Petrobras e as dores da independência

A crise da greve dos caminhoneiros, que assume proporções inimagináveis por muitos e causa desabastecimento no país guarda relação com o modelo adotado pelo Brasil desde a concepção da Petrobras.

A gigante estatal, desde sempre, não apenas distribui os combustíveis no país, mas também define os preços deles. E a política de preços da Petrobras tem oscilado bastante nesta década. No quadriênio 2011-14, passou a praticar preços abaixo da paridade de importação, com o fim de deixar a inflação mais baixa, visando atender necessidades políticas. Neste período, a companhia acumulou perdas de mais de US$ 40 bilhões. A ingerência política e os casos de corrupção apurados e de conhecimento público não entram nesse cálculo de resultado operacional.

A partir de 2016, sob nova gestão, o cenário monopolista começou a mudar. A Petrobrás recuperou credibilidade e valor de mercado, assumindo políticas mais independentes em relação ao governo federal. Sua gestão era saudada por todos, investidores internacionais e acionistas minoritários. A Petrobrás voltou a ser a mais valiosa dentre as empresas brasileiras listadas em Bolsa.


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Em meados de 2017, anunciou uma nova política de preços com possibilidades de ajustes diários. Desde julho, o petróleo subiu 60% e o real desvalorizou-se em 12%, acarretando num aumento de 50% nos preços do diesel nas bombas de combustível. Pois a alta nos preços levou a uma reação de proporções gigantescas de parcela na sociedade, agravada pela greve dos caminhoneiros, de fácil empatia para o público em geral e para políticos populistas em ano eleitoral. O fato de o Brasil ter seu modal de transportes concentrado no modelo rodoviário para escoamento da produção levou o país à beira do colapso.

O acordo anunciado pelo governo implica na redução e congelamento de preços. Mesmo que os prejuízos da Petrobras com essas medidas venham a ser ressarcidos em grande medida pelo Governo Federal, isto é, pelo contribuinte, a companhia volta a se ver comercializando combustíveis abaixo da paridade de importação, gerando incertezas para o futuro e jogando uma pá de cal nos que sonhavam com uma maior independência da Petrobras.

Gerson Caner Colaborador do Terraço Econômico Artigo original em: https://www.linkedin.com/pulse/petrobr%C3%A1s-e-dores-da-independ%C3%AAncia-gerson-caner/

Gerson Caner

Mestre em Administração com ênfase em Finanças Comportamentais e graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (FEA-USP, 1992). Possui MBA em Finanças (USP) e diversos cursos de especialização realizados no Brasil e Exterior (FGV, Insper, Universidade Nova de Lisboa, London School of Economics). Atuou como economista do Grupo Votorantim e como diretor de Fusões e Aquisições e Mercados Emergentes na consultoria Ernst & Young, onde foi responsável pelo programa Empreendedor do Ano. Atualmente é professor de Finanças Corporativas, palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais e consultor de Investimentos (possui certificação ANCORD). Também é pai do pequeno Theo, o que só aumentou seu interesse por Educação Financeira e Finanças Pessoais.
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