Nobel 1989: Trygve Haavelmo | por Lucas Adriano Silva

Desde o ano de 1969, um seleto grupo dos mais destacados pesquisadores, responsáveis por contribuições inovadoras de enorme impacto na ciência econômica, têm sido homenageados com o Prêmio Nobel em Economia. O prêmio já foi entregue aos melhores economistas da história, idealizadores de obras de grande influência e renome, tanto dentro quanto fora da academia.

Parte dos laureados pelo Nobel costumam ser sempre lembrados, sendo citados nos mais diferentes meios de comunicação (televisão, rádio, redes sociais), tornando-se grandes personalidades públicas, alguns até mesmo de maneira póstuma. Mas, nem todos atingiram esse grau de popularidade, mesmo que também tenham sido responsáveis por contribuições revolucionárias no estudo da economia, a exemplo do proeminente economista Trygve Magnus Haavelmo, laureado com o Nobel de Economia em 1989.

Haavelmo nasceu na Noruega, em uma cidade perto de Oslo chamada Skedsmo, no ano de 1911. Em 1930, ingressou na Universidade de Oslo no curso de Economia, tendo se formado em 1933. Sobre esse período, é interessante observar a sua relação com Ragnar Frisch, outro laureado pelo Nobel, que teria recomendado que Haavelmo ingressasse no curso de economia. Anos depois, Haavelmo, em sua dissertação “The Probabililty Approach in Econometrics”, fez a aplicação de uma base probabilística na análise de relações econômicas. 

As principais contribuições de Haavelmo foram no campo da econometria, com trabalhos importantes que forneceram uma boa base para o desenvolvimento de métodos econométricos modernos. Com profundos interesses teóricos, especialmente em macroeconomia aplicada, publicou o livro “A Study in the Theory of Economic Evolution“, lançado em 1954, considerado como uma inovação em termos de abordagem metodológica de questões relacionadas ao desenvolvimento econômico.

Assim, em relação ao Nobel, as principais descobertas que o fizeram ser laureado em 1989, foram descobertas acerca dos fundamentos da teoria da probabilidade em econometria e por análises de estruturas econômicas simultâneas. Haavelmo aproximou a econometria, aparentemente seca e abstrata, de problemas mais práticos, principalmente ligados ao estado de bem-estar. É que desde o início do que convencionou se chamar de pensamento econômico, desde a chamada economia política, ricas e profundas reflexões foram realizadas. Mas, o grande problema com essas reflexões, é que estas careciam de um arcabouço mais quantitativo. O trabalho de Haavelmo foi ao encontro dessa lacuna, preenchida pela aplicação de métodos econométricos. 

Era de seu grande interesse estabelecer a capacidade dos modelos econométricos para auxiliar políticas públicas, algo até então pioneiro para a época, com isso sendo realizado a partir de um procedimento matemático que considera um modelo arbitrário. O resultado seria a produção de respostas quantitativas para questões relacionadas a políticas.

“Starting with some existing society, we could conceive of it as a structure of rules and regulations within which the members of society have to operate” (Haavelmo, 1992).

A sua atuação não foi somente como pesquisador, tendo atuado também como professor, lecionando no Instituto de Economia da Universidade de Oslo em diferentes áreas da teoria econômica. No período de 1947-48, Haavelmo também trabalhou como chefe de seção no Ministério do Comércio e Indústria e no Ministério das Finanças da Noruega, com a responsabilidade de coordenar e implementar o regime de planejamento do pós-Segunda Guerra Mundial. 

Apesar das suas contribuições, até hoje parece haver certa resistência às suas contribuições inovadoras. Essa resistência pode ser entendida, ao menos em parte, na ainda presente dificuldade de se encontrar relações (de fato) causais em eventos sociais. É que, não raras vezes, diferentes análises que se propõem a analisar uma relação causal, acabam não encontrando resultados robustos (pelo menos em termos de causalidade). 

Haavelmo chegou a falar a respeito disso em palestras, destacando as dificuldades que envolvem a correta estimação de relações causais. A principal dificuldade seria lidar com a correlação espúria, que levaria a conclusões equivocadas sobre o efeito causal entre duas ou mais variáveis ​​econômicas.

Não obstante, houve um colossal avanço nos métodos econométricos nos últimos anos, de maneira póstuma a Haavelmo (falecido em 1999), inclusive quando o assunto envolve a correta verificação de relações causais. Talvez, este seja um ótimo momento para que a brilhante contribuição acadêmica de Haavelmo possa ser melhor compreendida, tornando este brilhante economista mais reconhecido nos dias atuais.

Lucas Adriano Silva – Doutorando em Economia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Referências

Haavelmo, Trygve. 1992. Econometrics and the Welfare State. In Nobel Lectures: Economic Sciences 1981–1990, ed. Karl-Göran Mäler. Singapore: World Scientific Publishing Co.

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