Antes de qualquer coisa quero dizer que não sou simpatizante do Donald Trump, não compactuo em nada com sua visão de mundo, nem com a forma que ele trata as diferenças. Dito isto, vamos olhar para as variáveis da economia norte-americana e, principalmente, para pontos que sinalizados pelo atual presidente podem gerar o tão esperado crescimento da economia, do emprego e da renda nos EUA.
Durante a campanha e em seu discurso de posse no último dia 20 de janeiro, o 45º presidente da história dos EUA – Donald John Trump foi enfático: “Gastamos trilhões e trilhões de dólares além-mar, enquanto a infraestrutura dos Estados Unidos caiu em degradação e deterioração”. É por aí que vem o crescimento e posteriormente poderá vir a recessão. Mas vou tentar explicar melhor o meu raciocínio.
Quando olhamos alguns indicadores da economia americana, segundo dados da Bureau of Economic Analysis (BEA) e pela Bureau of Labor Statistics (BLS) e compilados no último Guide to Markets do banco JP Morgan: a Taxa de Investimento dos EUA em relação ao PIB é de 12,4%. No Brasil essa relação é atualmente de 16% e na China chegou a quase 50% do PIB. Os Investimentos em Infraestrutura durante o governo Obama chegaram no máximo aos 3,0% do PIB e a Idade Média dos Ativos Fixos Privados atingiu 11,4 anos em 2015. Ou seja, em um país do tamanho dos EUA cuja infraestrutura possui relativo grau de obsolescência, há uma grande oportunidade para o operador de política econômica promover um crescimento econômico considerável e produzir grandes consequências.
Mas como o Governo Trump poderia promover mais crescimento e uma sensação de riqueza na sociedade americana? Afinal, no último trimestre a economia dos EUA cresceu 3,5% em termos anualizados e a taxa de desemprego está em 4,7%. A resposta é a boa e velha política do Partido Republicano, já antecipada pelo novo presidente e usada por Reagan e os Bushes em anos anteriores: baixar impostos, investir em infraestrutura (via setor privado e público), atrair investimentos industriais com algum tipo de subsídio e depois… Yes we can! A economia entra em um processo de aquecimento ou até um superaquecimento.
Assim, promover um “superaquecimento” em uma economia do tamanho da dos EUA com uma grande restrição à entrada de imigrantes e uma declarada elevação de taxa de juros por parte do FED (Banco Central dos EUA) poderá gerar efeitos de crescimento consideráveis de curto prazo e um desequilíbrio estrutural no médio prazo.
O nosso cenário base é: imaginemos o aumento da taxa de investimento e da ampliação da infraestrutura privada em solo americano. Como a taxa de desemprego é baixa, a consequência é o aumento real de salários das classes de trabalhadores menos produtivos e com menor qualificação, o que deverá irradiar por toda economia. E como o salário é um preço e um insumo, e a demanda estará aquecida, teremos um aumento da inflação de demanda clássico!
Atualmente a inflação nos EUA é de 2,1% a.a. e já é a maior evolução pelo quinto mês consecutivo desde junho de 2014. Só no quesito custo da energia a inflação subiu 5,4% em dezembro e já havia subido 1,1% em novembro de 2016.
Enfim, o crescimento da economia via formação bruta de capital fixo vai promover um aumento de salários reais e, por consequência, um aumento de preços e ainda o mais desejado pelo setentão Donald Trump: uma sensação da retomada nostálgica do american way of life, que será capitalizado rapidamente para demonstrar o sucesso de seu governo reacendendo o slogan de campanha “America Great Again”. Tudo isso, se bem coordenado, pode durar até 2020, fazendo do primeiro governo Trumpista um sucesso. Assim, poderemos ter um Trump Again – mas mesmo que o magnata consiga com dificuldade ser reeleito, o sucesso não deve durar por muito tempo.
O principal risco, por mais incrível que pareça, é interno. O independente banco central dos EUA o Federal Reserve, deverá ser mais prudente do que vem sendo e pretende evitar um “superaquecimento” da economia americana sendo mais restritivo na política monetária. As expectativas do mercado é que os juros americanos podem chegar a 3% a.a. em 2018, sendo que atualmente a taxa é de 0,75% a.a.. Entretanto, se a inflação mostrar sinais de aceleração, a autoridade monetária poderá agir com mais rigor e desacelerar a economia e os planos de Trump, produzindo efeitos de valorização do dólar.
E por fim e não menos desprezível, há o risco comercial externo. Donald Trump acredita que uma economia cada vez mais fechada (acho que ele não leu David Ricardo), comprando e vendendo de si mesma, principalmente manufaturados, poderá blindar os EUA dos efeitos externos da disputa comercial internacional. E é nesse quesito que ele comete um dos seus maiores erros de discurso e acredito de avaliação. O isolacionismo e o protecionismo tendem a ampliar custos de transação e de produção que devem promover mais inflação interna, criando perda competitiva e gerando novos desequilíbrios na estrutura produtiva norte-americana, pois nas relações internacionais de comércio, o inferno não necessariamente são os outros.
Thobias Silva Economista-chefe da Federação das Indústrias de Pernambuco-FIEPE e Conselheiro Econômico da Veneza Investimentos. Fontes: https://am.jpmorgan.com/us/en/asset-management/gim/adv/insights/guide-to-the-markets http://data.worldbank.org/ https://research.stlouisfed.org/ http://www.tradingeconomics.com/ https://www.whitehouse.gov/transitionsplash/