que levaram a essa exclusão não foram bem definidos. O motivo talvez tenha sido dois memes, um ironizando as declarações de um ator de televisão e outro satirizando o político de alcunha “Príncipe Suíço”.

Esse tipo de atitude, remete a grandes polêmicas. A algumas semanas atrás, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, estava sendo interrogado pelo senado norte americano a respeito da política de controle de conteúdo de sua empresa. Nesse interrogatório ficou claro que a política de controle de conteúdo do Facebook dependeria da posição ideológica dos seus controladores e não de uma “regra institucional” bem definida. Zuckerberg chegou mesmo a afirmar que haveria um posicionamento ideológico dominante no Vale do Silício.


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Levando em conta a grande influência do Facebook, que pode ser considerado como um verdadeiro monopólio, em 2017 alcançou a marca de 2,07 bilhões de usuários em todo o mundo, esse tipo de censura de conteúdo deve ser vista com cuidado. Mesmo que a empresa seja privada, o que a garante o direito de excluir quem quiser, o problema ocorre quando tal empresa possui maior poder do que vários governos no mundo.

Em uma época, na qual a linha entre o humor e a ofensa se tornou muito tênue, o posicionamento do Facebook pode fortalecer a realização de censura, principalmente por parte de governos. Desde 2010 tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), uma proposta que visa proibir a realização de humor envolvendo políticos. Nesse ano, houve nova tentativa, nesse caso visando coibir a realização de piadas contra candidatos.

Por isso, não são apenas pelos memes (que por si só já valeriam a pena), mas é para garantir uma válvula de escape utilizada desde a Grécia Antiga. Pois se não podemos acabar com um problema, devemos pelo menos ter o direito de rir deles, algo que a CBM vinha nos ajudando a fazer.

Lucas Adriano

Mestre em Economia e bacharel em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Vindo de Ponte Nova (MG), cruzeirense e fã de observar a abordagem econômica sendo utilizada nos mais diversos assuntos. Espera um dia poder dar a sua contribuição para a Ciência Econômica.
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