A crise de 2007/2008 teve grande impacto sobre a política monetária em todo o mundo, mas essencialmente sobre a maior economia do planeta. Os Estados Unidos, como meio de incentivar a atividade econômica, levaram suas taxas de juros a patamares virtualmente iguais a zero, situação que permaneceu assim até bem recentemente. Ao final de junho de 2006, a taxa era de 5,25% ao ano. A partir de dezembro de 2008 passou a ser de 0,25% ao ano e ficou entre isso e 0,75% até dezembro de 2016, quando retornou a subir. O patamar atual é de 2,5% ao ano.
Desde o final de 2017, várias apostas têm sido feitas quanto ao número de vezes que o FOMC aumentaria a taxa de juros básica americana. No entanto, o que se tem perguntado é sobre o motivo de tal política e como esta decisão impacta o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento.
A política monetária do FED é feita por meio de três instrumentos: taxa de juros básica da economia (Federal Funds Rate), treasures (compra e venda de ativos) e comunicação, com o comprometimento de maximizar o emprego, ou seja, atingir o pleno emprego, estabilização de preços e controle da taxa de juros de longo prazo.
Dessa forma, desde a crise de 2008, a autoridade monetária americana adotou a política do Quantitative Easing, que tinha como principal objetivo aquecer a economia americana mediante a queda da taxa de juros de curto prazo. Para o Brasil, o QE provocou uma apreciação da moeda nacional, aumento do consumo de crédito e diminuição da taxa de juros impulsionada pela queda da inflação.
Com esta política, a economia americana conseguiu retomar o crescimento, mas a preocupação se voltou para o controle da inflação, pois em tempos de aquecimento econômico, o aumento dos preços deve ser monitorado impreterivelmente. Por esta razão, a partir de 2015 o FED começou sinalizar que o momento seria de graduais elevações na taxa de juros americana (política conhecida como tapering) e, desde então foram realizados oito aumentos nesta taxa, chegando a 2,00%-2,25% em setembro de 2018.
No Brasil, estas elevações da FED Funds trouxeram volatilidades expressivas na taxa de câmbio, principalmente no ano de 2018, em que já se tinha um cenário interno de bastante incerteza política. Assim sendo, antes de entender o motivo do impacto do aperto monetário norte-americano sobre a economia brasileira, é preciso saber que o BCB, diferentemente do FED, gere a política monetária por intermédio do regime de metas de inflação, que por meio das expectativas dos agentes em relação a inflação brasileira, se estabelece uma meta de inflação para o controle do nível de preços.
O instrumento de polîtica monetária utilizado pela autoridade monetária neste caso é a taxa de juros de curto prazo (Selic), que em reuniões do COPOM define-se uma meta para esta taxa, com o objetivo de ajustar as expectativas dos agentes a meta de inflação pré definida.
Com isso, depois que o FED começou a subir a taxa de juros, os investimentos americanos ficaram mais rentáveis devido ao retorno maior e risco mais baixo se comparado ao Brasil (no mesmo período com a estabilidade da inflação, o BCB começou a reduzir a Selic), ou seja, ocorreu fuga de capital no Brasil que se intensificou devido a incerteza sobre os rumos da economia brasileira com as eleições, colaborando ainda mais para a volatilidade cambial no país.
No cenário atual, as autoridades americanas voltaram a se debruçar sobre a questão da trajetória das taxas de juros por lá. Enquanto no mês de novembro não foram criados o número de empregos nos EUA que se tinha projetado – sinalizando o que o FED já tinha dito há alguns dias de que a quantidade de aumentos na taxa de juros se reduziria – para o mês de dezembro a criação de empregos superou as projeções. Isso, na prática, mostra que o caminho não será tão simples daqui em diante, pois o equilíbrio entre aumento da taxa de juros e continuidade do crescimento econômico é bastante difícil de ser previsto.
Para o Brasil, esta notícia é positiva, pois com a inflação em expectativas ancoradas em proximidade da meta, o mercado não enxerga aumento da Selic pelo Bacen e a taxa de juros americana estabilizada, os investimentos no Brasil tendem a aumentar (isso levando em consideração que o ajuste fiscal será feito). Atualmente temos o menor patamar nominal de juros de toda a série histórica: desde março de 2018 estamos em 6,5%, sendo que menos de dois anos antes (setembro de 2016) passamos a observar redução do arranha-céus de 14,25%, nível no qual nossa taxa básica de juros permaneceu por pouco mais de um ano seguido.
Em termos práticos, os rumos econômicos da maior economia do mundo sempre impactará os outros países, principalmente se forem emergentes, como é o caso do Brasil. Ainda assim, não se podem deixar de lado características específicas de cada país a respeito, por exemplo, do ponto do ciclo econômico em que cada um se encontra.
Quanto ao ponto do ciclo econômico, Brasil e Estados Unidos encontram-se, segundo analistas, em posições opostas. Por aqui, saímos engatinhando da maior crise de nossa história (2015-2016) e, portanto, devemos estar próximos a um novo ciclo de crescimento (que pode ser reforçado por políticas liberais até então propostas). Na terra do Tio Sam, analistas preveem que no máximo entre o final de 2019 e o início de 2020 deve se iniciar a próxima crise.
Isso coloca o Brasil como sendo uma grande oportunidade de investimento neste ano e no próximo. Mas, é sempre importante frisar, tudo dependerá por aqui do quanto reformas estruturantes gerarão de impacto real e, por lá, de quando a próxima crise virá.
Quando a próxima grande crise vier, é claro que seremos afetados. Mas nossa capacidade de resistir – e sair dela, esperamos todos, de forma sustentada -, será definida pelo intervalo compreendido entre o agora e o início do tsunami que está sendo previsto.
Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico
Jéssica Martins – Graduada em Economia Empresarial e Controladoria pela FEA-RP/USP