Como começou a ser abordado no texto “Um guia para pós-graduação em economia, no exterior”, muitos pós-graduandos em economia, e em áreas afins, possuem o interesse de estudar fora do Brasil. O grande problema vem mesmo depois da manifestação desse interesse, mas especificamente na etapa de concretização.
Será que tenho um currículo bom o bastante? Possuo recursos suficientes para viajar a outro país e me manter ao menos por algumas semanas? Qual tipo de instituição e de país devo escolher? Essas costumam ser as perguntas mais comuns, refletindo muitas das inseguranças e das incertezas, de enorme parcela dos pós-graduandos.
Não obstante, para todas as diferentes perguntas acerca do tema, há uma certeza quase que absoluta: o ganho de know-how em estudar no exterior é enorme e ocorre das mais variadas maneiras. O ganho está longe de ser “apenas” stricto sensu acadêmico, estendendo-se também para o mercado de trabalho, já que nos mais concorridos processos seletivos de grandes empresas a pergunta “Você possui alguma experiência fora do Brasil?” se tornou extremamente comum. É demasiado desnecessário se alongar muito acerca do ganho cultural e pessoal de estar inserido em uma sociedade diferente.
Então, considerando as diferentes perguntas e a única (bem considerável) certeza, é difícil encontrar algum pós-graduando que esteja totalmente indiferente acerca do tema. Alguns ainda não tiveram tempo de pensar no assunto – as disciplinas ilustram bem esse caso -, outras chegaram a pensar somente como um sonho separado por milhas e milhas de distância e claro, há também as que estão vigorosamente focadas nesse objetivo.
Contudo, depois de iniciar a problematização a respeito do tema, qual é o próximo passo para concretizar o desejo de estudar no exterior? O próximo passo consiste na escolha do programa. Grande parte deles consiste, independente de serem na Europa ou Estados Unidos, consiste em um curso que pode durar de quatro a seis anos e com o primeiro ano focado em dar uma base quantitativa e teórica ao doutorando. Assim sendo, todos irão cursar as matérias de micro, macro, econometria e estatística. Depois disso, se o aluno passar nas provas iniciais será possível cursar matérias ligadas às áreas que gostaria de se especializar. Posteriormente, os próximos anos serão dedicados à tese.
Nos Estados Unidos, tais programas são chamados de PhD in Economics e seguem bem o formato descrito anteriormente. Mesmo com os diversos programas ao redor do mundo convergindo para tal formato, na Europa, ainda há uma diferença de nomenclatura. Na prática, porém, as diferenças são pequenas. Universidades como Paris School of Economics, Barcelona Graduate School of Economics, Toulouse, KULeuven, etc. é natural que o aluno que queira seguir para o doutorado tenha que fazer dois anos de mestrado e esse período pode ter vários nomes: M1 e M2 (França), MPhil ou MRes (Reino Unido), MASE (Bélgica), Research Master (vários países), etc.
Nesse caso, o aluno cursa as matérias básicas ditas anteriormente e, caso passe nas provas, pode seguir para o programa de doutorado da instituição, que pode durar entre três e cinco anos. Essa informação referente à nomenclatura é relevante, dado que um aluno que fez graduação e/ou mestrado no Brasil, dificilmente será aceito diretamente para o período de doutorado na Europa sem fazer um ou dois anos do que eles chamam de mestrado. Note, contudo, que nem todos os países europeus seguem essa nomenclatura.
Universidades da Suécia, Suíça, Itália, Portugal e de vários outros países já seguem a nomenclatura adotada nos Estados Unidos. Dessa forma, o candidato que estiver aplicando para uma pós-graduação no exterior deve se atentar para essas idiossincrasias, dado que são relevantes para ser aceito nos programas. Uma regra de bolso que pode ajudar a identificar se o programa segue ou não o padrão adotado nos EUA é ver se o curso de doutorado da instituição tem duração inferior a quatro anos. Caso sim, é bastante provável que você tenha que aplicar para o programa de mestrado.
Uma informação adicional e que vale bastante para a Europa e menos para os EUA é a existência de programas de mestrado que não necessariamente levam ao doutorado. É bastante natural que alunos ingressem em programas com um viés acadêmico, mas que não queiram permanecer na academia. No final, esse tempo adicional estudando serve mais para um sinalização para o mercado e como uma maneira de obter ferramentas quantitativas e teóricas para serem usadas no setor privado, público ou em posições em organizações multilaterais.
Tais programas também podem ser chamados de Master, mas têm vários nomes. Com isso, é importante se atentar para essa idiossincrasia adicional, uma vez que dificilmente tais programas te levarão ao doutorado posteriormente sendo necessário cursar total ou parcialmente o mestrado acadêmico sobre o qual falamos anteriormente. A boa notícia é que você consegue encontrar essas informações no site das universidades facilmente e, quando não, um email para o programa já pode sanar sua dúvida.
Note, além do mais, que há programas de pós-graduação que fogem um pouco da dinâmica dos PhD in Economics. Para os que têm interesse em microeconomia, programas de Applied and Agriculture Economics, Economia Política, Economia da Educação, Políticas Públicas, e Meio Ambiente podem ser interessantes. Por outro lado, caso o interesse seja em finanças e macroeconomia, há também uma série de programas de finanças interessantes. Tais programas prezam pela interdisciplinaridade, de maneira que é bastante usual cursar disciplinas em diferentes departamentos, bem como as do PhD in Economics. É esperado, na verdade, que o primeiro ano seja junto com os dos alunos deste programa. Logo, por mais que exista um forte apelo para a interdisciplinaridade, a base quantitativa é algo bastante comum entre todos eles.
Por fim, para aqueles interessados em temas fora do mainstream, também há alguns programas com viés heterodoxo no exterior. Esse é o caso do mestrado EPOG+ e do programa de doutorado da New School, em Nova York. Para mais informações sobre centros e programas heterodoxos, vale muito a pena visitar o site Heterodox Economics Directory, já que um ótimo mapeamento foi feito pelos seus editores. É importante ressaltar que não esgotamos os programas existentes no exterior, uma vez que é possível encontrar, cada vez mais, cursos com focos bem específicos. Portanto, não hesite em passar horas fazendo buscas! Especialmente se você gostaria de estudar algo fora dos programas mais gerais.
Mateus Maciel
É doutorando em economia na Universidade de Frankfurt.
Lucas Adriano
É doutorando em economia na Universidade Federal de Viçosa e editor do Terraço Econômico.