Por que é equivocado usar a expectativa de vida para os cálculos da Previdência?

Muita gente usa o argumento de que, no Brasil, a expectativa de vida é muito próxima a 65 anos em certos estados. Sendo assim, seria uma temeridade colocar uma idade mínima para aposentadoria próxima disso. O problema deste argumento é: a idade de expectativa de vida, na verdade, se refere à expectativa de vida de uma criança que acabara de nascer.

Espera-se que uma criança maranhense, ao nascer, viva por 70,6 anos. Essa mesma criança ainda vai passar por todos os riscos de morte ao longo de sua vida. Contudo, espera-se que uma pessoa, também do Maranhão, que atingiu os 20 anos, viva por mais 53,2 anos.

Em outras palavras, o indivíduo de 20 anos, em 2019, já passou por todos os riscos de morte até atingir essa idade. Um recém-nascido, por sua vez, ainda passará pelos mesmos riscos. Logo, se somarmos os 20 anos que este indivíduo já viveu aos 53,2 anos que ele ainda espera viver (sobrevida), o mesmo viverá, em média, por 73,2 anos. A cada fase da vida superada pelo indivíduo, há um ganho a mais por ele ter passado e alcançado idades mais velhas.

Um cidadão maranhense aos 65 anos tem uma expectativa de viver mais 17 anos, chegando assim à idade de 82 anos. Ou seja, 11 anos a mais que a expectativa de vida ao nascer.

Essa diferença entre idade de expectativa de vida e de sobrevida é significativa devido, principalmente, às taxas de mortalidade infantil, que acabam “jogando” a expectativa de vida para baixo.  

Portanto, é por isso que não se deve confundir expectativa de vida ao nascer com sobrevida. Quando nos referimos à Previdência, o correto é usar a idade de sobrevida aos 65 anos, que é a idade com que se passa a receber o benefício previdenciário. Neste quesito, a idade média de sobrevida no Brasil aos 65 é de 83,6 anos. Em Rondônia, por exemplo, a idade média é de 81 anos, a menor entre os estados brasileiros. No Espírito Santo, estado que apresenta a maior média, trata-se de 85,3 anos.

Raphael Vianna da Silva

É graduando em Economia pela Universidade Federal Fluminense e Coordenador de comunicação do PET Economia-UFF de Niterói. Twitter: @raphawel

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