João Frederico Paredes
Não estou aqui para discutir o bem e o mal. Vou deixar isso para os psicólogos de plantão. Eu sou um economista. Quero saber se isso faz sentido. Quero saber o porquê e como prevenir. Até você pode cometer um crime. Mas tem que valer a pena. Esse pequeno pensamento que você faz para decidir se vai cometer ou não leva em consideração quatro pontos:
Qual o ganho de se cometer o crime?
Só está se cometendo um crime, indo contra alguma lei, se existe algum benefício para o infrator. E esse ganho é algo relativo: imagine que você está com muita fome e está sem dinheiro e você pensa em roubar 1 pãozinho que custa R$1,00. Para você ele vale muito mais do que para outra pessoa que está alimentada. E os ganhos podem vir de coisas além do ato criminoso em si: quantos jovens já não cometeram crime para se destacarem junto a seus amigos? Como por exemplo, roubar um tênis descolado do playboy que “perdeu”? Este ganho social também é levado em conta.
Qual o custo de ser pego?
Pouco adiantaria roubar R$1000,00 se eu ficar 50 anos na cadeia por isso. Então o custo de ser pego pode ser medido pelo tempo de cadeia que teria se fosse pego. Tanto que para desincentivar crimes mais graves, eles possuem punições mais graves. Mas existem dois outros custos além da sentença: o custo de oportunidade deste tempo e o custo social. Imagine que você tem uma família, filhos e emprego. Para você, cometer um crime seria mais custoso do que se você estivesse desempregado e sem filhos. Tecnicamente você tem menos a perder e poderia arriscar com o crime. E assim como existe um ganho social, existe um custo social: seu círculo de amizades pode desaprovar o seu ato e afastá-lo, assim como dificuldades em arranjar emprego e esse possível “ostracismo social” desestimula o ato.
Qual a probabilidade de ser pego?
Já reparou que diante das câmeras e radares as pessoas não ultrapassam semáforo vermelho ou nem andam acima do limite de velocidade? Onde você preferiria cometer um assalto, onde não tem ninguém vendo ou na frente de um policial? O custo em questão só se materializa se outros estão vendo, então quanto maior a chance de ser pego, menos inclinada a pessoa estará em cometer um crime. Se a polícia federal consegue investigar e encontrar corruptos, parece que a chance de ser pego está aumentando. Ou seja, mais provável eles sofrerem os custos e assim menos irão cometer crime no futuro pensando nessa chance. Menor a corrupção.
Alinhamento pessoal com a lei
Se você não achar que infringir a lei em questão é errado por não concordar com ela, você estará muito mais inclinado a cometer este crime. Se você não acha errado atravessar a rua fora da faixa, vai continuar atravessando fora da faixa. Talvez se tivesse um custo não cometesse, mas talvez continuaria a fazer se não vissem você fazendo. Quanto mais você se identificar com a lei, maior o custo de quebra-la e ficar em crise com seus próprios valores.
Esses 4 fatores em conjuntos poderiam ser quantificados e colocados na seguinte equação:
Se a vantagem do crime for positiva, a pessoa cometerá o crime. Caso contrário, não irá. E como entra a moral nessa equação? Então, como a moral é mais difícil de se quantificar, pode-se dizer que ela estabelece os limites para a vantagem, um valor mínimo para quebrar a lei. Para uma determinada lei que a pessoa tem grande identificação, por exemplo, não matar, ela só cometeria o crime se a vantagem do crime for muito acima de um determinado patamar.
Como diminuir o crime? Atacando algum dos 4 pontos que coloquei. Seja diminuindo o ganho social do crime e aumentando seu custo condenando socialmente amigos infratores, ou então aumentando a sentença e melhorando a vida das pessoas para aumentar o custo de oportunidade; ou então aumentando a fiscalização, patrulhamento e diminuição da impunidade; ou então mudando a percepção do que é errado e o que não é.
Qual você acha a melhor maneira de reduzir o crime? Qual sua prioridade? Como você mudaria a equação dos outros?
Pausa para reflexão: até onde vale a pena investir em fiscalização? Será que vigiar 100% a todo o momento em todos os lugares valeria a pena? E se a multa de todos os crimes fosse gigantesca, como parar em lugar proibido for mais de R$10 mil? Ou então todos os crimes tivessem prisão perpétua?
João Frederico Paredes* Formado em economia no Insper, trabalha com tecnologia financeira no Moip. Texto originalmente publicado no Medium (ver aqui)