O futuro disruptivo da energia: as novas tecnologias acelerando a transição energética mundial!

O blockchain é normalmente relacionado com criptomoedas. Mas sabia que essa tecnologia vai acelerar a transição energética mundial? Confira como!

Quanto maior o problema que uma tecnologia busca resolver, maior o seu valor!

As fontes de energias renováveis se tornaram um dos pilares do processo de transição energética e desenvolvimento sustentável em curso no planeta. A produção de energia elétrica com mínimo impacto no meio ambiente e o ganho de eficiência que as tecnologias conseguiram garantir nos últimos anos, sustenta fortemente a trajetória das fontes alternativas dentro da estrutura elétrica internacional. A partir disso, a crescente participação de renováveis no mix energético também gera desafios que, por sua vez, podem ser mitigados através do uso intensivo de tecnologias.

O futuro exige adaptação as novas economias, com as diversas interfaces que a permeiam. Como os movimentos se perpassam, com foco no mercado financeiro e no mundo dos investimentos, também é visto, ações para a incorporação das dimensões ao redor da sustentabilidade, e dos chamados investimentos sustentáveis. A partir da criação dos critérios ESG (Environmental, Social and Governance), incluindo os fatores ambientais, sociais e políticos, foi possível mensurar, e analisar as empresas sob o ponto de vista de suas iniciativas e comprometimento com o meio ambiente, as questões sociais e a governança das mesmas.

As companhias devem sinalizar, cada vez mais, que são sustentáveis – ecológica, social e economicamente. O ESG, portanto, foi criado como uma métrica para avaliar o desempenho das empresas nesta nova conjuntura. O protocolo de Kyoto, formulado por economistas, reflete o quadro amplo do balanço mundial, em que há empresas que possuem débito com a humanidade e outras que possuem crédito, e há também as neutras. A moeda de troca pode ser denominada como sendo o “crédito de carbono”. A relação do ser humano com a natureza, com suas conquistas e consequências, foi que levou à evolução civilizatória. Assim, a utilização dos recursos naturais para o desenvolvimento econômico, deve ser potencialmente acompanhada com a permanência ou melhoria do meio ambiente para as futuras gerações.

Com o movimento ESG, ganhando cada vez mais espaço no mercado financeiro, e transbordando para as ações integrais, em contraponto, são ressaltados algumas dúvidas sobre a efetividade do compromisso das mesmas. Com base nos valores ambientais, sociais e de governança corporativa, o conceito virou sinônimo de práticas responsáveis, porém, nem sempre condiz com a realidade. Com isso, para afastar qualquer suspeita sobre a autenticidade de suas iniciativas, as organizações estão recorrendo a uma espécie de rede de informações digital, a tecnologia disruptiva, blockchain.

A tecnologia, que ficou conhecida com a difusão das criptomoedas, é um sistema que garante a segurança e a transparência das informações, evitando que sofram alterações e sejam alvo de fraudes. O blockchain é como um livro-razão que registra dados digitalmente e de forma descentralizada, devido a tudo que for inserido ficar visível aos participantes da rede. Como não há um arquivo central para ser corrompido, o sistema é inviolável. Nesse sentido, a blockchain também é uma forma de certificar que as organizações realmente estão colocando as suas iniciativas ESG em prática, utilizando a tecnologias como uma ferramenta de transparência, para que os stakeholders consigam comprovar as suas iniciativas.

A tecnologia blockchain, aplicada à áreas diversas, como energia renovável, pode representar um avanço extraordinário, no que se refere a mudança em termos de volume, qualidade e velocidade dos negócios – de um crescimento, para um crescimento fenomenal. Financiar um desenvolvimento sustentável é mais importante do que nunca, trazendo grandes oportunidades, rumo à um mundo regenerativo, impulsionado pela tecnologia.

Na direção de uma economia do “valor”, o mundo está mudando o conceito sobre qual deve ser o objeto das corporações e grandes empresas. Em um significativo afastamento da visão de longa data, em que o objetivo principal de uma corporação é maximizar o lucro para os acionistas, se coloca no lugar, o papel de uma corporação em servir e criar valor para todas as partes interessadas. Na lente do mercado, investir em boas empresas no século XXI é algo que vai além dos múltiplos fundamentalistas, dos lucros e das receitas, das dívidas e dos passivos. Investidores de todo o mundo estão colocando mais fatores na balança ao escolher bons investimentos e uma dessas exigências modernas é a questão das boas práticas de sustentabilidade, sociais e de governança.

Além de ser uma tendência, a adequação ao ESG passa a ser cada vez mais um pré-requisito de competitividade. O mercado financeiro e os investidores rapidamente passaram a dar mais valor ao assunto, por compreenderem que a avaliação de empresas e investimentos, deve obrigatoriamente ponderar sobre as ações que são responsáveis com o meio ambiente e com a sociedade.

A consideração de que quanto maior o problema que uma tecnologia busca resolver, maior o seu valor, se reforça com a blockchain. O uso de tecnologias de registro distribuído vai além da criação de moedas digitais, permitindo que diversos outros obstáculos sejam contornados. No setor elétrico, a tecnologia blockchain pode contribuir para a descentralização dos sistemas, de forma a criar um futuro na direção das transformações, em prol da conectividade, distribuição e compartilhamento. Algumas aplicações da tecnologia blockchain para o setor de energia denotam como a mesma alinha-se com outras tendências do setor, como a geração de energia limpa e a mobilidade elétrica.

Assim, a tecnologia blockchain ao ser aplicada ao setor de energia elétrica, explora as características da tecnologia para criar novos modelos de negócios, além da melhora da eficiência de processos atuais.

Alguns casos de aplicações da tecnologia disruptiva para o setor de energia, são traduzidos pela comercialização de energia de geração distribuída P2P, mobilidade elétrica, certificados de origem, comercialização de energia no atacado e otimização de processos de backoffice, entre outros.

Com relação comercialização de energia de geração distribuída P2P, a ideia é permitir que a energia distribuída gerada, por exemplo, através de painéis solares, possa ser comercializada diretamente (ponto-a-ponto, ou P2P) entre produtores e consumidores, sem o controle direto por parte da concessionária. O conceito foi aplicado pela primeira vez em 2016, num projeto piloto implantado no bairro do Brooklyn, em Nova York. O sistema permitiu a primeira comercialização direta de energia solar utilizando blockchain. A tecnologia utilizada no projeto foi um blockchain de código aberto chamado Ethereum, e a transmissão de energia entre participantes do projeto, se deu através de um microgrid da empresa LO3 Energy, uma startup dos EUA.

No que cerne à mobilidade elétrica, a blockchain pode ser utilizada no contexto de veículos elétricos, possibilitando que as transações de energia, assim como os pagamentos, possam ser realizados através dessa plataforma distribuída. Share&Charge é um piloto de uma Plataforma Aberta de Recarga (ou Open Charging Network, OCN) de veículos elétricos, desenvolvido pela startup alemã MotionWerk, que utiliza a tecnologia de blockchain. Empresas operadoras de pontos de recarga (ou proprietários de eletropostos privados) podem disponibilizar sua infraestrutura de recarga na plataforma, ao passo que motoristas podem utilizar o aplicativo da plataforma para encontrar um entreposto, realizar a operação de recarga e o pagamento com uma moeda virtual própria da plataforma.

Outra aplicação de blockchain no setor de energia está relacionada a sua utilização para o registro da energia renovável, que atualmente é feita através de Certificados de Energia Renovável (ou REC, Renewable Energy Certificates). A utilização de blockchain e Contratos Inteligentes poderia tornar o registro e a rastreabilidade da energia renovável mais automatizada, reduzindo os custos associados com o processo. A EWF (Energy Web Foundation), um consórcio de empresas que produz soluções baseadas em blockchain para o setor de energia, criou o EW Origin, um toolkit de código aberto para a certificação de origem de energia renovável.

Sobre a comercialização de energia no atacado. O Mercado Atacadista de Energia (MAE) é o ambiente no qual são negociados grandes volumes de energia, tipicamente entre geradoras, transmissoras.e distribuidoras. Trata-se de um processo de negociação e comercialização complexo, envolvendo aspectos técnicos, institucionais, legais e regulatórios, que são particulares do sistema elétrico de cada país. O Energychain, um projeto da empresa PONTON apoiado por 40 concessionárias de energia da Europa, utiliza a tecnologia blockchain para criar uma infraestrutura descentralizada para comercialização de energia no atacado. O projeto entrou em operação em 2019 e deve facilitar a comercialização não apenas de energia elétrica, mas também de outras commodities, como óleo e gás.

Para a otimização de processos de backoffice, a aplicação de blockchain também tem sido considerada, fazendo o uso de smart contracts para automatizar partes desses processo, tais como faturamento (automação da geração do faturamento de consumidores e cálculo de crédito de energia para geradores distribuídos), gesto de ativos (registro de ativos do sistema elétrico, incluindo recursos energéticos distribuídos), gestão de segurança (proteção da privacidade e confidencialidade dos dados de clientes, fornecedores e parceiros), entre outros aspectos operacionais.

Os casos mencionados mostram que a blockchain pode ter um papel bastante relevante no setor de energia, potencialmente habilitando novos modelos de negócio, ou melhorando a eficiência de processos existentes. Além disso, por se tratar de um setor essencial para a sociedade, a regulamentação também deve ser adaptada, visando habilitar novos modelos de negócios criados pela tecnologia, mas sem comprometer a segurança, a qualidade e a confiabilidade do sistema elétrico.

São notáveis as inúmeras vantagens que a tecnologia blockchain apresenta, criando uma grande disrupção global, no início do século XXI, e abrindo uma gama de oportunidades para inovações, incluindo o setor de energia como um todo. Nessa nova conjuntura, sustenta-se que a verdadeira revolução, está para além das tecnologias. O foco se pauta na questão da confiança entre todas as partes, permitindo uma vasta quantidade de camadas do sistema, desde as veias e serviços ofertados, as plataformas utilizadas e por fim, os demais agentes. A aplicação contínua da tecnologia blockchain, nas mais variadas áreas, traduz um universo de alternativas para o futuro.

Com a atual conjuntura, para que a introdução e evolução das energias renováveis na matriz elétrica seja sustentável, em termos econômicos, políticos e sociais, as significativas inovações são decisivas – a forma como o setor elétrico elege suas tecnologias e define a sua base técnica, a maneira como organiza a sua cadeia produtiva e as suas empresas, além da escolha das políticas públicas voltadas ao setor. Com as devidas inovações, principalmente com a tecnologia blockchain, a transição energética é potencializada, permitindo vasta gama de possibilidades para o futuro disruptivo da energia.

Alexandra Leontsinis
é Economista, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Economia pela Universidade Federal Fluminense, na área de Economia da Energia; trabalha no Mercado Financeiro, na XP Investimentos e atua em projetos paralelos, no universo da tecnologia blockchain, na Blockforce, organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Blockchain, que oferece consultoria, produtos digitais e serviços integrados para impulsionar projetos de impacto socioambientais em escala.

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