O que representa cada ponto do Ibovespa?

O mercado financeiro no Brasil tem muitos protagonistas, e sem dúvida, o Ibovespa é um deles.

Quem nunca ouviu o âncora do telejornal mais popular do país usar sua voz grave para noticiar: “A bolsa brasileira fechou a sexta-feira em… O Ibovespa variou […]”?

Mas você já parou para pensar o que realmente representa o Ibovespa e sua pontuação? Nesse ano, após o índice ter alcançado pela primeira vez – e permanecido – acima dos 100 mil, batendo máximas históricas em sequência, temos aqui um bom incentivo para fazer essa descoberta! 

Porém, não se iluda. Quando o assunto é Ibovespa, quase tudo é possível, e os ganhos históricos quem vem se repetindo nos últimos três meses, podem tornar-se no fóssil pré-histórico de amanhã. Na última semana, por exemplo, não houve recorde, mas apenas um recuo do índice, devido ao salto de valor do dólar (que é uma conversa para outra hora!).

I. Primeiro, o que é o Ibovespa?

Para tentar simplificar as definições que uma googlada nos daria, lembre-se: o Ibovespa é um indicador do mercado de ações. Ou seja, ele reúne o desempenho médio das cotações das principais ações negociadas na bolsa.

Portanto, quando o William Bonner noticiar que o Ibovespa cresceu na semana, isso significa que o nível médio dos preços das ações das empresas também subiram.

Para o mercado, o Ibovespa é um indicador de referência por vários motivos, que se amparam em sua tradição de 50 anos, pela transparência e por refletir muito bem as movimentações (liquidez) dos negócios realizados.

II.   Como o índice é composto?

Embora tenhamos definido o Ibovespa com base no preço das ações no tempo, ele também considera o impacto dos proventos (dividendos, juros sobre capital, etc) pagos pelas companhias aos seus acionistas. Por isso, dizemos que o Ibovespa é um Índice de Retorno Total.

Na prática, o índice é composto por uma carteira teórica formada por ações das companhias listadas e disponíveis para negociação (“free float”) na B3, que devem seguir alguns critérios como:

1) Não ser uma “Penny Stock” com valor de cotação abaixo de R$ 1,00.

2) Deter participação igual ou superior a 0,1% do número das negociações à vista da bolsa.

3) Estar presente em 95% dos pregões (sessões de negociação) da bolsa.

Outros critérios também são considerados na avaliação com base no período de vigência de 3 carteiras anteriores, mas resumidamente, o Ibovespa busca reunir e reavaliar quadrimestralmente as ações das empresas de maior representatividade do mercado brasileiro. E possibilita após esse período alterações em sua composição nos inícios de janeiro, maio e setembro.

Porém, como já sabemos, no mercado há empresas mais valorizadas que outras. Dessa maneira, a carteira teórica do Ibovespa, atualmente com 68 empresas, precisa ser ponderada para que a participação dos ativos seja compatível ao que os investidores estão dispostos a negociar por eles.

Um exemplo que ilustra a ponderação da carteira são as ações do Itaú (ITUB4) maior instituição financeira do país, que possui participação de cerca de 9,2%   enquanto que a Via Varejo (VVAR3) controladora das Casas Bahia e Pontofrio, tem apenas 0,540%. Contudo, vale ressaltar que a participação no índice das ações de uma companhia não pode exceder 20% do total.

Fonte: BM&FBovespa- Carteira vigente do dia 02/12/2019.

III. O que representa os 100 mil pontos do Ibovespa?

Dada a definição e alguns dos critérios de composição do Ibovespa, a pergunta que fica é essa. Mas a resposta é relativamente simples.

Imagine que cada um dos 100 mil pontos tenha o valor R$ 1,00, isso significa que se você comprasse as ações que integram o índice nas proporções por ele utilizadas, teria que desembolsar justamente R$ 100.000,00. E o seu rendimento na bolsa seria idêntico ao do indicador.

Para grau comparativo, no mesmo período do ano passado, o Ibovespa estava na casa dos 88 mil pontos, o que representa nos patamares atuais ganhos de mais de 23%. Só em 2019, o índice acumula uma valorização em torno dos 22% e nesse ano também outro dado histórico foi registrado a bolsa atingiu 1,5 milhão de investidores nacionais, quase o dobro do mesmo período de 2018

O otimismo recente (bullish market, no jargão do mercado) em torno da redução das taxas de juros no exterior e no Brasil, além da expectativa sobre as reformas, que viriam a estimular a entrada de capital estrangeiro no país, é visto como um momento oportuno para o mercado de capitais brasileiro. 

Por outro lado, é válido lembrar que o Ibovespa demorou mais de 12 anos para dobrar seu valor. A primeira vez que atingiu os 50 mil pontos foi em 2007 e para atingir sua máxima histórica de 2008 (73.438 pts), considerando a correção da inflação, precisaria estar valendo 130 mil pontos. 

Enfim, entender um pouco sobre o Ibovespa é compreender mais sobre os movimentos do mercado. Seu comportamento ao longo do tempo é também um ótimo marcador de tendências, que nos explicam muito sobre o passado, presente e referências para possíveis eventos do futuro.

Por isso, fique de olho no Ibovespa ele pode ser muito útil não somente para os investidores, mas para quem deseja amplificar sua visão sobre os mais variados cenários do país.

Vinicius Pacheco                                                                     

Graduando em Engenharia de Produção na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), atua como membro do projeto acadêmico “Liga de Mercado Financeiro FEB”

 

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