Nobel 2011: Thomas J. Sargent | por Renata Velloso

Thomas “Tom” John Sargent

O ganhador do prêmio Nobel de economia de 2011 eu escolhi a dedo para participar do projeto Nobel do Terraço.

Tom é aquele economista que não foge da treta e estuda os assuntos quentes da macroeconomia. No seu discurso de aceitação do prêmio Nobel, por exemplo, ele se propôs a responder as seguintes perguntas: Os governos devem pagar suas dívidas, ou é melhor dar calote? Os governos centrais devem socorrer estados endividados?

Para responder essas e outras perguntas cruciais de política econômica, seus estudos procuram relações de causa e efeito na macroeconomia. Suas ferramentas? Bases de dados cada vez maiores e boa matemática. Muita matemática.

“Matemática é o que eu faço” ele disse no discurso de aceitação. A ideia por trás da sua teoria é que expectativas importam e que é possível fazer previsões em cima dessas expectativas.

Tom conseguiu provar, por exemplo que a política monetária não tem efeito no desemprego. “Se o problema é falta de trabalho, a resposta não está no Banco Central, ele diz”. Em outras palavras, não adianta forçar os juros para baixo para criar emprego.

Para ilustrar seus modelos econômicos ele recorre a história. É um ótimo professor que consegue simplificar equações matemáticas aparentemente complicadas com exemplos práticos.

Para demonstrar a importância do ambiente institucional, da confiança e da reputação de quem está pedindo dinheiro emprestado na definição das taxas de juros (alô Teto de Gastos) ele usa a história da Independência dos EUA.

Logo após a Independência em 1976, as antigas 13 colônias estavam endividadas, não havia uma política fiscal ou monetária coordenada. Cada Estado definia seus impostos e todos podiam emitir moeda. Resumindo, uma farra.

Resultado: altas taxas de juros.

Depois de 1790, após a nova Constituição, o arranjo institucional ficou mais sólido. Para isso houve uma grande barganha entre o Governo Federal e os entes federados. O governo central assumiu as dívidas dos Estados que em troca deram mais poder ao governo central. A política monetária passou a ser centralizada e só o governo federal teria o poder definir os impostos sobre importação (os mais importantes na época). Com isso, a confiança aumentou e as taxas de juros caíram.

Os Estados porém, continuaram podendo emitir dívida para financiar seus projetos de infraestrutura. Havia a ideia (quem nunca escutou esse argumento de algum político?), que esses projetos se pagariam através de aumento de produtividade e desenvolvimento econômico. Algo como, – me empresta dinheiro para construir essa ferrovia que ela vai gerar tanto desenvolvimento e se pagar sozinha.

A gente sabe que nem sempre isso funciona e por volta de 1840 muitos Estados estavam quebrados novamente. Dessa vez, o Governo Federal resolveu não resgatar.

O argumento que prevaleceu foi que a dívida da guerra tinha sido assumida porque era uma “causa gloriosa”, mas não era justo que todos os pagadores de impostos assumissem projetos desastrados dos outros.

Resultado, segundo Tom: “toda crise fiscal acaba gerando uma revolução política, no caso, a foi Guerra Civil Americana”. E ironiza, a Revolução Francesa também nasceu de uma crise fiscal. “A guilhotina foi um instrumento de política fiscal na França”.

O importante é acertar a dose e saber a hora de parar. Ele explica. “Se você fica resgatando os estados toda a hora, você pode evitar uma revolução, mas incentiva a gastança”.

“As pessoas reagem a incentivos, inclusive as pessoas que você quer ajudar” explica ao criticar programas muito generosos de auxílio-desemprego.

Num mundo em transformação tecnológica cada vez mais acelerada ele defende que é preciso investir em treinamento e capacitação para ter mais flexibilidade no mercado de trabalho. Mas o incentivo para a pessoa se reciclar e melhorar a sua empregabilidade diminui se ele já está com a vida ganha bancado pelo governo

Ele próprio vive segundo esses valores. Além de ser um professor querido e muito bem avaliado por seus alunos e um dos economistas mais citados ainda em 2020, Tom continua criando coisas novas. Em 2016, pro exemplo, ajudou a criar a ONG QuantEcon, dedicada ao desenvolvimento e open source de ferramentas computacionais modernas para economia, econometria e tomada de decisão.

Famoso por seus discursos curtos e direto ao ponto, Tom só foge da pergunta que atormenta todos os economistas e estudantes de economia. Ao participar de um comercial para o banco Ally um apresentador pergunta ao prêmio Nobel – Você sabe me dizer quanto vai estar a taxa de juros daqui a 2 anos?

E ele responde: Não.

Para assitir o discurso de aceitação do Nobel que Tom dividiu com o colega Christopher A. Sims, clique no link.

https://www.youtube.com/watch?v=Cl0QYkez-BE

Abaixo o comercial com nosso homenageado.

https://www.youtube.com/watch?v=Khn1ZqysON0

 

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