O que é geopolítica?

Começaremos pelo básico: o que é geopolítica? Para responder essa questão é necessário elaborar sobre o prefixo “geo”. Estamos falando da geografia, que lida com elementos fundamentais e básicos da natureza, por exemplo: relevo, água, clima, etc.

A perspectiva geopolítica

Ao longo da história, diversos pensadores tentaram explicar o mundo a partir do ponto de vista da geografia e da geopolítica. O impacto do clima em conflitos militares é um caso notório, vide fracassadas invasões da Rússia pelas forças napoleônicas e nazistas. A configuração fluvial é outro caso, pois, é fator determinante no desenvolvimento de um país, assim como a configuração oceânica ou a orientação de um continente, Norte-Sul ou Leste-Oeste.

Além disso, temos que distinguir lugar de espaço. O lugar está num âmbito físico, é o ponto onde você se encontra. A partir daí, características diferentes criam espaços diferentes. Pense numa sala de estar, com tamanho, temperatura e luminosidade específicos. Agora, imagine uma cozinha mal iluminada e muito quente porque o fogão está aceso. Dizer que o seu comportamento seria diferente em cada um desses ambientes é uma afirmação plausível.

Dessa forma, pode-se dizer que cada lugar cria um espaço único. O espaço, por sua vez, afeta quem você é (valores) e como você se relaciona com os seus pares (comportamento). Enquanto a geografia descreve o lugar, a geopolítica vai além e explica, a partir do espaço, o surgimento, comportamento e desenvolvimento de uma sociedade. Em suma, a geopolítica é uma teoria de relação espacial e causalidade histórica.

A interação entre geopolítica e economia

Dito isso, pode-se questionar: se a geopolítica é sobre relação espacial e causalidade histórica, qual o papel desempenhado pelos recursos? Os recursos (e a utilidade desses recursos, elementos tradicionais da ciência econômica) são dependentes do tabuleiro do jogo.

Imagine que você está num avião cheio de dinheiro e o avião cai numa ilha deserta. O único sobrevivente é você e o dinheiro encontra-se em meio aos destroços. Alimentar-se é uma necessidade incontornável, como o dinheiro é útil para satisfazer essa necessidade? Ele não é. O tabuleiro do jogo, o número de casas, a sua posição atual e os movimentos possíveis dentro do tabuleiro, todos esses fatores são a geopolítica.

A formação do tabuleiro geopolítico se dá através de características geográficas. Dentre essas características, as primárias são: terra e água. Por exemplo, numa sociedade orientada para o mar, certos valores e acessos serão desenvolvidos. Por outro lado, uma sociedade que vive nas montanhas — o Afeganistão é um exemplo — tem o acesso dificultado e isso prejudica o estabelecimento de relações comerciais.

Em outras palavras, uma sociedade costeira tende a ser mais aberta, com mais comércio e mais trocas de informações. Por outro lado, uma sociedade geograficamente isolada tende a ser mais tradicional, mais conservadora e com múltiplas etnias que não se misturam.

Existem diversas características secundárias, o tamanho de um país é uma delas. Hans Morgenthau [1], um pensador da área de Relações Internacionais, diz o seguinte: “Ao invés do conquistador engolir o território e ganhar força, o território engole o conquistador e retira sua força”. Um exemplo dessa ideia é, novamente, a Rússia. O país pode se dar ao luxo de permitir que o conquistador adentre o território, pois, essa é sua vantagem competitiva em relação aos oponentes.

Outras características secundárias são: fronteiras e, consequentemente, vizinhos. Rússia, que tem fronteiras com dezenas de países, e EUA, que só tem dois vizinhos, são diametralmente opostos. Essas diferenças impactam o nível de insegurança e tensão a respeito de eventuais conflitos, por exemplo.

Geopolítica e relações diplomáticas

As características geográficas têm desdobramentos para a política externa de um país. Grosso modo, países muito pequenos têm duas posturas opostas, são pacifistas ou assertivos. Israel e da Suíça são países pequenos e semelhantes, apesar de a opinião popular dizer que a Suíça é um país neutro.

Assim como em Israel, toda a população suíça vai para o exército. Trata-se de um país preparado para a guerra. Numa eventual invasão, a própria população é a força militar de defesa, corroborando a tese de que o tamanho de um país (também) determina o seu comportamento.

A localização geográfica impacta até mesmo a relevância internacional de um país. O Brasil, cujo grande objetivo recente foi alcançar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, é um exemplo.

Quando Obama ainda ocupava a presidência dos EUA, Brasil e Índia tentaram conquistar o apoio americano ao assento do Conselho. Posteriormente, os EUA declararam apoio à Índia e não ao Brasil. Por quê? A localização do Brasil não lhe confere relevância relativa, quando comparado à Índia. O país asiático é vizinho do Paquistão, o único país islâmico que tem a bomba atômica. Está próximo do Afeganistão, diretamente envolvido em conflitos com os americanos e ainda é vizinho da China, que é o maior rival dos EUA na atualidade. Em contraste, o apoio ao Brasil se traduziria em vantagens comparáveis? Não.

Pensemos mais no tabuleiro do jogo e menos nos jogadores, pois esse é um princípio fundamental na análise geopolítica.

Notas

[1] Geopolítica – Uma Visão de Mundo, palestra ministrada por Heni Ozi Cukier

Paulo Silveira

Graduando em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e ex-graduando em Economia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Trabalha com gestão de produtos digitais em startups brasileiras. Produz conteúdo sobre economia e tecnologia. Foi um dos vencedores do concurso nacional de resenhas organizado pelo Conselho Federal de Economia em 2017, escrevendo sobre a obra 'Princípios de Economia Política e Tributação' de David Ricardo.
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