Nobel 2010: Peter Diamond | por Juan Rios

Peter Diamond é um economista do setor público norte-americano com contribuições seminais em ineficiências dinâmicas, taxação ótima, economia do trabalho e em análises da previdência pública. Em 2010, ele recebeu o prêmio Nobel de Economia por suas diversas contribuições em mercados com fricções de procura. 

Diamond cursou graduação em economia em Yale e seu PhD no MIT nos anos 60. Ele foi então contratado como professor na universidade de Berkeley entre 63 e 65, retornando a sua Alma Mater (MIT) em 66. Em Cambridge, Diamond orientou gerações de brilhantes economistas, dentre os quais dois receptores da medalha Bates-Clark: Emmanuel Saez e Andrei Schleifer [1]. Seu percurso acadêmico chamou atenção do governo americano. No mesmo ano em que Diamond recebeu o Prêmio Nobel, ele foi nomeado pelo então presidente, Barack Obama, a uma posição no Federal Reserve Board. Mas em agosto do mesmo ano, o Senado, majoritariamente republicano, negou suma nominação. O presidente voltou a nomeá-lo em setembro, mas o economista retirou seu nome da nomeação, criticando o processo por ser polarizado em um artigo no New York Times. Nos parágrafos seguintes, discuto cinco das maiores contribuições deste economista. 

Economia do Trabalho

Em 1982, Diamond publicou um artigo que apresentava um modelo onde os agentes não encontravam as trocas desejadas instantaneamente. Na conclusão deste artigo, o economista apresenta um exemplo que transmite a ideia principal do modelo. O exemplo consiste em uma ilha com coqueiros. Por conta de uma superstição, os habitantes da ilha só consomem os cocos de outras pessoas após uma troca. Como subir nos coqueiros é arriscado, os habitantes só colherão os cocos, se  acreditarem que existem outros habitantes fazendo o mesmo na ilha. Se eles acreditam nessa atividade econômica, haverá muitas trocas e os habitantes terão muitos cocos para seu próprio consumo. A principal implicação deste modelo e que o nível de atividade econômica depende das expectativas dos agentes em relação ao funcionamento da economia. Uma interpretação frequente dessa conclusão é que existem diferentes níveis de taxas naturais de desemprego em torno das quais diferentes economias oscilam. Por exemplo, em uma economia onde os indivíduos acreditam no bom funcionamento econômico, mais trocas ocorreriam por conta desse otimismo. O efeito disso no longo prazo seria uma menor taxa natural de desemprego, apesar desta economia também apresentar ciclos econômicos em torno de tal taxa.

Diamond-Mirrlees

Em 1971, junto com Mirrlees (outro laureado economista do setor público), Diamond desenvolveu outro modelo que até hoje serve de benchmark para policy-makers. O modelo parte de uma economia competitiva com duas imperfeições de mercado: (i) o governo precisa arrecadar uma certa quantia para prover algum bem público, e (ii) o governo não pode fazer uma taxação lump-sum (que evita distorções) [2]. Como a economia é perfeita nas outras dimensões, não existem lucros. Caso contrário mais indivíduos entrariam no setor lucrativo até que o lucro acabasse. Além disso, o setor de produção e consumo estão separados, uma vez que consumidores não recebem renda do setor produtivo fora do seus salários (dado que o lucro é zero). O principal resultado deste modelo é que o governo não deve taxar o setor produtivo, mas apenas o consumo. Isso ocorre porque um imposto sobre o consumo não distorce o setor produtivo por conta da separação entre os setores. Por outro lado, um imposto sobre o setor produtivo poderia provocar lucros e prejuízos sobre o setor produtivo que acabaria afetando os consumidores. 

Tal resultado tem três implicações importantes para a estrutura tributária ótima. Em primeiro lugar, não deve haver taxação de bens intermediários (usados na produção). Esse resultado é a principal justificativa para impostos de valor adicionado (IVA). Em segundo, os setores público e privado devem apresentar os mesmos preços relativos. Isso quer dizer, por exemplo, que um professor de uma escola pública deveria ganhar o mesmo que o de uma escola privada. Finalmente, o modelo implica que capital físico e humano (educação) não devem ser taxados porque são bens intermediários para produção futura. Apesar de algumas das hipóteses do modelo não serem realistas, ele funciona como um benchmark útil para o desenho de taxação até hoje. 

Taxação Ótima e Estatística Suficiente

Em 1998, Diamond publicou um artigo (meu favorito) onde descrevia o imposto ótimo para redistribuição como função de parâmetros recuperáveis empiricamente. Apesar do resultado sobre o imposto ótimo ter sido derivado em 1971 por Mirrlees, Diamond foi o primeiro economista a escrever a fórmula do imposto ótimo como uma função de elasticidades de oferta de trabalho. Esta elasticidade mede o quanto trabalhadores aumentam sua oferta de trabalho quando o salário líquido de impostos aumenta em 1%.  É importante notar que tais elasticidades podem ser medidas com dados administrativos e métodos econométricos. Apesar do modelo ser mais restrito do que o de Mirrlees, este artigo é um dos primeiros exemplos em que os resultados teóricos são conectados com o trabalho empírico de economistas. Este trabalho foi responsável pelo nascimento da área mais ativa em economia do setor público (e de algumas outras áreas em economia) nas décadas seguintes: a estatística suficiente. Este método consiste em rederivar resultados teóricos como função de parâmetros que podem ser estimados nos dados [3]. Através deste método, economistas como Raj Chetty, Emmanuel Saez e Martin Feldstein demonstraram que os resultados provados nos anos 70 e 80 do setor público podem ser usados para guiar políticas públicas com o auxilio das estimações empíricas de economistas aplicados em trabalhos mais recentes. Como estes resultados são mais gerais do que modelos estruturais que dominaram a economia aplicada até então, este método se tornou o foco de grande parte da pesquisa econômica recente.

Outras Contribuições: Ineficiências Dinâmicas e Políticas Previdenciárias

Diamond presenteou a economia com diversas outras contribuições. Destaco aqui outras duas. Em um artigo publicado em 1965, ele incorporou o setor produtivo no modelo de gerações sobrepostas (um modelo dinâmico clássico em economia). O principal resultado é que, apesar de um equilíbrio descentralizado ser ineficiente ex-ante, ele pode ser dinamicamente eficiente. O economista também possui inúmeras contribuições relacionadas ao sistema de seguridade social estadounidense. Em geral, suas análises deste sistema sugerem aumentos de contribuições previdenciárias como forma de ajuste ao aumento da expectativa de vida. 

Juan Rios

PhD em Economia pela universidade de Stanford.

Referências

[1] Esta medalha é o prêmio com mais prestígio em economia, dada ao economista com menos de 40 anos com as contribuições mais significativas para a área.

[2] A taxação de lump-sum é um tributo fixo imposto sobre todos os indivíduos da economia. Como não há forma de evitar o tributo, ele não gera distorções. Este tipo de imposto não existe na prática porque seria politicamente inviável implementá-lo.

[3] Para uma exposicao detalhada sobre esses desenvolvimentos, confira os videos do meu canal do youtube https://www.youtube.com/channel/UCQD9mPO2PK-zsUHUQmzLIEw.

 

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