Muita gente está compartilhando a imagem abaixo como evidência de que as pesquisas eleitorais são furadas, “fake news”. A crítica não tem fundamento e é instrutivo entender o por quê:
[caption id="" align="aligncenter" width="496"]O primeiro motivo é metodológico. A capacidade de uma pesquisa eleitoral captar a distribuição real de votos da população depende do tamanho da amostra (o n° de pessoas entrevistadas) e de como foi feito o processo de escolher onde serão feitas as perguntas. Mas mesmo com a maior e mais representativa amostra, só se consegue uma estimativa de como as pessoas votariam ali naquele momento que foi realizada a pesquisa. Assim, em geral quanto mais próxima do dia da votação é a pesquisa eleitoral, mais podemos confiar no seu resultado.
Logo, não há nenhuma razão para criticar as pesquisas eleitorais tomando uma pesquisa muito antiga como referência. E a pesquisa mais recente e de maior amostra do DataFolha acertou não só que o Bolsonaro ganharia, mas acertou que ele teria exatamente os 55% dos votos válidos que acabou tendo (Fonte: https://glo.bo/2qjs0SV).
Método de pesquisa 1, achismo zero.
O segundo ponto é teórico. A intenção de voto geral da população é o agregado das intenções de voto individuais de cada eleitor. Porém, ao contrário das minhas preferências por coisas simples como queijo ou carne, preferências eleitorais da população podem mudar radicalmente conforme o leque de escolhas que é apresentado a ela.
O chamado Teorema da Impossibilidade de Arrow trata disso e outros temas, não cabe aqui resumir todas as implicações, mas apenas reforçar que tentar compor intenções das pessoas sem ter um leque real para apresentar para elas está sujeito a muitos erros adicionais. Assim, de todos os resultados de pesquisas eleitorais feitas no primeiro turno, o mais incerto de todos era a construção do cenário de segundo turno.
Método de pesquisa 2, achismo zero.
Em resumo, voltar 30 dias no tempo e pegar uma projeção de segundo turno para bater nas pesquisas eleitorais é a forma mais equivocada possível de se tentar uma crítica.
Thomas Conti Mestre e Doutorando em Economia pela UNICAMP. Notas: